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Moradores do Jardim Botânico mudam hábitos por medo da violência, mas índices estão em queda

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O bucolismo do bairro que abriga uma parte da Floresta da Tijuca, o Parque Lage, e o histórico Jardim Botânico está abalado. Em meio à região privilegiada com uma das mais belas áreas verdes e preservadas da cidade, a população se diz amedrontada com uma onda de assaltos. 

Esta semana, moradores receberam, via grupo de Whatsapp, imagens de um assalto com homens fortemente armados, que invadiram uma hamburgueria na Avenida Alexandre Ferreira. Se antes do episódio assustador os moradores já estavam mudando seus hábitos, agora estão sendo mais radicais. Levar as crianças para brincar nas pracinhas, só até as oito da noite. Aguardar o ônibus no ponto em frente ao Parque Lage, só acompanhado. E caminhar pelas vias do bairro sozinho depois das nove, nem pensar.

“Trabalho aqui há 18 anos e nunca tinha ouvido tanta gente dizer que foi assaltada como tenho ouvido recentemente. Há poucos dias, uma cliente não só foi roubada por um homem armado de bicicleta como também foi ameaçada de levar uma facada. Isso nunca foi comum por aqui”, conta a jornaleira Cirlene Silva, de 52 anos, que mantém uma banca na Rua General Tasso Fragoso, que liga os bairros da Lagoa e do Jardim Botânico. 

Ela classifica o policiamento por ali como raro e, para se resguardar, guarda no bolso um telefone de agente do programa Lagoa Presente. 

Na Praça Sagrada Família, a professora aposentada Beatriz Petry, de 62 anos, não passeia mais com o cachorro e seu neto depois das 20h. Os últimos assaltos, na vizinhança, a fizeram mudar de rotina. “Eu gostava de caminhar de noite, andar pelo bairro, mas isso se tornou impossível. Evito descer com meu netinho para evitar o pior”, diz.

Seu vizinho, o advogado Igor Tostes aponta uma outra preocupação: “Os porteiros não param de comentar as invasões a prédios e os estabelecimentos comerciais também vêm sendo frequentemente roubados. A situação está desenfreada”.

Mais adiante, já na Rua Jardim Botânico, aguardar o ônibus no fim da tarde sem ser assaltado tornou-se uma missão quase impossível. É o que contam trabalhadores daquelas redondezas, como Claudia Oliveira Santos, de 56 anos. “Não tem como esperar o ônibus sozinho sem ficar olhando para os lados. Mesmo assim, tem gente que é roubada. Aqui na Rua Jardim Botânico, os marginais fazem qualquer coisa por um celular”, relata. 

Psicanalista de uma clínica na mesma rua, Cláudio Campos, de 72 anos, conta que alguns ladrões têm preferido coagir a população na mureta do Parque Lage. “Há menos de um mês, um homem colou nas minhas costas. Virei instintivamente, e ele desistiu. Foi sorte, porque é comum as pessoas serem assaltadas naquele muro”, conta.

Responsável pela distribuição de policiais na região, o coronel Ruy França, comandante do 23º BPM (Leblon), alega que os assaltos têm sido pontuais e não há motivo para pânico. Ele conta que os crimes de roubos de veículos são sua prioridade.

“O Jardim Botânico tem uma tradição de roubo de carros, mas estamos trabalhando cada vez com mais afinco para reduzir isso. Também temos uma estratégia para combater o roubo de rua. Os números dessas ocorrências vêm caindo. Então, a população deve ficar tranquila. Nosso posicionamento de viaturas é estratégico”, diz ele, amparado pelos dados do Instituto de Segurança Pública.

Os números mostram queda de registros de crimes da 15ª DP (Gávea), distrital da área que atende, entre outros bairros, o Jardim Botânico. Houve queda no número de roubos de rua (soma de roubos a transeunte, coletivo e celular), em comparação feita entre o primeiro semestre deste ano e o mesmo período do ano passado. Foram 183 crimes em 2017, contra 149 este ano. 

Já o número de registros de roubos de carros se manteve praticamente o mesmo do ano passado para este ano. Foram 43 casos em 2017, contra 45 no primeiro semestre deste ano. Diante da oposição entre os relatos de moradores e os números do ISP, coronel França reconhece que há possibilidade de subnotificações, que maquiam as incidências de crimes. “Muita gente não registra, na delegacia, crimes como roubo de celular Com o roubo de carros é o contrário, porque envolve seguro”, ressalta.