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Comando do Batalhão de Grandes Eventos do Rio muda às vésperas da Copa

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Na contagem regressiva para a Copa do Mundo, o comandante do Batalhão de Policiamento de Grandes Eventos do Rio de Janeiro (BPGE), tenente-coronel Wagner Villares de Oliveira, abandonou o cargo e foi substituído por seu subcomandante, o tenente-coronel Heitor Henrique Pereira. A troca de comando foi anunciada no domingo (1º) no boletim interno da Polícia Militar. Em nota, a PM disse que “mudanças no comando das unidades são rotina na corporação”. O coronel Villares está na Diretoria-Geral de Pessoal, aguardando movimentação.

O BPGE foi criado em janeiro deste ano pelo governo do estado para atuar em multidões, seja em manifestações populares, jogos de futebol ou em qualquer outro evento esportivo ou cultural. O batalhão tem cerca de 600 policiais militares. 

Na sua edição desta semana, a Revista Veja publicou que a saída do comandante está relacionada com a falta de estrutura para o trabalho e os policiais do BPGE reclamam da alimentação precária, dos locais para descanso improvisados e sem conforto e do excesso de horas sem folga. A publicação afirma que a troca de comando "não foi um procedimento de rotina", como justificou a PM em nota à imprensa. E destaca que os policiais do batalhão foram escalados pela Secretaria de Estado de Segurança apenas para compor uma "coleção de medidas de gabinete criadas mais para ter impacto na opinião pública do que resultados de fato".

A reportagem da Veja entrevistou policiais do BPGE, que contaram detalhes da decisão de Villares. Eles disseram que o comandante entregou o cargo contrariado com a falta de estrutura do batalhão, que também é compartilhada com a tropa. A revista cita as postagens no Facebook do BPGE, que deixa claro o descontentamento dos policiais. 

A insatisfação começa com a instalação improvisada do batalhão, segundo a Veja, que ocupa um galpão cedido pelo Batalhão de Choque, na Cidade Nova, no Centro do Rio. Os PMs contaram que o local tem apenas dois vasos sanitários, duas torneiras e um bebedouro, cuja a água não tem condições de consumo. Sem mobiliário, a tropa aguarda as ordens de saída para as manifestações sentados no chão e após uma rotina pesada, descansam no mesmo lugar: no chão. 

Os policiais revelaram ainda que fazem plantões de doze horas e folgam 36, mas com as muitas manifestações na cidade, estão trabalhando por um período bem maior, além das frequentes convocações para reforçar o policiamento ostensivo em outros batalhões do Centro, Botafogo, Méier e Tijuca. "Nos bastidores, comenta-se que o empréstimo de soldados para outras unidades era um dos problemas que contrariavam o ex-comandante da tropa", afirma a publicação da revista. E durante as manifestações, os PMs são proibidos de se afastarem dos locais estabelecidos, mas não recebem lanches ou qualquer outra alimentação.

Os policiais comentam para a Revista Veja que Villares "era visto como um comandante que defendia a tropa e enfrentava o comando, mas foi vencido". Uma postagem em um perfil que se identifica como sendo do Batalhão de Polícia em Grandes Eventos e que foi citado pela Veja, comenta nesta quinta-feira (5) a troca de comando e a dedicação de Villares. "VAMOS AGUARDAR ALGUMA MELHORIA, ALGUMA MUDANÇA, QUE AJUDE E DEIXE A TROPA SATISFEITA, SABEMOS QUE O CEL VILLARES, TENTOU DE TUDO , MAIS ACIMA DELE TINHA UMA BUROCRACIA", diz a postagem. A Revista Veja destaca que entrou em contato com a PM e a corporação negou que o batalhão funciona em um galpão e também qualquer problema com alimentação.

A Polícia Militar disse em nota que mudanças no comando das unidades são rotina na Corporação e o Batalhão de Policiamento em Grandes Eventos não funciona em um galpão e sim nas antigas instalações do extinto 1º BPM, dentro do Batalhão de Choque. Como o prédio é centenário, algumas obras acontecem gradualmente para adaptar as instalações à tropa. Os policiais contam com alojamentos e camas novas. 

O comunicado diz também que o efetivo do batalhão hoje é de 600 homens e a escala é 12 por 36. "Dificilmente esse número de homens se reúne em um único dia. Segundo o comando, não há excessos na escala e nunca ultrapassa 12 horas de serviço. Os policiais recebem lanche no local de atuação. Quando chegam ao batalhão de Choque é servida refeição - seja almoço ou jantar. Eles são autorizados a, caso preferirem, realizar refeições no batalhão que estiver mais próximo após o serviço", garante a PM. 

O coordenador do Observatório das Favelas, Jailson de Souza e Silva, que acompanha o fenômeno das manifestações no Rio de Janeiro desde junho de 2013, observa que o fator mais relevante nessa troca de comando do Batalhão de Grandes Eventos é a manutenção da linha política estabelecida pelo estado para garantir a segurança da população nos protestos que devem acontecer durante a Copa do Mundo. "A preocupação fundamental nesse momento é o estado preparar essa tropa para lidar com a criminalidade nos movimentos. Esse é o grande desafio das Forças de Segurança. Se existe um grupo infiltrado nas manifestações que pratica atos de vandalismo, é responsabilidade do estado dar conta disso, mantendo a integridade da população", disse Jailson, enfatizando que as manifestações são legítimas e as Forças de Segurança devem atuar dentro das leis.