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PM mata mais com intervenção

Instituto de Segurança Pública registrou em abril aumento de 26,3% em relação ao mesmo mês em 2017

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Dados divulgados, ontem, pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) de certa maneira refletem as informações publicadas na véspera pelo aplicativo Fogo Cruzado, dando conta de que nos últimos três meses de intervenção federal no Rio houve um aumento de 25,3% no número de tiroteios registrados na Região Metropolitana, em relação ao trimestre anterior: foram 2.309 ocorrências contra 1.842, uma média de 25,9 por dia. Daquelas, apenas 350 teriam tido a presença da polícia no momento dos disparos, de acordo com o levantamento do aplicativo. Mas o ISP mostra que embora a incidência, neste caso, corresponda a 15% dos episódios, o resultado dessas ações foi deletério: o número de mortes cometidas pela polícia do Estado do Rio subiu 26,3% em abril na comparação com o mesmo mês no ano passado. Segundo o braço estatístico da Secretaria de Segurança, foram 101 registros oficiais de “homicídio decorrente de oposição à intervenção policial”, contra 80 em 2017. Ou seja, levando-se em consideração esse indicador específico, a violência no Rio vem aumentando com a medida adotada para a segurança pública do estado pelo presidente da República, Michel Temer.

Ontem de manhã, mais uma vítima da estratégia do confronto foi velada na cidade. Francisco Nunes de França, 75 anos, conhecido na Rocinha como o Ciclista Pipoca, foi enterrado no Cemitério do Caju, na Zona Norte do Rio. O ciclista foi morto por uma bala perdida que o atingiu na segunda-feira, durante um confronto entre a polícia e traficantes na favela.

A chamada letalidade violenta, que engloba, além das mortes em ações policiais, os homicídios, roubos seguidos de morte e lesões corporais seguidas de morte, também cresceu no mês passado em relação a abril de 2017: foram 592 casos ante 539, um aumento de 9,8%.

No segundo mês de intervenção federal cujos números são divulgados por completo — a medida foi decretada no dia 16 de fevereiro, como forma de conter a violência no estado — pela primeira vez no ano o roubo de veículos teve queda em relação ao mesmo período de 2017. Foram 4.657 registros, redução de 4,8% na comparação com os 4.891 do ano passado. O número caiu mais ainda ante março de 2018 (701 ocorrências a menos). A diminuição de roubos se deu especialmente na Baixada Fluminense, em municípios como Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis e Duque de Caxias. Considerados um dos crimes mais preocupantes atualmente no estado, os roubos de carga também foram reduzidos, em 13,6%. 

Os roubos a residência encolheram 18,9%. Os roubos a transeunte, de aparelho de telefone celular e em coletivos diminuíram 12,6%. Neste particular, a morte da jovem Soraia Lemos de Macedo de 17 anos, na noite de terça-feira, vai engrossar a estatística do indicador na contagem deste mês. Soraia foi assassinada em tentativa de assalto na Ilha do Governador, em circunstâncias ainda não esclarecidas pela polícia: ela teria sido morta por não conseguir destravar a tela do celular ou por ter reconhecido um dos dois ladrões que a abordaram. Ontem, ela foi sepultada no Cemitério da Cacuia, no mesmo bairro da Zona Norte. Após o enterro, amigos e familiares da jovem saíram em passeata até a 37ª Delegacia Policial (DP) exigindo justiça e paz nas ruas.

Dois PMs mortos em menos de 24h 

O indicador de letalidade de maio somou dois casos de policiais militares mortos no Rio em menos de 24 horas, entre a manhã e a noite de quarta-feira. Com eles já são 50 os policiais militares mortos no estado em 2018. Por volta das 7h de quarta, o sargento Robert Nogueira de Almeida, de 42 anos, trafegava com sua moto Honda CG 125 pela Rua Souto, em Cascadura, na Zona Norte, quando foi abordado por bandidos em outra moto. O policial foi executado com vários disparos, e a moto não foi levada. Segundo a Polícia Civil, os criminosos descobriram que a vítima era policial e, por isso, atiraram. O sargento, que era dono de um depósito de gelo e bebidas na região, não estava armado. 

Por volta das 22h40, o cabo Rafael Silva Estevão, de 34 anos, foi morto durante uma tentativa de assalto na Rua Dezenove de Fevereiro, em Botafogo, na Zona Sul. Ele saía de seu carro quando foi surpreendido pelos criminosos. O PM tentou se desvencilhar, mas foi baleado no tórax e morreu no local. Os ladrões fugiram sem roubar nada. 

Policiais do 2º Batalhão (Botafogo) receberam a denúncia de que havia um homem baleado nessa rua e, ao chegarem ao local, encontraram o cabo já morto. A Delegacia de Homicídios (DH) da capital investiga o caso, mas até a tarde de ontem não havia identificado os autores do homicídio. A vítima ingressou na PM em 2002 e atuava no Centro de Controle Operacional da Polícia Militar (Cecopom). 

Bebê baleado tem alta 

O bebê Caíque de Carvalho, de seis meses, recebeu alta médica no início da tarde de ontem. Ele foi baleado no colo da mãe, na noite de segunda-feira, no pátio do Colégio São Vicente de Paulo, no Cosme Velho, na Zona Sul do Rio, quando aguardava o fim da aula de futebol do irmão mais velho, de 6 anos. A quadra da escola fica perto da comunidade do Cerro Corá, mas a polícia informou que não houve registro de tiroteios na região. O bebê foi submetido na terça-feira a uma cirurgia de duas horas no Centro Pediátrico da Lagoa, para a retirada da bala alojada no ombro. 

Um projétil deflagrado foi encontrado na calçada em frente ao colégio, na tarde de quarta-feira, quando a Polícia Civil realizou uma reconstituição para tentar determinar de onde veio a bala que atingiu o bebê. A bala extraída foi encaminhada para a perícia, que poderá determinar o calibre e até mesmo a distância aproximada do disparo.