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Vila Kennedy: intervenção reforça  batalhão, enquanto comércio ainda cobra promessas de Crivella

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Enquanto o Exército anunciava, ontem, a doação de cem fuzis, para o 14º Batalhão da Polícia Militar (Bangu), responsável pelo policiamento da Vila Kennedy, moradores da favela reclamavam da falta de legado social deixado pela intervenção militar. 

A principal queixa foi o não-cumprimento de promessas feitas pelo prefeito Marcelo Crivella. Há dois meses, logo que os militares foram enviados para policiar a área, uma ação da Secretaria de Ordem Pública (Seop) embarcou na ação, e destruiu mais de 40 quiosques instalados na principal praça da região. Em meio a um pedido de desculpas, Crivella prometeu reerguer as barracas e criar linha de microcrédito para que os comerciantes comprassem eletrodomésticos para substituir os destruídos. Até agora, mesmo com a linha de financiamento regulamentada, nenhum centavo foi liberado. 

Considerada o laboratório da intervenção federal, a Vila Kennedy contava com ações de homens do Exército desde fevereiro. O trabalho resultou em 21 prisões em flagrante, recuperação de 844 motos e 791 carros, apreensão de 892 quilos  de maconha, além de cocaína e crack. A partir de hoje, no entanto, a Polícia Militar assumirá, novamente, o comando do policiamento na área. 

Para a comerciante Eliane de Assis, de 37 anos, a intervenção perdeu o foco. 

“O governo não devia se meter com trabalhador. O mais importante era combater a criminalidade, o tráfico de drogas. Mas preferiram chegar aqui destruindo o nosso meio de trabalho. Depois deram um mês de prazo para reconstruir tudo. Não fizeram e deram um novo prazo de três meses”,  reclama a moradora, uma das mais famosas vendedoras de crepe da localidade. “Enquanto isso, a gente se vira como pode. Para diminuir um pouco o nosso prejuízo, prometeram um microcrédito para comprar o que foi perdido. Mas até agora não cumpriram”. Outra que também não economiza críticas contra a ação da Prefeitura é Luciana Damasceno, de 34 anos. Ela manteve, durante 15 anos, um ponto de venda de café da manhã na Praça Miami. 

“O prefeito nos prometeu que em um mês as barracas estariam de volta nos seus lugares. Mas o prazo já extrapolou, e as obras estão lentas. Só para a retirada de entulho, demoraram três semanas. Nos sentimos enganados porque até o financiamento que a gente teria direito, para compra de equipamentos, não aconteceu. Tudo que ganhamos da Prefeitura foi uma tenda, que mal protege da chuva”. 

Com um freezer destruído durante a ação da Seop, o barraqueiro Bruno Moreira conta que ficou endividado com a queda brusca de movimento na praça. 

“Não conseguimos mais ganhar o dinheiro que ganhávamos por mês, porque a praça está destruída. Meu cartão de crédito foi cancelado por falta de pagamento. O microcrédito serviria, pelo menos, para eu comprar um novo freezer. O meu parou de funcionar no dia da confusão”, conta ele, referindo-se ao dia da ação promovida por agentes da Seop. 

Procurada, a assessoria de imprensa da Prefeitura informou que suspendeu temporariamente a abertura de microcrédito para os comerciantes da Praça Miami, porque a montagem dos quiosques será feita gratuitamente. Nada foi explicado sobre a importância do microcrédito para a reposição dos eletrodomésticos estragados durante a ação. 

Sobre o andamento da obra, a Prefeitura  defendeu que tudo está “dentro do cronograma”. O trabalho, segundo nota enviada, está concentrado em reestruturar a urbanização da praça (luz, esgoto, água pluvial), e  deve ser concluído em dois meses.