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Delação de Eike Batista pode citar Eduardo Paes

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O empresário Eike Batista, que prestou breve depoimento na última segunda-feira (31) - durou apenas 13 minutos - está em fase adiantada de sua delação premiada. Por isso mesmo, preferiu se manter calado na maior parte das perguntas. A expectativa é de que os anexos de sua delação sejam entregues aos procuradores da Lava Jato nos próximos dias. A novidade em suas revelações - que deverão trazer os nomes do ex-governador Sérgio Cabral e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - deverá ser o ex-prefeito Eduardo Paes, segundo o colunista Lauro Jardim

O nome de Paes veio à tona no noticiário nesta semana, com a prisão do seu ex-secretário de Obras Alexandre Pinto. Ele é acusado de participar de esquema criminoso envolvendo o pagamento de propina em obras do BRT Transcarioca e o do Programa de Despoluição da Bahia de Jacarepaguá.

Em nota, Paes se apressou em afirmar que Alexandre Pinto era um servidor de carreira da Prefeitura do Rio e que "a política não teve qualquer relação com sua nomeação para a função de secretário de obras". Ainda segundo a nota, caso sejam confirmadas as acusações, "será uma grande decepção o resultado dessa investigação".

As investigações não apontaram a atuação de Paes, mas o procurador da República Sergio Pinel afirmou, após a prisão de Pinto, que foi identificada uma conexão entre os supostos esquemas do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), e da Secretaria Municipal de Obras da gestão do ex-prefeito. Um dos indícios seria a chamada "taxa de oxigênio", termo usado para chamar a propina cobrada em obras públicas nos dois esquemas. 

Os procuradores também reforçaram que os esquemas, tanto da esfera estadual quanto municipal do Rio, têm como ponto central a gestão do PMDB. “Existem pontos de contato entre as investigações do esquema no estado e do município. Como sabemos, ambas as administrações eram do PMDB”, completou Pinel.  "Verificamos que, a exemplo do que ocorria na Secretaria Estadual de Obras, havia a cobrança da famigerada 'taxa de oxigênio' na pasta municipal de Obras", destacou o procurador federal Rafael Barreto.

Nomes de pessoas ligadas à gestão de Eduardo Paes, e o próprio ex-prefeito, já surgiram em outras investigações e em delações na Lava Jato. De acordo com a delação o ex-diretor da Odebrecht Benedicto Barbosa da Silva Júnior, Paes, cujo pseudônimo na lista da empresa era "Nervosinho", teria recebido R$ 15 milhões em propina pelos Jogos Olímpicos.

O ex-diretor de Infraestrutura da Odebrecht no Rio, Leandro Andrade Azevedo, também afirmou em delação que a empreiteira teria desembolsado R$ 11,6 milhões e US$ 5,7 milhões para o caixa dois da campanha à reeleição do prefeito Eduardo Paes, em 2012. 

Investigações também apuram supostos esquemas na área de saúde. Uma ação civil pública para a recuperação de mais de R$ 50 milhões pediu o bloqueio de bens de 64 pessoas, inclusive os ex-secretários municipais de Eduardo Paes, Hans Dohmann e Daniel Soranz. Os dois são acusados de omissão na fiscalização da Organização Social Biotech, que administrou os Hospitais Pedro II, na Zona Oeste, e o Hospital de Acari, na Zona Norte. A organização teria recebido R$ 570 milhões da Prefeitura para a administração das duas clínicas.

A Biotech era presidida por Walter Pellegrini Junior e seu irmão Valter. A administração começou em março de 2012 e foi até dezembro de 2015. Os irmãos foram denunciados. Pelo menos R$ 53 milhões foram desviados. A dupla responde em liberdade pelos crimes de peculato e organização criminosa. 

Em junho deste ano, a Polícia Federal prendeu preventivamente empresário Marco Antônio de Luca, ligado às empresas de alimentos Masan e Milano. Ele é suspeito de participar de esquema criminoso de desvio de recursos em fornecimento de merenda escolar e alimentação de detentos no estado do Rio de Janeiro.

O empresário é um dos integrantes do grupo que apareceu em fotos polêmicas com guardanapos na cabeça, numa comemoração de luxo em Paris com Cabral, secretários de Estado e empresários. 

Numa das empresas da família De Luca - a Mgcal (CNPJ: 02.312.812/0001-06) -, Cristianne de Luca foi ainda sócia do irmão do ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, Guilherme Paes. A empresa comercial foi aberta em 1997 e não está mais ativa.