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Coronel: causas da morte indicam infarto

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De acordo com a Guia de Sepultamento do coronel reformado do Exército Paulo Malhães, de 77 anos, o militar morreu de edema pulmonar, isquemia de miocárdio e miocardiopatia hipertrófica. A descrição é compatível com infarto, o que afasta suposições sobre morte por asfixia, como se chegou a ser cogitado.

O corpo do coronel foi encontrado no quarto do casal pela viúva, Cristina Batista, 36, por volta das 22h de quinta-feira, em seu sítio em Cabuçu, no município de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Segundo a polícia, Malhães aparentava ter sido asfixiado, já que estava deitado no chão, de bruços e com o rosto num travesseiro.  A casa foi invadida e a esposa do coronel e o caseiro foram feitos reféns. "A investigação está muito preliminar ainda. Pode ter sido um latrocínio, uma vingança ou um crime relacionado com o depoimento prestado por ele à Comissão Nacional da Verdade", disse, na ocasião, o delegado Fabio Salvadoretti.

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade no dia 25 de março, Malhães falou sobre o desaparecimento dos restos mortais do deputado federal Rubens Paiva. Também informou que agentes do Centro de Informação do Exército (CIE) mutilavam corpos de vítimas da repressão na Casa da Morte (Petrópolis) arrancando arcadas dentárias e pontas dos dedos para impedir sua identificação.

Em nota, a Comissão da Verdade do Rio classificou a morte do coronel de reserva Paulo Malhães como “queima de arquivo”. Em depoimento à comissão há cerca de um mês, o coronel confessou ter participado de sessões de torturas durante a ditadura militar.

“As circunstâncias de sua morte apontam para uma queima de arquivo e uma tentativa de intimidação de outros agentes do aparelho repressivo do regime militar que, porventura, estivessem também dispostos a prestar depoimentos sobre os anos de chumbo”, afirma a organização, que pede a participação da Polícia Federal nas investigações.

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Sepultamento

O corpo do militar foi enterrado na tarde deste sábado (26), no Cemitério Municipal de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ele morreu ontem (25), quando três homens invadiram sua residência, onde também estavam sua esposa e um caseiro, no interior do município. Do local, foram levadas diversas armas que Malhães colecionava.

No cemitério, parentes evitaram falar com a imprensa. “A gente enterrou hoje o pai, o esposo, o avô das meninas. O coronel, o tirano, é para vocês. Para gente, ficou só o pai. O coronel da ditadura não era este que a gente conhecia”, disse a filha do militar, que se identificou apenas como Carla.

O genro do coronel da reserva, Nelson Viana, disse que a família não tinha ideia do que realmente teria acontecido na casa do militar. “Dizem que foi um assalto. Nós não temos hipótese.” Perguntado se Malhães sofria algum tipo de ameaça, Viana negou. “Ele nunca falou nada e a gente sempre respeitou isso. Nem antes, nem depois [do depoimento à Comissão Nacional da Verdade]. Ele sempre foi uma pessoa super reservada. Nunca comentou nada e a gente até foi surpreendido pelas entrevistas.”

Em depoimento à comissão, há um mês, o coronel Malhães foi o primeiro militar a admitir prática de tortura, assassinatos e ocultação de cadáveres de presos políticos durante a ditadura militar, tendo inclusive falado sobre o destino do corpo do deputado Rubens Paiva, morto pelos militares em 1971, mas até hoje não localizado, que teria sido jogado ao mar

Com Portal Terra e Agência Brasil