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Olimpíada ameniza cenário, mas não evitará aumento do desemprego no Rio em 2016

Desvalorização do barril de petróleo deve resultar em mais demissões em vários setores

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Com o aprofundamento da crise econômica no país, o desemprego segue subindo em ritmo alarmante. Tomando-se como base a média dos três primeiros trimestres de 2015, a taxa prévia do ano seria de 8,4%, muito acima dos números de 2014, quando a margem de desocupados no país ficou em 6,9%. No Rio de Janeiro, cidade sede da Olimpíada de 2016, obras de infraestrutura e a necessidade de outros serviços urgentes garantem, ao menos até o fim do evento, uma amenização do problema, mas a tendência é que o quadro piore drasticamente quando os Jogos terminarem.

Para o presidente da Associação Brasileira de Direitos Humanos (ABRH-RJ), Paulo Sardinha, o ano será “um pouco melhor” para o Rio, devido às oportunidades que foram e ainda serão geradas pela Olimpíada. “Já estão em andamento, por exemplo, processos de seleção para vagas de 90 mil temporários”, afirma.

O turismo e o setor de serviços se mostram os principais pólos de contratação, já que a cidade receberá milhares de turistas. Considerando-se somente visitantes internacionais, são esperados cerca de 500 mil. Em contrapartida, a construção civil, com o fim das obras para o evento, deve encerrar o ano com saldo negativo entre contratações e desligamentos.

O presidente do Sintraconst-RJ (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil do Rio de Janeiro), Carlos Antonio Figueiredo de Souza, acredita que em 2016 mais trabalhadores do setor realmente perderão seus empregos: Com o fim das obras relativas aos Jogos Olímpicos, o cenário do desemprego deve piorar ainda mais. Diante disso, temos o desafio de reunir propostas de consenso, sentando à mesa com o setor empresarial e governos, para buscar soluções em relação ao impacto do desemprego”, afirma.

Figueiredo garante que o sindicato vem tomando todas as medidas possíveis para controlar o desemprego, “se reunindo com empresas e com órgãos competentes, como o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho, para evitar ao máximo as demissões no setor da construção civil”. No entanto, sair desse quadro político e econômico será “uma árdua missão”.  

O presidente do Sintraconst-RJ ainda alerta aos trabalhadores sobre a importância de se qualificar: “Isso aumenta a chance de o operário se manter no emprego. Além disso, temos que ficar atentos aos nossos direitos conquistados. As empresas não podem se omitir de suas obrigações usando como desculpa a crise. A fiscalização do Sindicato nos canteiros de obra se mantém a mesma”.

Paulo Sardinha adota o mesmo discurso: “Quem não estiver engajado nos objetivos da organização correrá grandes riscos de perder a vaga de emprego. Há excelentes profissionais que estão fora do mercado, esperando apenas uma chance”.  

Entre os setores mais atingidos pelo aumento do desemprego no momento estão, além da construção civil, a agricultura e a administração pública. 

No que diz respeito a setores ligados ao petróleo, o quadro pode chegar a ser ainda mais drástico em 2016, pois à crise econômica no país soma-se ainda a forte queda do preço do barril, cotado a menos de US$ 35 nesta quarta-feira (6). A presidente do Sintramico (Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados do Petróleo), Ligia Deslandes, revela que em seu setor foi registrado um aumento do desemprego de 30%, margem que, segundo ela, preocupa, mas ainda não chega a ser “alarmante”.

“Nós tivemos um aumento. Não foi tão grande, mas foi um aumento, registrado nas empresas distribuidoras. Ainda há também o PIDV, Plano de Incentivo ao Desligamento Voluntário (para funcionários com idade igual ou superior a 55 anos, e que sejam aposentados pelo INSS). As pessoas inscritas nele devem ser levadas em consideração”, pontua a presidente do sindicato.

Deslandes aponta a desvalorização do barril de petróleo como principal fator responsável: “O petróleo está caindo vertiginosamente. O barril estava em mais de US$ 100 há alguns anos, segunda-feira (4) estava sendo vendido a US$ 36, então é muito complicado para todas as empresas. Isso afeta todas elas, e, como consequência, também os trabalhadores de todos os nossos setores”.

A presidente do Sitramico considera essencial que os juros desçam. A medida, na sua visão, impulsionaria a economia e poderia conferir nova vitalidade às empresas. “Com os juros altos fica complicado. Muitas coisas ainda podem acontecer este ano, mas acredito que o governo deve tomar medidas pra termos uma situação mais favorável”, aposta.

A crise no setor petroleiro gera crise também no setor naval. Com o corte de encomendas da Petrobras e de outras empresas, os estaleiros do Rio se viram obrigados a demitir cerca de metade de seus funcionários em 2015. Ao todo, 14 mil vagas do segmento foram cortadas no ano passado, segundo a Confederação Nacional dos Metalúrgicos. Com os preços do barril de petróleo despencando, imagina-se que a situação piore cada vez mais.