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Especialistas apontam que crise econômica agrava violência no Rio 

Episódios dessa terça-feira quando ônibus e caminhões foram queimados revelam falência do estado

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A violência no Rio de Janeiro agravada pela crise do estado e do município são reflexo de uma política de confronto há muito tempo falida, apontam especialistas. “A ação da polícia contendo a violência sempre vai gerar uma violência”, disse o coronel Ubiratan Angelo, da ONG Viva Rio, após um grupo colocar fogo em três ônibus na Rodovia Washington Luiz, na altura dos acessos da Linha Vermelha e da Avenida Brasil, sentido Juiz de Fora, na manhã desta terça-feira (2). 

Sem pronunciamento do governador do estado, Luiz Fernando Pezão (PMDB), o cenário é de caos e medo nos arredores de duas das principais vias da cidade. Outros quatro ônibus e um caminhão foram incendiados na Avenida Brasil, e um ônibus na Rua Itabira, com Bulhões Marcial, em Cordovil, em um dos acessos à comunidade da Cidade Alta. Por volta das 13h, outro caminhão também foi incendiado. 

“O cenário de crise cria nos grupos criminosos uma expectativa de que vai ser mais fácil atuar, quanto mais forte a capacidade de resposta e de pró atividade do poder público, menor a capacidade de atuação do crime. Ele não acaba, mas diminui”, acrescentou Ubiratan. Para o especialista, basta observar as respostas das autoridades locais: “As falas são reativas, são pós-fatos perigosos. Do ponto de vista político, hoje, o fato criminoso que parou o Rio já havia acontecido”, finalizou. 

O secretário de Estado de Segurança do Rio, Roberto Sá, elogiou a ação da polícia que apreendeu 32 fuzis, e prendeu 42 suspeitos na ocorrência, “sem fazer um derramamento de sangue”. Em coletiva de imprensa, o secretário ressaltou que a estratégia dos grupos criminosos não é novidade na cidade, da mesma forma que a apreensão numerosa de fuzis não deve ter sua gravidade diminuída. 

>> Ônibus são incendiados na Rodovia Washington Luiz e Avenida Brasil

“Nós temos mais do que a crise, a segurança pública no Rio é tratada como única e exclusivamente questão de polícia, e não é. Tem um cenário de crise, uma polícia que ganha mal, uma deficiência logística, duas polícias incompletas, na rua e na investigação, entre outras deficiências”, disse Ubiratan, que destacou para um aumento no número de delitos urbanos, com uma falha estratégica na política das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), somado a falta de recursos destinados aos órgãos de segurança pública. 

“Os delitos passaram a ser com armas mais potentes – não me importa de onde elas vêm, e sim como elas chegam na mão desses criminosos”, acrescentou o coronel da Vivo Rio. 

Os bloqueios fizeram o município entrar em estágio de atenção às 10h50m. O estágio de atenção é o segundo nível em uma escala de três e significa que um ou mais incidentes impactam, no mínimo, uma região, provocando reflexos relevantes na mobilidade. “A população está aterrorizada com os confrontos”, disse o cientista político Ignácio Cano, para quem a crise na segurança pública acontece desde 2013, agravada pela crise econômica e política do Rio. 

“O somatório disso tudo é que não há muita esperança. Os sinais de continuação da velha política de confronto continuam. As autoridades reforçam que o confronto é a única alternativa. Temos que desmontar essa suposta guerra. Temos que fazer um esforço para canalizar os recursos parcos na direção da redução dos confrontos armados”, completou. 

De acordo com o tenente coronel Sérgio Porto, a ação seria uma represália à operação da Polícia Militar na Cidade Alta, em Cordovil, Zona Norte do Rio. A Polícia Militar informou que a Cidade Alta foi alvo de uma invasão por traficantes de uma comunidade rival.

Mais de 50 ônibus queimados só este ano

De acordo com a Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), 50 ônibus já foram incendiados em 2017, superando os números de 2016 (43). Por este tipo de incêndio não garantir seguro, o custo estimado para a reposição da frota incendiada chega R$ 22 milhões este ano, frisa a Fetranspor. 

A entidade informou ainda que, devido à crise econômica e ao desequilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão, não há garantia para a compra de novos veículos, que podem demorar até um ano para entrar em circulação.

Em seis meses, somente no Rio, cerca de 70 mil passageiros deixam de ser transportados em cada veículo, finalizou a Fetranspor, em nota.