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Barbara Heliodora, crítica teatral, morre aos 91 anos

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A crítica teatral e ensaísta Barbara Heliodora morreu na manhã desta sexta-feira (10), aos 91 anos. Ela estava internada no Hospital Samaritano, na Zona Sul do Rio, desde o dia 23 de março. O velório será realizado neste sábado (11/03), a partir de 8h, na Capela 1 do Memorial do Carmo, no Rio. A cremação está marcada para 15h, no mesmo local.

Barbara Heliodora, que deixou três filhas, de dois casamentos, e quatro netos, era a maior tradutora e divulgadora da obra do dramaturgo inglês William Shakespeare no Brasil.

Temida e respeitada por sua erudição, rigor e alto grau de exigência quando assistia a uma peça e escrevia a crítica, ela era considerada por muitos a "Dama de Ferro" do teatro brasileiro. Nascida no Rio de Janeiro, no dia 29 de agosto de 1923, Barbara estreou na imprensa em 1944, em O Jornal. Na época ainda assinava com seu nome de batismo: Heliodora Carneiro de Mendonça Bueno. Após uma breve passagem pelo jornal "Tribuna da Imprensa", Barbara Heliodora trabalhou de 1958 a 1964 no Jornal do Brasil, onde assinou uma coluna especializada em teatro, no suplemento dominical. Em seguida assumiu a direção do Serviço Nacional de Teatro (SNT), onde permaneceu até 1967. O trabalho de Bárbara continuou tendo destaque no JB durante esse período.

Em 1972, escreveu “Algumas reflexões sobre o teatro brasileiro” e em 1975, como acadêmica da USP, defendeu a tese de doutorado “A expressão dramática do homem político em Shakespeare”. O trabalho ganhou destaque no JB, com artigo escrito pelo também crítico teatral e ensaísta Yan Michalski.  

Em 2000, a convite da Academia Brasileira de Letras, escreveu "Martins Pena, uma introdução", sobre um dos pioneira da comédia de costumes no Brasil. Em 2004, lançou uma coletânea de ensaios: "Reflexões Shakespearianas".  E em 2005,  escreveu "Brasil, Palco e Paixão" - Um século de Teatro", junto com outros quatro autores. Barbara também escreveu o livro ‘Caminhos do teatro ocidental’, lançado em 2013, fruto de quase 20 anos de  trabalho (de 1966 a 1985) como professora de história da dramaturgia no antigo Conservatório de Teatro, atual curso de teatro da UniRio. 

Em 2014, lançou “Shakespeare: o que as peças contam — Tudo o que você precisa saber para descobrir e amar a obra do maior dramaturgo de todos os tempos”.

No dia 24 de setembro de 2014, a Medalha do Mérito Cesgranrio foi concedida a Bárbara Heliodora, que era membro do Conselho de Cultura da Cesgranrio. A maior comenda da instituição é concedida para homenagear personalidades que se destacam por relevantes serviços prestados à educação e cultura do Brasil.

Abaixo, alguns depoimentos de quem conviveu com Bárbara Heliodora:

Carlos Alberto Serpa, presidente da Fundação Cesgranrio:“A Bárbara é uma amiga minha de muitos anos. Acompanhei a carreira dela como especialista em Shakespeare, critica de teatro e diretora. Ela é uma pessoa que transcende sua própria capacidade. A Bárbara fazia tudo com muita garra. Ela é uma referência no teatro brasileiro e nas artes e vai fazer muita falta”.

Ana Botafogo, Primeira Bailarina do Theatro Municipal do Rio de Janeiro:“A Bárbara Heliodora, além de ser uma grande mulher e profissional, foi um amante das artes. Por várias vezes tive a oportunidade de vê-la assistindo balé, e a grata satisfação de tê-la na platéia. Barbara era uma mulher que trabalhou muito, de forma apaixonada. E que amava Shakespeare.

Marcos Villaça, advogado, jornalista, professor e ensaísta. Membro da Academia Brasileira de Letras: “O que a gente recolhia com a convivência com ela era um padrão moral. Isso ficou claro para todos, ao ver como era coerente sua opinião. A figura dela pertence a esses espaços nobres de competência e moralidade. Essa é a memória que me ficou. Lamento ter conhecido a Barbara tão tarde. Até brinquei um dia com ela sobre a Academia Brasileira de Letras. Eu disse: “Quero votar em você um dia. Só não lhe dou a vaga, mas lhe dou meu voto’. E ela riu muito.

Ricardo Cravo Albin, musicólogo, pesquisador da Música Popular Brasileira. Fundou e dirigiu o Museu da Imagem e do Som: “A Bárbara sempre foi uma mulher e uma amiga surpreendente. Primeiro porque ela dedicou uma atenção especialíssima às pessoas que a cercavam e de quem ela gostava muito. A Bárbara foi minha amiga desde 1963 quando eu freqüentava a casa dos pais Marcos e Anna Amélia Carneiro de Mendonça no célebre casarão dos abacaxis no Cosme. Velo. A partir de aí eu acompanhei toda a carreira de Barbara, seu mergulho em Shakes e posteriormente todas suas maravilhosas e contundentes. Voltamos a nos ver com frwequencia no conselho da Cesgranrio. E me emocionei em seu aniversario de 90 anos, que foi celebrado na Fiorentina. Fui o primeiro a chegar e o último a sair”.

Jacqueline Laurence, diretora e atriz:“Bárbara é uma amiga da vida inteira. Ela marcou o grande público e a classe teatral inteira com a sua personalidade, sua presença, a força do seu trabalho crítico e incentivador do teatro”

Charles Fricks, ator: “Minha convivência com a Barbara foi maior durante as reuniões do conselho da Cesgranrio. Quando fiz a peça As artimanhas de Scarpino (de Moliére), tivemos uma leitura com a Bárbara. Lembro que foi muito forte é que aquela pessoa que era tão dura nas criticas, tinha um bom humor e uma alegria de viver que me surpreenderam positivamente. E isso continuou até os últimos dias, quando nos encontrávamos no Conselho da Cesgranrio. Era um bom humor constante, uma alegria de viver. E a maioria das pessoas não sabe que ela era assim. Além de toda aquela sabedoria e conhecimento, a Bárbara era sempre muito interessada em passar adiante o que ela sabia”.

Zézé Motta, atriz: “Tem pessoas que implicam com a crítica, mas eu acho que crítica faz parte. Uma vez, ela me criticou, mas para mim foi útil. Eu mexi no que ela tinha criticado e ficou melhor o 'show'. Enfim, foi uma grande perda. Mas ela deixou um legado que várias gerações vão ainda usufruir”.

Cristina Pereira, atriz:“Bárbara era uma pessoa importante para o teatro brasileiro. A opinião dela fazia parte do cotidiano do teatro. É uma grande perda. Era uma mulher de personalidade, uma intelectual, uma pessoa culta, conhecedora e amante do teatro. Ela fez parte das nossas vidas de atores, de operários da arte”.

José Dias, mestre e doutor em artes pela USP, cenógrafo e diretor de arte: “Ela é nossa decana da critica. Uma mulher que ensinou Shakespeare aos ingleses, para se ter uma ideia. Muita gente lia e não aceitava, mas aquele era o trabalho dela. 
A Bárbara era uma pessoa maravilhosa. Uma coisa era a Heliodora Carneiro de Mendonça  e outra a Bárbara crítica de teatro. E ela foi minha professora. Aprendi muito com ela e vivi momentos deliciosos, participando de muitas mesas e debates. Um diálogo com a Barbara no entardecer era um grande aprendizado. É uma perda irreparável e ela vai fazer muita falta".