ASSINE
search button

Os dez anos de uma suspeita influência do Rei Arthur sobre os governos Cabral

Empresário é suspeito de pagar propina para a realização dos Jogos Olímpicos do Rio

Compartilhar

Citado nesta sexta-feira (3) pelo jornal francês Le Monde como autor do pagamento de US$ 1,5 milhão em propina a um integrante do Comitê Olímpico Internacional (COI) para que o Rio de Janeiro ganhasse o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, o empresário Arthur Cesar Menezes Soares Filho tem um longo e suspeito histórico de influência sobre os governos do estado nos últimos dez anos.

O empresário que fez fortuna no governo de Sérgio Cabral faturou quase R$ 2 bilhões por ano em contratos de terceirização de serviços com a empresa Facility. Seu poder de influência sobre os governos Cabral e Pezão é tão grande que o empresário passou a ser conhecido em todos os círculos empresariais e nas esferas do poder público como Rei Arthur, em clara referência ao folclórico personagem britânico da época medieval.

O Rei Arthur que esteve à frente de grande parte dos contratos nos governos fluminenses do PMDB voltou à cena no início de fevereiro. Reportagem do RJTV mostrou que o Grupo Prol, um dos maiores fornecedores do governo do estado, com contratos celebrados nas mais variadas secretarias e sobre as mais variadas competências (entre hospitais, presídios, delegacias e o Detran, cujo contrato chega a R$ 1 bilhão), foi formado após a venda da Facility, do mesmo Rei Arthur.

Alguns nomes ligados à empresa estiveram em cargos do governo e representantes vinculados ao grupo já foram usados para abrir contas para o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB). Os tentáculos do megaempresário se estenderam, ainda, sobre a Prefeitura do Rio, quando a cidade esteve sob o comando de Eduardo Paes (PMDB), já que a Prol também possuía a gestão do Centro de Operações do Rio. Sem uma sede na cidade, sem endereço e informações básicas sobre sua existência, a Prol suscitou suspeitas de que seus empresários seriam, na verdade, laranjas do Rei Arthur.

O grande volume de contratos e de informações ocultas levantam tantas suspeitas que Arthur está na mira da Operação Calicute, braço da Lava Jato que prendeu Sérgio Cabral em novembro do ano passado. Os depoimentos do empresário ao Ministério Público Federal (MPF) não foram convincentes. Rei Arthur contratou, por exemplo, o escritório de advocacia da ex-primeira-dama Adriana Ancelmo, também presa da Lava Jato, e a empresa de Carlos Miranda, operador de Cabral, também preso num grande esquema de corrupção de Cabral.

Carlos Miranda usou sua empresa, a LRG Agropecuária, para receber repasses de empreiteiras que possuíam contratos com o governo Cabral. A propina destinada ao ex-governador e paga pelas empreiteiras que tinham contratos celebrados com o estado era paga à LRG por meio de contratos fictícios. A empresa de Carlos Miranda prestava serviços às empresas com contratos oficiais com o poder público. A LRG foi contratada pelo Grupo Facility, do Rei Arthur, e pelo Portobello Resort, de Mangaratiba, onde Cabral possui uma mansão.

A Operação Calicute descobriu, ainda, que Rei Arthur, que admitiu ser amigo pessoal de Sérgio Cabral quando o peemedebista ainda era senador pelo Estado do Rio, repassou mais de R$ 1 milhão para o escritório de advocacia de Adriana Ancelmo. Já a LRG recebeu mais de R$ 600 mil. Apesar das evidências diante de contratos com empresas ligadas a Cabral, Arthur Soares disse, em depoimento, que o ex-governador nunca pediu propinas.

Ainda sobre os mil braços do Rei Arthur sobre o governo do Rio, à época da inauguração do Centro de Diagnóstico por Imagem, Cabral passou a gestão para a SKS, empresa composta pela KB Participações, o então novo nome da Facility Participações, e pela Xeriffe, de Miguel Iskin, maior fornecedor de equipamentos hospitalares do Estado e ligado ao então secretário de saúde Sérgio Côrtes.

Na mira de tantas investigações e suspeitas, Arthur Soares mudou-se para Miami. Convocado recentemente pelo Ministério Público para dar explicações sobre os inúmeros problemas nos contratos da Facility e da Prol com o governo do estado, Rei Arthur esteve no Brasil e retornou aos Estados Unidos no mesmo dia. Seu depoimento, relatam fontes do MP, não convenceu. O megaempresário só levantou mais suspeitas e continua no alvo da Lava Jato e da Calicute. Com o novo escândalo dos Jogos Olímpicos, Arthur terá, mais uma vez, que dar explicações sobre sua incomum influência no poder público nos últimos 10 anos.

Olimpíada - O advogado de Arthur César de Menezes Soares Filho disse que seu cliente desconhece o assunto e que jamais teve qualquer notícia sobre o fato divulgado pelo Le Monde.

>> Justiça e Polícia Federal precisam agilizar ações contra o "Rei Arthur"