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Rio: Aumento no número de roubos pode ser reflexo de prejuízos do tráfico

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O aumento de 40% no número de registros de roubos no Rio de Janeiro, na comparação entre o 1º trimestre de 2013 e 2014, não surpreende os especialistas. Embora defendam que ainda é cedo para ditar as causas exatas dos dados apresentados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), a relação com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) não é descartada.

Para o professor do Instituto de História da UFRJ e líder do grupo de pesquisa História do Crime, da Polícia e da Justiça, Marcos Bretas, “a UPP abalou o sistema do tráfico. Então os traficantes estão perdendo dinheiro e tentando se recuperar desse prejuízo”. Assim, ele acredita que os criminosos podem estar cometendo assaltos para complementar o dinheiro que ainda ganham com o tráfico de drogas.

Bretas diz ainda que “estamos vivendo mudanças no perfil de criminalidade. A questão das UPPs não é completamente alheia ao movimento criminal”. Sobre a migração do tráfico para Niterói e a Baixada Fluminense, ele afirma que “faz sentido, tem muita lógica, mas não parece ser essa a única questão”. 

Perguntado, então, sobre as soluções para conter o avanço dos números de roubos, o professor explica: “no meu ponto de vista é preciso manter um pouco de política. É preciso investir na expansão das UPPs, treinar os policiais, ajustar alguns detalhes. A capacidade do estado de fazer isso é limitada. A médio e longo prazos os ganhos são para todos. Mas é preciso que haja uma política de controle. Segurança não se faz apenas com UPP. É preciso presença policial”. Sobre as políticas de segurança pública do governo do estado, Bretas reflete: “segurança no estado é basicamente UPP. As outras não são muito visíveis”.

Para o coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ, Michel Misse, existem “várias causas possíveis” para esses dados. Ele aponta a “diminuição da lucratividade do tráfico” como uma delas.

Misse também analisou o aumento significativo nas regiões específicas de Inhaúma, Realengo, Irajá, Penha e Ramos. “São perfis diferentes em cada região. Dessas cinco, algumas são áreas de UPP, o que pode se dar pela preferência de atuação dos traficantes próximo às áreas onde costumavam exercer controle. Do outro lado tem Realengo, por exemplo, que é uma área de milícias. É estranho que tenha sigo registrado um aumento de roubos porque os milicianos exercem algum controle nas áreas que dominam, inclusive vendendo segurança, o que é inaceitável”, avalia.

Dados

Os roubos de rua na cidade do Rio de Janeiro aumentaram 40% na comparação entre o 2º trimestre de 2013 e de 2014. Dados do Rio Como Vamos revelam que os registros subiram de 8.667 para 12.090. Neles estão incluídos roubos a transeuntes, de aparelho celular, roubos no interior de coletivo e no interior de transporte alternativo.

Das 33 regiões administrativas do município, apenas cinco apresentaram queda no volume de ocorrências. São elas: Campo Grande (de 277 para 187); Botafogo (de 456 para 347); Portuária (de 151 para 121), Ilha de Governador (de 137 para 119) e Centro (de 990 para 969 registros).

Por outro lado, outras cinco regiões da cidade tiveram o número de casos com aumento significativo. São elas: Inhaúma (de 155 para 340), Realengo (de 315 para 592), Irajá (de 359 para 666), Penha (de 237 para 439) e Ramos (de 228 para 419).

De acordo com a ONG, desde o 1º trimestre de 2013, os roubos de rua vêm subindo no município, saindo de 8.335 incidentes para 12.090 no 2º trimestre deste ano.