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UPPs: projeto bilionário não melhorou dia a dia dos moradores nas comunidades

Pesquisa aponta que, para até 68%, presença da polícia pacificadora "não faz diferença"

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Pesquisa realizada pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes, divulgada nesta terça-feira (22), aponta que os moradores de favelas não veem melhorias após a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas comunidades do Rio de Janeiro, iniciada em 2008. Entre 55% e 68% dos moradores disseram que a presença da UPP “não faz diferença”, nem do lado positivo, nem do lado negativo.

O projeto - que de acordo com a pesquisa “não melhorou, nem piorou” o cotidiano dos moradores de favelas - custou caro. Dados divulgados em 2012 pela Secretaria de Estado de Segurança (Seseg) do Rio de Janeiro revelaram que o custo anual das instalações era de aproximadamente 6 milhões de reais para cada 100 policiais atuando nas UPPs, o mínimo que toda unidade deveria ter. Levando em consideração esse valor e a quantidade de UPPs implementadas com o passar dos anos, o projeto do governo Sérgio Cabral já custou pelo menos cerca de R$ 1,29 bilhão aos cofres públicos.

A pesquisa revelou outros pontos sobre a eficácia e da relação dos moradores com o projeto. As opiniões variaram bastante quando são consideradas características dos indivíduos e das comunidades e certas experiências diretas com a polícia.

Por exemplo, de acordo com o trabalho, jovens são os mais críticos à atuação dos policiais nas favelas. Além disso, pessoas que sofreram abordagens ou tiveram a casa revistada nos últimos 12 meses antes da pesquisa negam benefícios e apontam malefícios em proporções muito superiores às que não passaram por essas experiências

Ainda segundo a pesquisa, moradores de pequenas UPPs enxergam benefícios em proporção bem maior (42% a 29%) e malefícios em proporção bem menor (22 a 45%) do que moradores de UPPs grandes.

O trabalho revelou também que existem diferenças significativas entre UPPs de distintas regiões da cidade: moradores do Centro e da Zona Sul são os que mais afirmam que a UPP trouxe benefícios (48%) e os da Zona Oeste, os que menos acreditam nisso (23%).

Os moradores de favelas da Zona Oeste acham, pelo contrário, que a UPP trouxe problemas em  proporção muito maior que os da região Centro/Sul (45% contra 18%).  

O que a pesquisa concluiu é que se percebe é que o programa tem funcionado bem melhor nas áreas “nobres” do Rio, onde se registrou uma parcela mais baixa de pessoas abordadas repetidamente.

Entre os aspectos positivos que foram apontados pelos outros entrevistados, destacaram-se o maior acesso a serviços públicos e privados, obras de infraestrutura, projetos sociais, oportunidades de trabalho e liberdade de ir e vir.

Porém, entre os principais aspectos negativos estavam o aumento dos alugueis, êxodo de moradores, tiroteios, mortes, desaparecimentos, roubos, furtos e estupros – todas questões diretamente relacionadas ao cotidiano dos moradores, de acordo com a pesquisa.

Veja a íntegra da pesquisa no site do Cesec.

Sobre a pesquisa

A pesquisa foi feita entre 8 de agosto e 25 de outubro de 2016, com questionário de 56 perguntas e uma amostra domiciliar aleatória de 2.479 pessoas com 16 anos ou mais de idade. Foi considerado um universo de 777.506 homens e mulheres, cerca de 15% da população carioca com 16 anos ou mais, segundo o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Programa de Polícia Pacificadora (UPP) começou em dezembro de 2008, com a ocupação da favela Santa Marta, no bairro de Botafogo, zona sul. De 2009 a 2014, outros 36 territórios da cidade foram incorporados ao programa.