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Diversidade construtiva pode garantir título de Capital Mundial da Arquitetura ao Rio de Janeiro

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O Rio de Janeiro está prestes a se tornar a capital mundial da arquitetura. A missão foi delegada à dupla formada pela secretária municipal de Urbanismo, a arquiteta Verena Andreatta, e o presidente nacional do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Nivaldo de Andrade. Os dois viajaram, ontem, para a Cidade do México, onde, até amanhã, acontece um encontro do Conselho Superior da União Internacional dos Arquitetos (Uia), instituição que assinou um contrato com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) pelo qual se criou o conceito de Capital Mundial da Arquitetura. O documento defende que o ideal é que a cidade-sede do Congresso Mundial de Arquitetura deve receber o bem-vindo rótulo. E o congresso será justamente no Rio, em 2020. A Cidade Maravilhosa é candidata única, mas tem de provar que faz jus à denominação. “Vamos para o México com o apoio do Ministério da Cultura, do Itamaraty e do Instituto dos Arquitetos do Brasil. E vamos mostrar nossa imensa diversidade arquitetônica”, disse Verena, que preparou um detalhado powerpoint para expor a defesa da candidatura ao conselho superior da Uia. A expectativa é que, nos próximos dias, a Unesco conforme o título para o Rio.

Os arquitetos brasileiros já têm a apresentação toda traçada na cabeça. “Posso dar vários exemplos, como o Edifício Gustavo Capanema. Quando Le Corbusier (considerado o pai do modernismo) veio vê-lo, ficou extremamente surpreso com o resultado da obra da qual ele mesmo foi consultor”, conta Verena. 

O Gustavo Capanema é uma edificação que, no Brasil, foi levada à frente por Lúcio Costa, o criador de Brasília. Ele mesmo convidou Corbusier para acompanhar o projeto. Outros arquitetos, também convidados por Lucio Costa, também seriam responsáveis pela riqueza arquitetônica da cidade. Oscar Niemeyer assinou, por exemplo, o Hospital da Lagoa e o Sambódromo. Affonso Eduardo Reidy, por sua vez, deu ao Rio o Museu de Arte Moderna, o Parque do Flamengo e o genial conjunto habitacional Pedregulho, em Benfica. Jorge Machado desenhou a Cidade Universitária na Ilha do Fundão. Outros craques como Carlos Leão e Ernani Vasconcellos também integraram o projeto do Gustavo Capanema.

Para o presidente do IAB do Rio de Janeiro, Pedro da Luz, o Aeroporto Santos Dumont, do escritório dos Irmãos Roberto, não pode deixar de ser citado quando se fala em arquitetura moderna do Rio. A obra foi assinada por Marcelo e Milton Roberto. “Outro projeto fantástico dos irmãos foi a Associação Brasileira de Imprensa”, diz Pedro da Luz. 

Mas o Rio não é só modernismo em sua arquitetura. Professora do Pro-Urbe, o programa de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, Fabiana Izaga chama atenção para contemporaneidade do Museu de Arte do Rio, dos arquitetos Paulo Jacobsen, Bernardo Jacobsen e Thiago Bernardes. “No Mar, tem algo de Richard Rogers (arquiteto ítalo-britânico). Há ótimos exemplos do estilo neoclássico, como a edificação onde hoje funciona a Casa França-Brasil feita pelo arquiteto Grandjean de Montigny, vindo com a Missão Artística Francesa em 1816”, diz Fabiana. 

O Rio é também repleto de exemplos do estilo art déco. Na Praia do Flamengo, o Edifício Biarritz o ilustra à perfeição. Agora, mais que perfeito é o prédio da Central do Brasil. “Este, para mim, é o melhor representante art decó da cidade”, acrescenta Fabiana. O difícil é descobrir o melhor símbolo da arquitetura colonial. Os Arcos da Lapa são dignos da designação referente ao Rio do século 18, assim como o Paço Imperial, na Praça XV, para o século 19. Pedro da Luz diz que a Igreja da Glória instalada no outeiro é uma das grandes conjugações entre natureza e arquitetura colonial. “É uma combinação perfeita”, afirma o arquiteto.

A secretária municipal de Urbanismo diz que a arquitetura nas favelas também será exposta ao Conselho Superior do Uia. “A autoconstrução e toda a história da cidade com a reurbanização de favelas contam a nosso favor. É a nossa arquitetura vernacular (arquitetura popular)”, diz Verena.

Nas favelas do Rio, encontram-se casas de pau a pique, como no Morro Chapéu Mangueira, e casas de madeira, como no Morro Santa Marta, ambos na Zona Sul. Esses locais vêm tendo intervenções do poder público desde os anos 1950, o que também influenciou nas suas configurações, a partir da criação de acessos e de construções de conjuntos habitacionais no seu interior. 

Os prédios do bairro de Copacabana também são citados por Fabiana Izaga. Eles foram erguidos a partir dos anos 1940, sob a influência do plano do arquiteto francês Alfred Agache para a cidade: “Copacabana construiu uma urbanidade. O Rio foi capital e, apesar da violência e dos muitos problemas, ainda é uma referência de cultura no Brasil. Aqui há favelas nas áreas mais ricas, art decó, colonial, neoclássico. É só ir varrendo que você encontra uma incrível diversidade arquitetônica”. Conhecida pelas belezas naturais, a torcida agora é para a cidade passar a se orgulhar também de sua estética construtiva.