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Mulheres de comunidade carioca fazem curso com dinheiro de multa trabalhista

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O projeto Samba, Moda e Sustentabilidade, financiado com recursos de multa trabalhista, fez a alegria de 20 moradoras da comunidade do Salgueiro, na Tijuca, que frequentaram curso de costureira, de agosto a dezembro do ano passado, no barracão da escola, na Cidade do Samba, zona portuária do Rio de Janeiro. Para tanto, receberam bolsa mensal de R$ 400 e auxílio-transporte.

O curso foi pago com multa de R$ 150 mil que o Ministério Público do Trabalho (MPT) requereu do Sindicato dos Empregados do Comércio do Rio de Janeiro, em razão do não cumprimento de acordo trabalhista de 2009. Da multa, R$ 115 mil foram destinados ao curso, de acordo com o procurador do Trabalho, João Carlos Teixeira.

Ele informou que foi o primeiro acordo que o MPT fez com o Instituto Pereira Passos (IPP), no Rio, para a utilização dos recursos de multas em ações sociais. Entre outras funções, o IPP, gerencia o programa Rio+Social na integração de políticas sociais, urbanas e de promoção da cidadania em áreas com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

O projeto teve a participação ainda da Escola Samba Acadêmicos do Salgueiro e da organização não governamental franco-brasileira Moda Fusion. “A multa em geral a gente coloca para reverter ao FAT [Fundo de Amparo ao Tralhador] ou a uma entidade pública ou privada que preste relevantes serviços sociais. Havendo acordo judicial, os recursos são utilizados para financiar projeto social”, esclareceu.

Para a advogada Patrícia Nascimento, responsável no Salgueiro pela área de projetos financiados por meio de incentivo fiscal, além de corte e costura, as mulheres da comunidade aprenderam a fazer artesanato, estampas, enfeites e acessórios, e serviu para aumentar a autoestima delas. “Elas hoje sabem que podem mais. Podem sonhar, podem se esforçar, e merecem respeito e cidadania. Acho que de todos os ganhos que tivemos com este projeto - e são muitos! -, este foi o maior. Hoje, elas são mulheres fortalecidas”, exaltou, e isso fica evidente nos depoimentos delas.

Lorena Moura, de 20 anos, e Neide Neves de Azevedo, de 61 anos, moram na comunidade do Salgueiro, na zona norte do Rio, e apesar da diferença de idade foram colegas de sala de aula. As duas participaram, com mais 18 vizinhas, do um curso de corte e costura, a partir de material reciclado dos desfiles de carnaval. A formatura foi esta semana, na quadra do Salgueiro, na Tijuca, com um desfile de moda para apresentar os figurinos preparados pelas novas costureiras do Salgueiro.

O curso foi no barracão do Salgueiro, onde a escola prepara o carnaval que levará para a avenida nos desfiles do carnaval de 2015. Para Lorena Moura, fazer o curso representou a possibilidade de inciar a carreira dos sonhos. “Aprendi a costurar e a montar roupa. Vai servir muito, porque eu quero seguir nesta carreira. Quero ser estilista e depois trabalhar com produção de moda. Sigo várias redes sociais para saber de tudo que está acontecendo”, revelou.

Lorena contou que até começar o curso não sabia costurar, embora já arriscasse nos desenhos. Nas aulas ela conseguiu aprimorar esta característica. “Gostei, e agora estou desenhando para caramba. Aprendi muita coisa lá, e estou pretendendo fazer um curso de moda no Vidigal [comunidade da zona sul do Rio], disse, já pensando no futuro.

Neide Neves de Azevedo também não sabia costurar, mas foi para as aulas com a intenção de aprender. “Apareceu uma oportunidade como essa e não vou aproveitar? Em abril faço 62 anos. Lá tinha umas jovens, e eu falava: vamos gente, vamos aprender!” - contou sorrindo.

Mesmo tendo que pegar ônibus e caminhar até chegar ao barracão, a dona de casa não reclamava. “Aprendi muitas outras coisas. Desenhar, fazer guirlanda, fuxico [peças artesanais feitas com retalhos, que podem ser usadas para a composição de colchas, tapetes, e objetos de decoração, entre outros], uma pena que acabou. A caminhada fez perder peso, beber bastante água, e todo mundo estava sempre rindo e brincando. Se pudesse, voltava”, diz, saudosa.

O curso significou também poder fazer mais uma atividade para se manter ocupada. “A idade vai chegando e [a gente] não pode parar. Quando estou de bobeir,a fico fazendo uns fuxicos. Isso é uma terapia. A gente tem que envelhecer com a cabeça boa”, sentenciou.