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Garis ganham aumento, professores nem são recebidos

A falta do professor só é percebida no futuro, a do gari é vista pela cidade e pelo mundo

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Em assembleia unificada, nesta quinta-feira (15), professores da rede municipal e estadual decidiram manter a greve. O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) afirma que nem o prefeito nem o governador querem ouvi-los ou recebê-los. O governo do Rio informou que começou a cortar o ponto dos professores a partir de ontem (14), quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux suspendeu o acordo do ano passado até a paralisação ser encerrada. 

O tratamento dado aos professores, com pouca conversa e reajuste anual de 8,32%, para a categoria que pede reajuste de 20% este ano, se mostra muito diferente das negociações com os garis, em março. Os garis fizeram paralisação durante o carnaval. Pediam um reajuste de 37%, que foi negado e dito como “impossível” pelo prefeito, que acenava com apenas 9%. Alguns dias de muito lixo acumulado depois, o aumento de 37% foi concedido. O acerto final representou um aumento de 300% da proposta inicial.

Hoje, o piso nacional para o salário do professor de educação básica é de R$ 1.697,39. O dos garis, depois do aumento conseguido através da mobilização, é de R$ 1.100. O impacto da greve dos garis na cidade foi perceptível por todos e pela imprensa internacional. A preocupação com a vitrine que é a cidade do Rio de Janeiro também. Mas os problemas da classe que sustenta e forma toda a sociedade, os professores, não podem ser mostrados com alguns dias de paralisação, apesar de representarem prejuízos bem maiores para a população, já que implica na educação e na formação intelectual e de princípios éticos de cidadãos.

“Na situação dos garis, sua falta tem um impacto muito grande na cidade, a questão do lixo cria uma série de problemas: saúde, mal estar, etc. E quando o professor fica em greve, só os alunos deixam de ir à escola. Isso ‘não representa’ um prejuízo para a sociedade em linhas gerais. E o governo acaba se utilizando disso”, comenta o sociólogo e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Eleonaldo Fernandes Julião. “Não tem prejuízo social para o poder publico a não ser que ele [o professor] se manifeste e tente mostrar para a sociedade”, completa.

“Nem o prefeito Eduardo Paes nem o Pezão querem nos receber”, comenta Gesa Linhares, coordenadora do Sepe. Sobre a decisão de Fux, ela afirma: “Eu acho que ele está equivocado. Acho que ele não está entendendo a situação. A categoria fez a reposição, nos dias determinados em assembleia. Não tem nada a ver, essa é uma nova greve, uma campanha salarial para 2014”, completa.

Ela ainda afirma que, nem o corte do ponto nem a questão do plano de 2013 são a preocupação principal dos profissionais da educação. “O que mais nos preocupa é a privatização das escolas, transformar a educação na mercadoria e ter ONGs e instituições ocupando o papel da educação pública”, critica a professora.