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Petrobras: suspensão de obras já causou demissão de 10.200 trabalhadores no Rio

Nesta semana 200 foram dispensados; sindicato estima mais 1.400 baixas nos próximos dias

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Canteiros de obras vazios e muito desânimo entre os funcionários. Este foi o cenário na manhã desta terça-feira (6/1) encontrado pelos trabalhadores das empresas terceirizadas pela Petrobras para as obras no Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). O motivo foi a demissão, nesta segunda-feira (5), de mais 200 empregados das empreiteiras, que após as denúncias de corrupção contra a estatal enfrentam uma forte crise financeira. A Associação Brasileira de Empresas de Serviço de Petróleo, com base no Rio de Janeiro, divulgou no fim do ano que cerca de 10 mil pessoas já foram demitidas no setor, após as denúncias de corrupção na Petrobras. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos (Dieese) também publicou no mesmo período, um estudo preliminar sobre o impacto que uma interrupção nos investimentos da Petrobras pode causar na economia. 

Com relação ao Rio de Janeiro, a pesquisa ressalta que em Niterói, na região Metropolitana, as empresas mais afetadas são os estaleiros Mauá, Eisa Petro-Um, Brasa, UTC e Enaval, que demitiram uma média de 600 pessoas em 2014, de um total de 12.000 trabalhadores no município. Os dados foram baseados em informações do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí.

As demissões desta segunda (5) partiram do consórcio CPPR, formado pelas empresas Odebrecht, Mendes Júnior e UTC. As informações são do Sindicato dos Trabalhadores Empregados nas Empresas de Manutenção e Montagem Industrial de Itaboraí (Sintramon), que vem acompanhando o processo de baixa dos funcionários das terceirizadas desde outubro do ano passado. Segundo o presidente do sindicato, Paulo Cesar Quintanilha, uma das empresas mais afetada com a crise é a Alumini Engenharia. Em outubro a Alumini começou a dispensar o seu pessoal nas obras, sem pagar, no entanto, a rescisão contratual. Os 469 ex-funcionários conseguiram no Ministério Público do Trabalho, em Niterói, um acordo extrajudicial para receber os direitos em três parcelas, que deveriam ser depositadas pela empreiteira nos dias 17, 19 e 22 de dezembro.

"A empresa só pagou a primeira parcela acordada na Justiça. Isso porque teve todas as suas contas bloqueadas por causa de uma ação referente à Refinaria Abreu Lima [em Pernambuco]. Lá [na Refinaria Abreu Lima] eles também dispensaram os funcionários sem pagar a rescisão e a juíza do caso bloqueou tudo [as contas]", contou Quintanilha. A Alumini alega também dificuldades pela falta de pagamentos de aditivos contratuais da Petrobras. 

Quintanilha contabiliza cerca de 2,5 mil empregados da Alumini ainda remanescentes nos canteiros de obras do Comperj, mas a maioria esmagadora com os seus salários atrasados desde dezembro. "Estamos com uma média de 180 agentes do sindicato dialogando com esse pessoal. Colocando à disposição deles o nosso departamento jurídico para eles tentarem na Justiça receber os seus direitos. Pretendemos entrar com uma liminar para tentar o desbloqueio da conta da Alumini para pagamento desses funcionários", adiantou o sindicalista.

Pelas estatísticas do sindicato, cerca de 18 mil trabalhadores de 16 construtoras mantém as atividades no Comperj. Uma das mais afetadas é a GDK S.A, com 250 empregados, atualmente, mas com uma média de 120 já demitidos no final do ano passado. "Se o ritmo de demissão continuar assim, teremos uma grave crise no setor, com certeza", avalia Quintanilha, que estima mais 1.400 baixas pelas empreiteiras até o final de janeiro. 

O presidente da Força Sindical do Estado do Rio de Janeiro, Francisco Dal Prá, confirma as estatísticas do Sitramon e acrescenta que raras empreiteiras não estão demitindo após a onda de denúncias de corrupção contra a Petrobras. Pelos cálculos da entidade, cerca de 60% dos funcionários das empreiteiras em obras da estatal já foram dispensados. E as estimativas apontam para mais demissões. "Enquanto a situação na Petrobras, referente a este esquema de corrupção, não for completamente esclarecida, esperamos [sindicatos e trabalhadores] por mais demissões", afirmou Francisco. Segundo ele, o clima entre os trabalhadores que ainda estão nos canteiros de obras da estatal é de muita insegurança, que deve refletir, gradativamente, na produção. "Quem hoje bate o seu cartão ao final do trabalho, não tem a certeza de fazer o mesmo no dia seguinte. Eles [trabalhadores] esperam por um aviso de demissão a qualquer momento", disse o sindicalista. 

O Comperj está localizado no município de Itaboraí, no Leste Fluminense, em uma área de 45 km², com a meta de expandir estrategicamente a capacidade de refino da Petrobras, visando o aumento da demanda de derivados como óleo diesel, nafta petroquímica, querosene de aviação, coque e GLP. A previsão de abertura da sua primeira refinaria é para agosto de 2016 e o projeto integral é orçado em US$ 13,5 bilhões.

Durante o ano passado, as empreiteiras foram alvo de investigação da Polícia Federal em um esquema ilícito, que apontaram para pagamento de propinas a políticos e a dirigentes da Petrobras para conseguirem obras milionárias da estatal. Parte dos pagamentos eram desviados em forma de doação para campanhas eleitorais. Depois disso, as empresas passaram a sofrer problemas financeiros e trabalhistas. Relatórios internos da estatal apontam indícios de que envolvidos no esquema interferiam na escolha das empreiteiras para a construção do Comperj.

Demissões por todo o estado, em áreas de atividades em torno da Petrobras

Em Macaé, interior do Rio, o Ministério do Trabalho contabiliza o triplo de ações trabalhistas no ano passado, em relação a 2013. Cerca de 65% dos empregos formais no município são referentes às atividades petrolíferas. Como vem acontecendo em outras áreas que tem atividades de empresas terceirizadas pela Petrobras, após a operação Lava Jato, Macaé sofreu uma forte desaquecimento no setor. 

A empresa Iesa Engenharia, fechou as portas e demitiu dois mil funcionários no final do ano passado. O mesmo destino teve a especializada em montagem de equipamento MPE, que mandou para a rua mais de 2,6 mil  empregados. A Dolphin Drilling do Brasil, do grupo norueguês Fred Olsen Energy, já anunciou a sua saída do país e mandou antecipadamente cerca de 300 trabalhadores embora. A empresa mantinha sondas de perfuração na Bacia de Campos, no Norte Fluminense.

Uma projeção da Associação Internacional de Empresas de Perfuração no Brasil destaca que cada sonda que deixa de funcionar, representa 340 empregos a menos. Segundo a entidade, a empresa Noble, por exemplo, que tinha nove sondas ativas na Bacia de Campos, atualmente trabalha com apenas uma.