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Ex-executivos da Andrade Gutierrez dizem ter pago propina a Sérgio Cabral

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Ex-executivos da construtora Andrade Gutierrez investigados pela Operação Lava Jato teriam revelado, em depoimentos, o pagamento de propina ao ex-governador do Rio, Sérgio Cabral. Os depoimentos estão homologados pelo Supremo Tribunal Federal. As informações são do Jornal Nacional.  

Os ex-executivos Clóvis Peixoto Primo e Rogério Nora de Sá teriam incluído outros nomes nos depoimentos: o ex-secretário de Governo do estado, Wilson Carlos, o dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, e Carlos Miranda, que seria o operador dos pagamentos a Cabral nas obras do Maracanã.

De acordo com os depoimentos, os ex-executivos se reuniram no Palácio Guanabara para tratar do pagamento de propina. Segundo eles, na maioria das obras, o percentual cobrado por Cabral era o mesmo 5% dos contratos das obras do Maracanã, do Arco Metropolitano e da urbanização no Conjunto de Favelas de Manguinhos. Ainda de acordo com os ex-executivos, Cabral cobrava propina inclusive nas obras em que não havia dinheiro do estado.

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Rogério de Sá afirmou que o ex-governador pediu propina de 1% sobre as obras de terraplanagem do Comperj, uma das principais obras da Petrobras no país, em Itaboraí. Ainda segundo os depoimentos, Cabral teria afirmado que tudo estava acertado com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Rogério de Sá então procurou Paulo Roberto na estatal e ouviu dele: "Tem que honrar". A Andrade Gutierrez teria pago R$ 2,7 bilhões ao então ex-governador.

Ainda segundo Rogério de Sá, quem fez a operação do pagamento usando o caixa dois foi Alberto Quintaes, que era diretor comercial da construtora.

Ainda segundo a reportagem, Cabral teria cobrado propina quando não havia contratos. Rogério de Sá teria afirmado que, em 2011, o ex-governador pediu dinheiro dizendo que era um adiantamento, já que  como estava no início do segundo mandato, ainda não tinha projetos nem obras. A empresa teria aceitado pagar R$ 350 mil por mês a Cabral, após ele sinalizar com novas oportunidades de contratos.

Clóvis Primo afirmou que, na reforma do Maracanã, mesmo antes da licitação já se sabia que o vencedor seria o consórcio formado pelas empreiteiras Odebrecht e Delta. Rogério de Sá teria afirmado em depoimento que, em reunião com Cabral, o governador teria determinado que a Andrade Gutierrez acertasse com a Odebrecht os percentuais de participação, já que os 30% da Delta não poderiam ser modificados. Rogério teria questionado a participação da Delta, já que ela não teria capacidade técnica, mas o governador teria então alegado que  "tinha consideração pela empresa e gostava dela".

O ex-executivo afirmou ainda que Cabral pediu que as empresas dessem propina consistente de 5% do valor da obra. Na época, de acordo com Rogério, o custo estimado da reforma do Maracanã era de R$ 600 milhões.

Os acertos dos pagamentos eram feitos com Wilson Carlos, secretário de Governo que, de acordo com Primo, falava em nome do governador.

O ex-governador Sérgio Cabral manifestou indignação e repúdio às declarações dos delatores. Ele afirma que manteve apenas relações institucionais com a Andrade Gutierrez, que jamais interferiu em processos licitatórios de obras, nem solicitou benefício financeiro próprio ou para campanha eleitoral. Cabral afirmou, ainda, que pautou sua gestão pela autonomia de seus secretários. Sobre o suposto envolvimento do ex-governador em propinas no Comperj, Sérgio Cabral disse que a polícia federal propôs o arquivamento do inquérito por ausência de veracidade e fundamento.

Fernando Cavendish declarou que não tem conhecimento de fatos relacionados à Andrade Gutierrez e que a entrada da Delta no Consórcio Maracanã se deveu à competência da empresa, que atendeu às exigências do edital.

A Andrade Gutierrez confirmou que Alberto Quintaes integra os quadros da empresa, mas nem ele, nem a construtora comentaram as denúncias.