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"Rio de Janeiro está vivendo o apocalipse", dizem servidores

Em frente à Alerj, ativistas atacam governantes corruptos e criticam privatização da Cedae

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No início da tarde desta terça-feira (7), os servidores contrários à proposta de privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) se reuniram em frente ao prédio da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) para protestar contra a medida, que está marcada para ser discutida pela Casa na próxima quinta-feira (9), e é parte de um acordo entre o governo estadual e federal para a renegociação da dívida.

Além dos funcionários da Cedae, o ato conta com o apoio do Movimento Unificado dos Servidores Públicos do Estado do Rio de Janeiro (Muspe) e reúne centenas de servidores de diversas categorias, além de estudantes. Entre as principais preocupações em relação à privatização da empresa está a incerteza da manutenção de seus funcionários caso a venda seja concretizada. Os manifestantes afirmam também que a privatização do serviço irá impactar no bolso da população, já que o valor da água ficaria mais caro.

Funcionário da Cedae há mais de vinte anos, Carlos Augusto Castro lamentou a situação em que se encontra o estado do Rio, e elegeu a corrupção como a principal vilã da crise econômica.

“Eu diria que o Rio de Janeiro está vivendo o apocalipse. Essa é a prova do que a corrupção pode fazer com um lugar: funcionários sem receber seus pagamentos, universidades que até então eram referência prestes a fechar as portas por falta de dinheiro para manutenção, e agora privatizar o direito do cidadão ao acesso à água? O governador está brincando com a população. Água não é um produto, é o bem mais precioso e mais importante para a vida. Uma empresa como a Cedae não é para gerar lucros, é para atender a toda a população”, desabafou o funcionário.

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Saneamento Básico e Meio Ambiente do Rio de Janeiro (Sintsama-RJ) , Roberto Rodrigues, explicou quais as principais preocupações dos funcionários, que resumem os motivos da manifestação.

"Em um primeiro momento, minha maior preocupação é perder meu emprego. Além disso, a nossa população pode estar perdendo uma empresa de cunho social, que pertence ao povo fluminense. A gente não tem nenhuma garantia. Sabemos o que aconteceu nas outras empresas públicas privatizadas. Os melhores salários, as pessoas mais antigas, eles mandaram embora e colocaram pessoas de empreiteiras, que ganham muito menos", explicou o diretor da Sintsama-RJ.

A professora da rede estadual de ensino Eunice Santos lembrou as recentes prisões dos ex-governadores Sérgio Cabral e Anthony Garotinho. E pediu que a população apoie os servidores, que estão lutando por melhorias que serão refletidas na vida de todos.

“Olha a situação em que se encontra o estado do Rio de Janeiro. Nos últimos meses vimos dois ex-governadores presos por corrupção. Dinheiro público roubado sendo encontrado na água do mar porque o corrupto ficou com medo de ser preso, e muito bem feito foi. Nós não podemos aceitar isso, o povo precisa reagir. Desculpe quem acha que estamos causando transtornos nas suas rotinas, mas na verdade nós estamos lutando pelas nossas e também pelas suas famílias”, disse.

Estudante de engenharia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Larissa Klhen fez questão de ir apoiar o movimento. A Uerj, instituição onde a estudante deveria estar tendo aulas, está ameaçada de fechar as portas por falta de verba para a manutenção do campus e pagamento dos professores e funcionários.

“A cada dia que passa eu me desespero mais em relação à situação do Rio de Janeiro. Minha faculdade prestes a fechar as portas. Casos de corrupção sendo anunciados praticamente todos os dias. Nós vivemos um desgoverno no estado do Rio. Privatizar a Cedae é abrir mão de mais uma empresa que pertence ao povo fluminense, graças às ações corruptas de quem esteve à frente do estado. Não vamos pagar essa conta. São pessoas perdendo seus empregos. Famílias perdendo seus sustento. Os funcionários da Cedae e todos aqueles que estão lutando por seus empregos têm o meu apoio e podem contar com a força dos meus gritos”, apoiou a estudante.

O servidor estadual Paulo Henrique Oliveira lembrou que recentemente o estado e até mesmo a cidade do Rio de Janeiro vem sendo palco de fatos "absurdos de desgovernos" e corrupção, e fez um trocadilho com o apelido de ‘Cidade Maravilhosa’, como é carinhosamente conhecida a cidade do Rio de Janeiro.

“Essa história de querer privatizar a Cedae é o mais novo absurdo desse Rio de Janeiro que atualmente é só absurdo atrás de absurdo. São escândalos diários de corrupção, patrimônios públicos abandonados. Caos na saúde, servidores sem receber. O Rio de Janeiro é deveria mudar de nome, não é mais a ‘Cidade Maravilhosa’, e sim a ‘Cidade dos absurdos’”, lamentou.

Ao ser questionada sobre a privatização, a Cedae se manifestou através de e-mail dizendo que “informações sobre o processo de privatização devem ser obtidas com o acionista majoritário da empresa (o governo do estado)”. Procurado, o governo do estado garantiu que tomará todos os cuidados necessários para que o novo proprietário da empresa mantenha o atual corpo de funcionários, principal preocupação dos servidores.