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Moradores de Santa Teresa pedem revisão da política de segurança no Rio

Onda de assaltos no bairro fez mais uma vítima: o arcebispo da cidade

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Nem o arcebispo do Rio, cardeal Dom Orani Tempesta, escapou da onda de assaltos em Santa Teresa. Ele foi assaltado à mão armada na última segunda-feira (15). Se logo depois das instalações das UPPs na região, entre 2010 e 2012, a insegurança parecia ter diminuído, outros fatores começaram a influenciar na dinâmica da violência. A demora para a volta do bonde, que foi fechado em 2011 e acarretou um esvaziamento das ruas, o desgaste das UPPs e a falta de integração entre policiais do morro e do asfalto são problemas indicados pelos moradores. A situação vem se deteriorando em todo o Rio, com arrastões nas praias, mortes de policiais e tiroteios em comunidades “pacificadas”. O assalto a Dom Orani, que mora no Sumaré, evidencia o ponto levantado pela associação de moradores do bairro, que pede uma revisão da política de segurança do Rio.

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Os assaltos não se limitam a roubo de carros, mas também de moradores e de residências. Para Álvaro Braga, diretor da Associação de Moradores de Santa Teresa (Amast), é preciso uma revisão do policiamento feito no local. Ele pede por mais interlocução entre as polícias que cuidam das favelas pacificadas da área e do resto do território.

“Temos basicamente duas UPPS no bairro. Essencialmente nos morros do Prazeres e Escondidinho e outro no Fallet, Fogueteiro e Coroa. Acreditamos que elas foram um ganho para o bairro. Ouvíamos muito tiroteio antes delas e essas coisas diminuíram muito. Mas o crime é um fenômeno social, ele é dinâmico, mutante. A política de segurança também tem que ser. A questão das UPPS tem que ser repensada, sofrer uma modificação. Está se tornando inviável, como está” ,diz ele.

Uma de suas críticas é a falta de efetivo dos batalhões, já que a maior parte dos novos formados vai para as ocupações. Assim, as ruas da cidade ficam sem efetivo. Porém, mais importante do que isso, ele pede por uma maior integração entre a polícia e os moradores e também entre os próprios policiais.

 “Está se criando o risco de termos duas polícias, a policia do asfalto e a policia do morro, enquanto o que precisamos é a integração de todas as policias, acabar com essa cidade partida”, diz ele. Segundo ele, as viaturas da PM se concentram nas portas das comunidades pacificadas “Por que eles não circulam também no resto do bairro? Os recursos são escassos e tem que ser utilizados da forma mais inteligente possível”, comenta.

Uma das reclamações recentes dos moradores, por exemplo, é simples e poderia ser resolvida com mais inteligência. A falta do bonde é um problema constante na vida dos moradores do Bairro. As obras para a revitalização do meio de transporte segue, mas algumas situações causam revolta. No começo do mês, algumas peças avaliadas em R$37,2 mil foram roubadas. Uma viatura agora fica 24h por dia sete dias por semana nas eminências das obras, vigiando. Segundo Alvaro, visto a falta de segurança que os cidadãos tem que enfrentar, o deslocamento desses policiais para proteger o patrimônio causa indignação. “Não compreendemos isso: colocarem uma patrulha da policia para tomar cota do bonde, sem interrupções. A empresa do bonde poderia pode manter um vigia, ela é a concessionária das obras e do transporte”, diz ele.  

Jacques Schwarzstein também é diretor da Amast e complementa dizendo que o Conselho Comunitário de Segurança Pública já sugeriu ações específicas em Santa Teresa, um bairro co características bem diferentes do resto da cidade. 

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“Santa Teresa exige um policiamento diferenciado, porque é diferente de qualquer outro bairro da cidade, mas não é o que acontece”, diz Jacques. Entre as sugestões, um policiamento comunitário, onde os policiais sejam sempre os mesmos e conheçam o bairro, que tem muitas saídas, becos e vielas e conta com pontos críticos de uso de drogas e locais mais desertos. “Também sugerimos câmera nas principais saídas dos bairros, mas aí precisa de um monitoramento especifico para Santa Teresa e isso tudo tem um custo. Temos consciência que dificilmente se fará esse investimento. Mas fora isso achamos que a polícia de Santa Teresa tem que se articular com as Upps dos bairros. Não podemos ter várias polícias dentro de um lugar só”, completa.

Gabriela Mirrah é moradora do bairro e estudante de psicologia. Ela depende unicamente do transporte público para se locomover e vê uma relação entre o fim dos bondes e o aumento da insegurança.

“Ultimamente a onda de assaltos cresceu, mais especificamente desde o final do ano passado. O fim do bonde afetou também. Tem pouco transporte em Santa, tem pouco movimento no bairro em relação a outros lugares, pouco policiamento, não tem comercio perto. Quando tinha bonde eles passavam toda hora, tinha mais movimento, mais bares, as pessoas se locomoviam mais”, diz ela.

Gabriela dá um exemplo da exposição Santa de Portas Abertas, evento cultural onde artistas abrem seus ateliês para visitação. “Há alguns anos atrás eram cerca de 130 ateliês abertos, esse ano foram só 23. Sem bonde fica mais difícil das pessoas virem, se locomover por aqui. É um bairro residencial, não tem um mercado, padaria, banca de jornal ao longo das ruas. Essas coisas facilitam os assaltos”, diz ela.

Ela destacaria as escadarias e acessos aos Bairro de Fátima, a Rua Costa Bastos e as ruas de acesso à Glória como as mais visadas ultimamente. Além da falta do bonde, o transporte que visa substituí-lo é ineficiente. “Existem três linhas 006, 007, 014, além do bonde. Foi criada uma linha nova específica para cobrir o bonde. Mas o bonde tinha um horário certinho e as novas linhas não tem um horário certo e param de passar cedo”, diz ela. 

  * Do programa de estágio do JB