ASSINE
search button

Hotel Nacional: uma reforma às pressas e um imbróglio nebuloso

Edifício envolvido em negócios de Cachoeira - como JB mostrou em 2012 - passa por obra visando Jogos

Compartilhar

A reforma às pressas do Hotel Nacional, um projeto de Oscar Niemeyer em São Conrado, visando cumprir a meta de reabrir o espaço antes da Olimpíada de 2016, traz à tona o imbróglio no qual a construção está envolvida, e que foi divulgado pelo Jornal do Brasil em abril de 2012.

Na ocasião, o JB revelou que um empresário ligado ao contraventor Carlinhos Cachoeira e ao então senador Demóstenes Torres teria usado o esquema do grupo para se beneficiar no leilão do Hotel Nacional. Desativada desde 1995, a construção foi leiloada pelo Ministério da Fazenda através da Superintendência de Seguros Privados (Susep) em 2009. Naquela ocasião, o empresário Marcelo Limírio arrematou o hotel por R$ 84,9 milhões, R$ 33 milhões a menos do que o lance inicial do leilão anterior, no qual não houve lance.

>> Veja a reportagem do 'JB' de 2012

Agora, enquanto operários trabalham na reforma do hotel, uma lei permite que os proprietários construam uma segunda torre no terreno, para ajudar a viabilizar financeiramente a recuperação do hotel. Mas as obras no Nacional esbarram no tempo curto, e os proprietários estariam ainda negociando com bancos privados para saber quem vai financiar a obra. 

A reportagem do JB de 2012 afirmava que Marcelo Limírio, principal acionista individual do grupo Hypermarcas, era sócio direto tanto de Carlinhos Cachoeira quanto de Demóstenes. O contraventor e o empresário eram sócios pela empresa ICF, responsável por fornecer testes para laboratórios. Entre eles, está o Vitapan, que pertence a Cachoeira. Já o senador Demóstenes é sócio de Limírio numa universidade em Contagem, Minas Gerais. 

"Denominada "Nova Faculdade", a instituição de ensino é dividida entre três cotistas, dois dos quais são Limírio (60% do empreendimento) e Demóstenes (20%). O empresário foi até bem generoso com o senador, deixando que ele parcelasse em 25 vezes o investimento de R$ 200 mil na empresa", dizia a reportagem.  

Ainda segundo a reportagem do JB de 2012, a proximidade de Limírio com Cachoeira e Demóstenes colocava outro político na roda: o deputado federal Armando Vergílio (PSD-GO). Ele era o superintendente da Susep em 2009, mesmo ano no qual o órgão leiloou o Hotel Nacional por duas vezes, baixando seu preço de R$ 118 milhões para R$ 84 milhões em função da falta de compradores na primeira tentativa de venda. Meses após a venda, Vergílio deixaria a Susep para se candidatar à Câmara Federal e um dos seus principais doadores foi a SS Comércio de Cosméticos, que contribuiu com R$ 100 mil através de uma doação eletrônica. A Hypermarcas, a mesma da qual Limírio é o principal acionista, adquiriu naquela ocasião algumas das linhas de produto da SS Comércio de Cosméticos por R$ 25 milhões. Vergílio concorreu pelo cargo de deputado federal justamente no estado no qual a quadrilha de Cachoeira exercia maior controle: Goiás. 

A reportagem do JB destacava que além das digitais de Limírio, a lista de doadores de Armando Vergílio revelava nomes curiosos. Ex-superintendente de um órgão cujo objetivo é controlar e fiscalizar o mercado de seguro, previdência privada aberta e capitalização, o deputado federal recebeu uma série de doações que atuam na área. Entre seus principais doadores estão a Porto Seguro (R$300 mil),  Banco Pottencial (R$ 200 mil), Itaú Unibanco (R$ 100 mil), Liderança Capitalização (R$ 100 mil) e GPS Corretora de Seguros (R$ 100 mil). Como era integrante do PMN na época das eleições, Vergílio ainda recebeu, através do comitê financeiro único do partido, doações da Alvorada Cartões (R$ 200 mil) e Liderança Capitalização (R$ 200 mil). No total, o deputado federal recebeu R$ 1,2 milhão em recursos de empresas da mesma área que ele fiscalizava nos tempos de Susep.  

Obras e Olimpíadas: problemas à vista para o prefeito Eduardo Paes

A questão complexa envolvendo o Hotel Nacional não é o único imbróglio envolvendo obras e as Olimpíadas de 2016. Não são raros os casos de atrasos e até de problemas com a Justiça. Na semana passada, obras foram parcialmente interditadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, depois de uma vistoria no Parque Olímpico, onde foi embargado o Centro de Tênis e determinada a paralisação de parte dos trabalhos do velódromo, por colocar em risco os trabalhadores.

No velódromo, os fiscais suspenderam uma escavação que não protegia os operários do risco de queda, identificaram a ausência de acesso seguro e acúmulo de material na borda dos taludes, além de falta de escoramento, por exemplo. Na área de tênis, toda a obra foi suspensa por não ter proteção contra quedas de trabalhadores nos pavimentos mais altos e por deixar desprotegidos vãos de elevadores, de escadas e aberturas para instalação de piso. 

Em fevereiro, o Comitê Olímpico Internacional (COI), em visita às instalações, advertiu que os prazos para a construção do velódromo, do campo de golfe e do local de hipismo estavam apertados e cobrou agilidade.