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Operação na Maré deixa sete mortos

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Uma operação com cem homens de uma força tarefa da Polícia Civil, com apoio do Exército e da Força Nacional, na Favela da Maré, resultou na morte de sete pessoas, ontem. O adolescente Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, que havia sido ferido na barriga, na hora em que ia para a escola, chegou a passar por cirurgia para retirada do baço, no Hospital Estadual Getulio Vargas, mas no fim da noite de ontem acabou falecendo. 

Na versão da polícia, seis das vítimas teriam recebido os agentes de segurança à bala, que teriam entrado em duas casas para cumprir mandados de busca e apreensão. Diretora da ONG Redes Maré, Eliana Souza Silva põe em xeque a justificativa da polícia para as mortes. “Cinco dos seis jovens que foram mortos estavam numa casa na Via 41, na Vila dos Pinheiros. Ninguém presenciou essas mortes. Quando há operações com todo esse aparato bélico, todo mundo fica preso em casa. Nesse ambiente de terror, não se consegue reunir provas. A versão da polícia sempre diz que as pessoas estavam envolvidas com irregularidades e que ela foi recebida a tiros, ou seja, é sempre a mesma versão. Não houve qualquer testemunha dessas mortes, a não ser os próprios policiais que as cometeram. É muito leviano não ter testemunhas e só uma versão ser considerada. Esse tipo de versão precisa ser investigada. É muito grave naturalizar essas mortes”, afirma a diretora da ONG Redes Maré.

Segundo o portal de notícias “G1”, cinco homens chegaram já mortos ao Hospital Federal de Bonsucesso (HFB). Uma outra vítima fatal também foi registrada no Hospital Getulio Vargas. O “G1” informu, ainda, que um dos objetivos da operação era procurar suspeitos da morte do inspetor Ellery de Ramos Lemos, chefe de investigações da Delegacia de Combate às Drogas (DCOD), em Acari. Já a assessoria de imprensa da Polícia Civil justificou a operação afirmando que “teve como objetivo cumprir 23 mandados de prisão decorrentes de investigações da DCOD e da 39ª DP, além de checar na região informações obtidas através do setor de inteligência da PCERJ”. Na nota da Policia Civil, afirma-se que “com os bandidos, os agentes apreenderam quatro fuzis 5.56mm, oito carregadores, duas pistolas (.40 e 9mm), quatro granadas, farta quantidade de munição de fuzil e pistola, 1.832 pinos de cocaína, 75 sacolés de maconha, cerca de 2 quilos de cocaína, além de ferramentas para arrombamento de caixas eletrônicos”.

‘Caveirão voador’

Os agentes utilizaram na operação  um helicóptero conhecido como “Caveirão Voador”. Moradores relataram que policiais dispararam tiros de dentro do helicóptero, o que, de acordo com o Observatório da Intervenção,  do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, é uma ação totalmente ilegal. 

A operação começou por volta das 9h, na Vila do João e na Vila Pinheiros, espalhando-se por outras localidades da Maré, como Nova Holanda e Parque União. Eliana Souza Silva, da Redes da Maré, disse que o mesmo tipo de helicóptero esteve presente numa ação policial na semana passada: “Trata-se de um  helicóptero sendo utilizado como plataforma de tiro. Isso é inaceitável, porque, num lugar de 4,5 quilômetros quadrados, onde moram cerca de 140 mil pessoas, as chances de letalidade são enormes. Relatos que nos chegaram mostram que, na semana passada portas, janelas e telhados foram atingidos pelos tiros desse helicóptero. A lona cultural da Maré também foi atingida”.