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Segurança do Rio em ‘metástase’ generalizada

Comissão Popular da Verdade critica intervenção; ministro reconhece violência

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"As operações policiais que antes duravam duas horas, agora duram 12. Temos mais tiroteios, e — pior do que isso — mais chacinas. A violência é grande em todo o estado, mas a vulnerabilidade dos moradores das favelas é maior. São ameaçados pelas forças de segurança e pelos criminosos. E a intervenção? Só aumentou tal vulnerabilidade". A afirmação é de Virgínia Berriel, integrante da Comissão Popular da Verdade (CPV). Ela apresentou, ontem, um relatório elaborado pelo órgão  em parceria com outras organizações, como o Observatório da Intervenção. O documento reúne uma análise dos cinco meses de intervenção federal na segurança pública do Rio e atesta o aumento de episódios violentos e tiroteios em todo o estado.

Segundo o levantamento, parcialmente baseado em dados do Observatório da Intervenção, desde o início da ingerência militar na segurança pública do Rio, foram registradas 28 chacinas. O índice de matanças, de três pessoas ou mais, aumentou 80% em comparação ao registrado entre fevereiro e junho do ano passado. “As mortes em chacinas (...) foram majoradas em 128%”, destaca um dos trechos do relatório. 

Ao todo, o Observatório da Intervenção monitorou 280 operações — 94 delas realizadas pelas forças de segurança em ações conjuntas das polícias militar e civil e do Exército. No cômputo geral, registraram-se 260 armas apreendidas e a presença de 105 mil agentes envolvidos. 

Com a intervenção federal, o número de tiroteios chegou a 4.005 ocorrências na Região Metropolitana — 37% a mais do que o verificado nos cinco meses anteriores, quando o aplicativo colaborativo Fogo Cruzado computou 2.924 eventos; e 60% a mais que no mesmo período de 2017, quando houve 2.503 notificações. Os tiroteios deixaram 637 mortos e 526 feridos. 

Os números mais alarmantes vêm da Baixada Fluminense. Em Belford Roxo,  houve um aumento de 161% na quantidade de tiroteios entre fevereiro e junho deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. Em Mesquita, o percentual desse indicador cresceu 168%. A incidência de pessoas mortas por armas de fogo também foi maior naquela região. Belford Roxo verificou um incremento  de 55% no número de vítimas, enquanto Duque de Caxias contabilizou 67% a mais. 

Os dados de letalidade violenta também tiveram crescimento na comparação com o mesmo período de 2017 — 5%. Na comparação do período atual com o anterior à intervenção, houve redução de 2% neste tipo de crime. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), foram 2.358 vítimas no estado entre março e junho de 2018.

A situação da violência no Rio de Janeiro foi um dos temas abordados pelo ministro da Segurança Pública Raul Jungmann, ontem, durante evento em São Paulo. “O Rio vive uma metástase. O crime organizado começa a ter projeção na política, nas polícias, no Estado, e eu diria que toda essa coisa se reflete no crime da Marielle”, disse Jungmann, em referência à execução da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, em março passado, um crime ainda não elucidado. 

Apesar dos problemas, o ministro defendeu a intervenção: “O Rio vive uma crise econômica, fiscal, moral. Tem 830 comunidades controladas pelo crime, 1,1 milhão de cariocas vivem na mão da milícia, do tráfico, do crime. A intervenção se impôs como necessidade”.

Recomendações 

Seis recomendações são citadas no relatório da Comissão Popular da Verdade  para evitar a violação de direitos humanos nas favelas: não utilizar o “caveirão aéreo” durante as ações; divulgação dos gastos da intervenção federal; investigação dos casos de mortos e feridos nas operações militares; identificação dos agentes que participam das ações; adoção de estratégia de segurança pública que assegure os direitos dos moradores das favelas; e adoção de medidas de prevenção à violência com estratégias de inteligência.