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Cidadania por um dia 

Vila Kennedy recebe ações sociais da intervenção federal, e Crivella entrega tendas

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Pena que tenha sido só por um dia. Ontem, a Vila Kennedy, na Zona Oeste, até parecia um espaço de cidadania. A intervenção federal, em parceria com o estado e a prefeitura, promoveu diversas ações com o intuito de posssibilitar a inclusão social dos moradores da região. Estavam disponíveis serviços como regularização de documentos de identificação e agendamento para retirar carteira de trabalho, e vacinação contra a febre amarela, entre outros. 

As atividades aconteceram, entre 8h e 16h, espalhadas pelas salas da Escola Municipal Alcides Etchegoyen. A iluminação do corredor da escola tinha uma iluminação intermitente, que deixava o público no escuro. Apesar da boa intenção da iniciativa, a falha elétrica parecia uma metáfora da falta de recursos para a educação e da ausência de cidadania sentida por aquela população no dia a dia. 

População que goza do prestígio de ter, na Praça Miami, uma réplica da Estátua da Liberdade, como se fossem moradores da Barra que frequentam o New York City Center. Mas, longe disso, vivem imprensados entre o tráfico, a milícia e soldados do Exército que circulam hoje pelas ruas, com seus blindados. Alguns deles têm incomodado moradores, embora essa não seja a impressão geral (veja box ao lado).

Novas tendas 

Dando continuidade ao dia de boas ações, também ontem, na Vila Kennedy, a prefeitura finalmente entregou novas tendas a vendedores que tiveram seus quiosques derrubados pela Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), no último dia 9. Diante das críticas recebidas, a prefeitura decidiu regularizar a situação dos comerciantes e ceder a eles tendas temporárias. Foram distribuídas 49 licenças. Dentro de 45 dias, novos quiosques começam a ser instalados. “Mas vamos ter que indenizar a prefeitura, se algum dano acontecer a essas tendas. E os novos quiosques também não serão doados, pagaremos uma taxa pelo seu uso”, conta uma vendedora que ficou sem seu trailer, destruído pela Seop. 

Os refrigeradores que vão equipar os quiosques, contudo, serão doados pela Light. Entre as novidades, relógio para medição do consumo de energia e ponto de água tratada. A Praça Miami receberá novo calçamento, academia da terceira idade e área de convivência e lazer para os moradores, informa a prefeitura.

Tiroteio no Alemão 

A Polícia Militar confirmou que houve quatro mortes no tiroteio no Complexo do Alemão, na noite da última sexta-feira. Balas perdidas fatais atingiram um menino de 1 ano e dois adultos (uma mulher e um homem) de 58 anos, na favela Nova Brasília. Um suspeito também morreu. 

Há outros quatro feridos. Um deles é acusado de começar um confronto com policiais de uma UPP, que reagiram ao ataque, perseguindo os bandidos sob um intenso tiroteio. A Delegacia de Homicídios do Rio investiga o caso. Um fuzil e o Jeep renegade usados pelos criminosos foram apreendidos.

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‘O EXÉRCITO SAI, E A GENTE FICA COMO?’ 

F.A. (as iniciais são fictícias) tem 18 anos e se vira para ganhar um troco cortando cabelo de alguns moradores da Vila Kennedy. Dias atrás, diz ter sido abordado por um dos soldados do Comando Militar do Leste de forma truculenta. “O cara foi me encostando e quase ia apertando minha garganta, querendo saber onde era a boca, se eu sabia onde ficavam os bandidos”, contou. F.A. afirma que boa parte dos soldados faz a abordagem de forma mais gentil, pedindo os documentos e conferindo os dados, mas outros agem de maneira bruta. “Imagina se vou sair por aí dedurando os lugares, as pessoas? Depois o Exército vai embora, e a gente fica como? Querem que a gente apanhe, morra? Isso me dá raiva”, protesta. Um amigo de F. A. também expressa sua revolta. “Quando vejo um soldado fazer alguma judiação, dá vontade de chutar a cara dele. PM então é pior. Mas fico quieto. Vou servir o Exército, e aí quero ver”, desabafa.