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'WP': Enquanto Uerj cancela aulas, Pezão pede licitação para jatinho

Jornal destaca crise financeira, social e política do Estado

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O jornal norte-americano Washington Post publicou neste sábado (19) uma matéria onde aponta que um ano depois do Rio de janeiro sediar as Olimpíadas, um evento extremamente caro, o crime aumentou, a taxa de "morte violenta" é a mais alta em quase uma década, acusações de corrupção relacionadas aos Jogos Olímpicos estão se acumulando e os novos estádios da cidade já estão caindo aos pedaços.

Post avalia que talvez nenhum símbolo do declínio do Rio seja mais preocupante e emocional para seus residentes do que o recente fechamento da UERJ, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, um farol de mobilidade educacional para o Brasil, bem como um importante empregador e provedor de serviços sociais.

No dia 31 de julho, foi feito um anúncio oficial de que os 30 mil alunos da universidade não precisariam comparecer a aula naquele dia: de fato, eles poderiam limpar seus calendários durante todo o ano porque a classe foi cancelada por um período indeterminado. De acordo com o comunicado, simplesmente não há dinheiro suficiente para manter a universidade aberta e a situação atingiu um "nível insuportável", descreve o noticiário.

Na verdade, a universidade vem paralisando há algum tempo. Para muitas pessoas ligadas à UERJ, o fechamento não veio como uma surpresa completa, observa o diário. 

"Ninguém está feliz com a decisão de cancelar o ano letivo", disse o professor de política da UERJ, Maurício Santoro, "mas há uma sensação geral de que é uma decisão necessária porque não há outra maneira de seguir".

Como Santoro apontou, o estado do Rio de Janeiro está enfrentando "a pior crise financeira de sua história". A universidade já foi resgatada uma vez no ano passado, pelo governo federal na véspera das Olimpíadas. Mas o resgate foi um "curativa, não uma solução", disse Santoro. Este ano, uma greve sobre pagamento atrasado descarrilou o calendário acadêmico, e agora a universidade já não paga seus professores em quatro meses. O semestre que deveria começar este mês agora foi cancelado.

WP destaca que no mesmo período em que a emblemática universidade do estado está em dificuldades, o governador do Rio ofereceu um contrato de um milhão de dólares na semana passada para um jato privado de seis lugares, alimentando a ira entre aqueles cujas vidas foram reviradas pelo fechamento da UERJ.

Leandro Pimentel, professor de fotografia na UERJ, observa que a situação começou a deteriorar-se há um ano, quando o estado estava atrasado em pagar os salários de zeladores e depois professores. Apesar de não receber seu salário, Pimentel continuou ensinando em condições cada vez mais difíceis.

"Eu estava em uma situação em que o projetor não funcionaria, então eu teria que me mudar para outra sala, mas as luzes não funcionariam lá para que mudássemos para outro", lembrou ele. 

Pimentel ganha uma renda secundária através do trabalho de consultoria, o que o mantém por enquanto. Mas muitos professores acabaram em pior situação, deixando de pagar seu aluguel ou contas de luz.

Beatriz Serapião Lucchetti, uma estudante de pós-graduação de sociologia da UERJ, disse que "o último salário que recebeu foi em maio". Os problemas financeiros do Rio também significam que Lucchetti não está recebendo seu salário do trabalho com a Secretaria de Cultura do estado.

"Meu trabalho depende da conclusão deste curso", disse ela. "E agora, com o mercado de trabalho como está durante esta crise econômica, toda a situação se torna realmente difícil, quase impossível". Ela disse que planeja se mudar para a família no subúrbio de Niterói e tentar estudar em casa.

O encerramento não só afeta professores e estudantes. O hospital altamente utilizado da UERJ está localizado em uma das áreas mais populosas e necessitadas do Rio, ressalta o periódico.

> > Washington Post