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No Rio, mulheres realizam ato com Dilma e contra Michel Temer

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A presidente afastada Dilma Rousseff disse, durante o ato "Mulheres pela Democracia e contra o golpe", na noite desta quinta-feira (2), no Centro do Rio de Janeiro, que o governo interino de Michel Temer é "um governo de homens velhos, ricos e brancos que não representam a diversidade do país". Bastante aplaudida, Dilma fez críticas à nomeação da nova secretária de Políticas para Mulheres, a ex-deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP), que é evangélica e contrária à descriminalização do aborto em casos de estupro.

"É uma grande honra estar aqui, principalmente nessa cidade que expressa a força da diversidade do nosso país e da nossa cultura. Infelizmente, nós sabemos que aqui ocorreu um estupro coletivo e que um dos clubes de elite manifesta de forma clara seu preconceito contra uma babá impedindo que ela se sente ou vá ao banheiro. Essa cultura do estupro e da exclusão social é algo que tem que ser combatido por todos os movimentos, mas também pelos governos. É lamentável que ao escolher uma secretária das Mulheres, ela se manifeste contra o aborto legal no caso de estupros. Nós, mulheres, temos que nos sentir menos seguras, muito menos garantidas quando um governo não é capaz de no seu primeiro escalão colocar uma representação da maioria da população deste país. Não digo só mulheres, mas também os negros deste país, que são uma parte expressiva da nossa população. Um governo de homens velhos, ricos e brancos não representa a diversidade do nosso país", afirmou Dilma.

A presidente afastada voltou a afirmar que o processo de impeachment que enfrenta é um ato de vingança do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), então presidente da Câmara e que aceitou o processo no início de dezembro do ano passado, e da tentativa de caciques do PMDB, como o senador Romero Jucá, de interromper as investigações da Operação Lava Jato. Recentemente, Jucá, a quem Dilma chamou de "grande conspirador", teve divulgada uma conversa em que alertava para a necessidade da destituição de Dilma para "estancar a sangria" das investigações da Polícia Federal.

Dilma criticou medidas dos últimos 20 dias de governo Temer e disse que as ações impopulares não seriam aprovadas pela população e que se recorreu, então, "a esse chamado impeachment, que na verdade é um golpe". A petista foi acompanha por gritos de "É golpe". "Esse impeachment, que é um golpe claro, absoluto, não é de maneira alguma aquele golpe tradicional, o chamado golpe militar que era praticado na América Latina, em que através do poder armado eram retirados governos populares. Como é que eles procedem? Rasgando a carta constitucional", criticou, acrescentando que o governo interino opera retrocessos.

"É estarrecedor o que tem acontecido nos últimos 20 dias, eu jamais pensei que assistiria a alguém ameaçando o Bolsa Família, questionando as conquistas da área de educação, de saúde, sobretudo eu não imaginava ser possível, num país em que a nossa nacionalidade está fundada na nossa diversidade cultural e ética, alguém querer dissolver o Ministério da Cultura"

Mulheres criticam medidas do governo interino

Para Adriana Martins, do movimento Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), o governo Temer deu sinais de retrocesso já no início, ao excluir as mulheres dos cargos de alto escalão. Ela criticou, ainda, o processo de impeachment contra Dilma Rousseff.

"Não concordamos com a saída de Dilma Rousseff. Ela não cometeu crime nenhum e foi julgada pelos machistas e racistas que sempre governaram este país. Isso foi uma violência contra a presidenta e todas as mulheres sentiram. No governo da Dilma pelo menos as mulheres eram ouvidas. Agora não são mais. O governo do Temer começou com nenhuma mulher no alto escalão".

Ativista da causa trans, Indianara Siqueira disse que as mulheres não sairão das ruas enquanto a democracia não for restabelecida e que não haverá concessões nos direitos humanos. "Não somos mulheres recatadas nem do lar. Somos das ruas. Não sairemos das ruas enquanto a democracia não for restabelecida, enquanto as mulheres continuarem a ser estupradas, enquanto as travestis continuarem a serem mortas e o genocídio dos negros não for estancado. Direitos humanos não vão ser negociados".

A representante da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Kátia Branco, criticou a nomeação, nesta semana, da nova Secretária de Políticas para Mulheres, a ex-deputada federal Fátima Pelaes (PMDB-AP), que é evangélica e contrária à descriminalização do aborto.

"Não reconhecemos esse governo interino. A secretária de Mulheres empossada nesta semana pelo Temer não nos representa. Além disso, nós do movimento sindical somos contra as privatizações e terceirizações. Somos contra tudo isso", criticou Kátia Branco.

Os manifestantes se concentraram a partir das 16h no Largo da Carioca e seguiram para a Praça XV. No local, muitos gritavam em coro "Volta, querida" e "Fora, Temer". Segundo os organizadores, cerca de 20 mil pessoas participaram do ato. A Polícia Militar não fez estimativas de público. 

*Com André Borba, do projeto de estágio do JB

>>'El País': O estupro político