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Polícia suspeita de vazamento de informações na fuga de Ray Whelan, da Match

Vídeo mostra que executivo da Match deixou o Copacabana Palace às pressas

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A Polícia Civil do Rio de Janeiro acredita que tenha havido vazamento de informação que facilitou a fuga do executivo da empresa Match Hospitality, empresa parceira da Fifa, Raymont Whelan, do hotel Copacabana Palace, na Zona Sul da cidade, após sua prisão ser decretada pela Justiça, na tarde desta quinta-feira (10/7). Whelan está envolvido com a venda ilegal dos ingressos da Copa no mercado negro internacional e foi indiciado pelos crimes de  cambismo e associação criminosa. Um vídeo gravado pelos policiais mostra que Whelan abandonou a sua suíte no hotel às pressas, deixando a televisão ligada e as malas sob a cama.

O promotor do Ministério Público do Estado que investiga o caso, Marcos Kac, aconselhou a Polícia Civil a procurar a ajuda da Polícia Federal para evitar uma possível saída do executivo do país. Os policiais federais atuariam na inspeção das aeronaves particulares, já que Whelan teve o seu passaporte apreendido pela Justiça. O JB já havia alertado, em reportagens anteriores, que Whelan podia deixar o Brasil assim que fosse liberado pela polícia. O vídeo gravado pelos policiais da 18a. DP (Praça da Bandeira) também revela que Whelan deixou o luxuoso hotel por uma portaria usada apenas pelos funcionários, na companhia do seu advogado Fernando Fernandes. Após avaliar as imagens, a polícia também levantou a hipótese de processar Fernandes por facilitar a fuga do seu cliente.

Rumores dão conta de que uma aeronave particular, de propriedade de um diretor da Fifa, já teria partido com Ray Whelan para destino ignorado, inclusive deixado o país. A Polícia Federal e a Polícia Civil dizem desconhecer a informação. 

Pelas explicações da Assessoria de Comunicação da Polícia Federal, a logística do esquema de inspeção das aeronaves é feita dentro das limitações legais e nos aeroportos oficiais. Segundo a PF, houve a inserção das informações de Raymont Whelan no seu sistema de procurados e se o executivo tentar embarcar em qualquer aeronave nos aeroportos do Rio, inclusive no Aeroporto de Jacarepaguá, de onde partem os jatos particulares, será identificado e impedido de seguir viagem. A Ascom da PF ressaltou que a diligência ativa, ou seja, a busca e captura de Whelan, é de responsabilidade da Polícia Civil, que deve manter a vigilância nos helipontos particulares. 

O Jornal do Brasil entrou em contato com o hotel Copacabana Palace para questionar o pagamento da estadia de Ray Whelan, se foi feito de forma particular ou por alguma empresa nacional ou estrangeira. O hotel se recusou a fornecer qualquer informação sobre o executivo da Match. "Liguem para a Match ou para a Fifa, mas o hotel não está autorizado a dar informações sobre clientes", disse a Assessoria de Comunicação do Palace.

O Plantão Judiciário do Rio negou nesta sexta (11) o pedido de habeas corpus ao inglês Raymond Whelan. Segundo as primeiras informações da polícia, Whelan teria saído pela porta dos fundos do hotel por volta das 15h, uma hora antes da chegada dos policiais. Dos 12 indiciados por integrar a quadrilha, o executivo inglês era um dos dois que estava em liberdade graças a um habeas corpus concedido terça-feira (8). O outro era o taxista Marcelo Pavão da Costa Carvalho, que se entregou à tarde à polícia.

Nesta quinta, a Justiça do Rio de Janeiro aceitou a denúncia do Ministério Público e determinou a prisão dos envolvidos na máfia dos ingressos, inclusive de Ray Whelan. A ordem de prisão foi emitida pela juíza Joana Cortes, do Juizado Especial do Torcedor. O único que não teve o pedido de prisão solicitada pelo Ministério Público foi o advogado José Massih, por ter colaborado com as investigações.

O inquérito da Operação Jules Rimet foi recebido na quarta-feira pelo Ministério Público. Doze presos, incluindo o CEO da Match Services, única autorizada pela Fifa para comercializar os tickets, Raymont Whelan, foram indiciados pelos crimes de cambismo e associação criminosa. Ontem, a polícia pediu a prisão preventiva dos detidos desde o início da operação no Rio de Janeiro e em São Paulo.

O Jornal do Brasil  vem acompanhando de perto o caso e publicou, em primeira mão, denúncias a respeito do esquema de venda irregular de ingressos para a Copa. Inclusive, o JB já alertava para os riscos de Ray fugir antes de ser preso. 

>> Os bastidores da Fifa nas vendas de ingressos para a Copa no mercado negro

O caso traz à tona outro, que ocorreu há dois meses e que até agora não teve desfecho: um sargento do Corpo de Bombeiros foi flagrado vendendo ingressos para a Copa mas, até agora, o inquérito está parado.

>> Cambista na Copa: dois meses depois, bombeiro ainda não foi julgado

Veja mais reportagens sobre o caso Match/Fifa:

>> Jennings sobre Ray Whelan, da Match: "Ele sabe de absolutamente tudo"

>> Executivo da Match, Ray Whelan foi contratado pela CBF na gestão de Teixeira

>> PGR diz que não tem autonomia sobre relação Fifa-Match

Na quarta (9), o JB publicou uma reportagem revelando o Relatório Anual e o Demonstrativo Financeiro da Match referente ao ano de 2012, onde é detalhado um empréstimo da Fifa à empresa no valor de US$ 10 milhões, para ser investido no serviço de hospitalidade na Copa do Mundo de 2014 no Brasil. O documento foi enviado pelo jornalista e escritor britânico Andrew Jennings. O empréstimo, detalhado na página 19 do relatório, no item "Valores a vencer após um ano", foi feito de forma generosa, sem cobrança de juros e com o prazo de pagamento total para janeiro de 2015.

O conteúdo do relatório da Match destaca que grupo atua como provedor de serviços e agente de vendas para o fornecimento de soluções para acomodação, ingressos, transporte e hospitalidade para "Titulares de Direitos" e "Comitês Organizadores" dos maiores eventos esportivos internacionais. No tópico "Revisão dos negócios", é esclarecido que o grupo, este ano operando sob contrato com a FIFA para o "Escritório de Acomodação da FIFA", o grupo, esteve diretamente envolvido nos eventos da FIFA sub-17 Copa do Mundo México 2011; FIFA sub-20 Copa do Mundo Colômbia 2011; Copa do Mundo feminina da FIFA 2011; Copa do Mundo de Clubes da FIFA 2011; Copa do Mundo da FIFA 2014 Brasil (sorteio Preliminar); Congresso da FIFA 2011. Além desses trabalhos, o grupo ressalta que tem um contrato "de longo termo" com a Fifa por meio da subsidiária Match Services AG, para prover acomodação, ingressos e solução informática para a Copa do Mundo no Brasil, assim como aconteceu na Copa das Confederações, em 2013, também no país. O grupo também vendeu pacotes de viagem e acomodação para os jogos da "Ryder Cup" em 2012, no Medinah Country Club, em Illinois, nos Estados Unidos. E ainda tem um contrato com o Ryder Cup Europe LLP para estender as atividades do grupo para o novo ciclo de jogos até 2014. 

Ray Whelan foi libertado da 18a. DP (Praça da Bandeira) na última terça-feira (8), após pagar fiança de R$ 5 mil e por determinação de um habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ). A prisão temporária de cinco dias foi expedida pelo Juizado Especial do Torcedor, mas a desembargadora Marília de Castro Neves Vieira, considerou a prisão ilegal, pois desobedeceu o princípio da proporcionalidade. A Justiça reteve o passaporte de Whelan. Em nota, a Match informou nesta quarta (9) que Whelan vai devolver a credencial da Fifa. 

O franco-argelino Mohamed Lamíne Fofana, acusado de chefiar a quadrilha e preso no dia 1º de julho, segue detido no Complexo Penitenciário de Bangu, junto com outros 10 membros da máfia dos ingressos. A Justiça negou o habeas corpus de Lamine Fofana, permitindo o pedido de prisão preventiva pela PC, já que o prazo de prisão temporário do suspeito encerra nesta quinta (10).

Opinião JB - Copacabana Palace e a fuga de Ray Whelan

O pagamento das diárias do diretor fugitivo da Match, Raymont Whelan, no luxuoso hotel Copacabana Palace, claramente veio do esquema mantido pela máfia dos ingressos da Copa do Mundo. O Jornal do Brasil está ajudando a esclarecer um crime hediondo, não pela forma do delito, mas pelo cinismo e pela vergonha que um país passa por ver um estelionatário evadido da polícia internacional. Whelan é inglês. No Brasil não é difícil de se encontrar um inglês com essas características. Podemos lembrar, por exemplo, o histórico caso do trem pagador.

O que o JB estranha é o fato de um grupo estrangeiro que tem sede em Londres e capital aberto em Nova York, esse hotel conhecido no mundo inteiro, hospedar um criminoso  e ainda o manter nas suas acomodações mesmo após ele ser preso e indiciado pela Justiça brasileira. E depois ainda deixar que Whelan saia por uma porta lateral, usada somente por funcionários. Isso desqualifica a imagem do hotel.

E o hotel não o manteve sob vigilância e o permitiu abandonar a sua suíte sem avisar os policiais. E mais um detalhe fundamental: Ray Whelan saiu do Copacabana Palace quando a opinião pública já sabia que ele tinha a prisão preventiva decretada pela Justiça.

>> Copacabana Palace deve prestar esclarecimentos à Justiça na fuga de Whelan