ASSINE
search button

Após reintegração, não há previsão para entrega de apartamentos em Guadalupe

Compartilhar

A ocupação do conjunto habitacional do “Minha Casa, Minha Vida” em Guadalupe trouxe à tona questionamentos sobre a organização do programa. A parceria entre os governos federal, estadual, municipal; empresas e a Caixa Econômica Federal, tem como objetivo garantir o direito à casa própria. Para ter direito ao benefício, é preciso se cadastrar e esperar a entrega dos apartamentos.

Foi o que aconteceu em Guadalupe. Segundo a Prefeitura do Rio, que é a responsável pela entrega das chaves, os apartamentos seriam entregues no dia 15 de dezembro e ainda estavam em fase de finalização. Contudo, antes que a data marcada chegasse, o prédio foi invadido.

Grande parte dos ocupantes garante que não tem para onde ir. Alguns abandonaram seus barracos na favela Gogó da Ema, vizinha ao prédio, e outros saíram de comunidades próximas. Entre os ocupantes havia ainda aqueles que não tinham onde morar e, com a remoção, voltaram para as ruas. No Gogó da Ema os moradores vivem em condições precárias, sem abastecimento de água e em barracos de madeira, muitos deles antigos e desgastados. Em algumas vielas, as pessoas convivem com insetos e ratos.

O Jornal do Brasil entrou em contato com a Prefeitura e foi informado que não existem planos de auxílio aos que foram retirados pacificamente do conjunto habitacional na manhã desta quarta-feira (19). A Prefeitura disse ainda que, durante a remoção, 15 agentes sociais estavam no local para informar os ocupantes sobre como poderiam conseguir adesão aos planos sociais oferecidos pelo governo. Contudo, durante a remoção, um grupo procurou a imprensa para reclamar da falta de auxílio por parte da Prefeitura e da ausência de agentes sociais. No dia 12 de novembro, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que não faria o cadastro dos ocupantes. “Eu me recuso a fazer qualquer cadastro. Isso é um absurdo”, afirmou.

Sem terem para onde ir, algumas famílias ocuparam um campo de futebol, que fica em um moro, atrás da favela Gogó da Ema. Crianças e idosos estão acampados em baixo de árvores, com aquilo que conseguiram carregar durante a remoção. Alguns moradores da favela se ofereceram para guardar os pertences dos desabrigados em casa.

>> Famílias começam a deixar pacificamente condomínio ocupado no Rio

Voltar para os barracos abandonados não é uma opção viável para grande parte das pessoas. Uma jovem de 23 anos, que se identificou apenas como Paula, contou que morava com a mãe na favela Pedra Rosa. Ao saber da invasão, ela saiu de casa e se juntou ao grupo. Contudo, durante o período em que esteve lá, seu barraco foi ocupado por outra pessoa.  “Não temos para onde ir nos próximos dias”, garante.

Juarez Ferreira Lima, 58, está desempregado e disse que “o desespero falou mais alto” quando decidiu aderir ao grupo que tomou o condomínio. Enquanto juntava suas coisas para sair do prédio, ele disse: "Acabou o sonho. Era uma coisa que a gente achava que ia ficar, mas o jeito agora é morar na rua. Estou desempregado e não sei como vai ser".

Os caminhões, que deveriam auxiliar na desocupação, também se tornaram um problema. Segundo a Prefeitura, os carros seriam da construtora dos condomínios, que tem parceria com a Caixa Econômica Federal. Um dos caminhões, que deveria auxiliar no transporte de móveis e demais pertences, abandonou os objetos transportados a menos de 300 metros do Residencial Guadalupe. Segundo as famílias que estavam removidas, a justificativa dada pelo motorista foi que a região é perigosa e não havia segurança para realizar o transporte. Comerciantes e moradores das proximidades também se mostraram indignados. O Jornal do Brasil entrou em contato com a Caixa para confirmar a informação dada pela Prefeitura, mas ainda não obteve retorno.

Ainda não há previsão para a entrega das casas do “Minha Casa, Minha Vida”. Segundo a Prefeitura, é preciso avaliar se houve algum dano aos imóveis antes de prosseguir com o processo.

A ocupação

O condomínio destinado para receber cadastrados para o “Minha Casa, Minha Vida” foi ocupado no dia 9 de novembro. Cerca de 200 pessoas se instalaram nos apartamentos. Um homem armado com fuzis foi visto nas proximidades do condomínio. A suspeita é de que eles seriam traficantes, mas a identidade dele ainda não foi confirmada.

No dia 12, Eduardo Paes criticou a ocupação e afirmou que seria organizada por traficantes. "Ocupou tem que tirar. Ali é casa para pessoas humildes. Aquilo ali [ocupação] não é uma coisa de malandro, vagabundo, que tem que sair de lá. Tem que acabar com essa história. Não vamos cadastrar ninguém. Nós vamos cadastrar quem, de maneira ordeira, entra nos programas habitacionais do município e do governo federal. A gente já construiu nessa cidade quase 60 mil unidades do Minha Casa, Minha Vida”, disse o prefeito. 

No dia 13, a Justiça do Rio determinou a reintegração de posse do Residencial Guadalupe, que fica na Zona Norte da cidade. Desde então, ocupantes montaram barricadas para impedir a aproximação da Polícia Militar. Famílias que tomaram o condomínio denunciaram agressões por parte dos policiais, mas a PM nega. Durante a desocupação, policiais do BOPE fizeram revistas, causando revolta quando abordaram crianças. Ainda não há prazo para a saída dos policiais que se encontram em frente ao condomínio.

* Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil