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"Daqui não saímos", diz ex-ocupante do prédio da Oi

Cerca de 100 pessoas estão acampadas em frente a prefeitura, esperando uma resposta do poder público

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A prefeitura do Rio de Janeiro, na Cidade Nova, amanheceu neste sábado (12) com cerca de cem pessoas acampadas nos seus jardins. O grupo vem da ocupação do prédio da Oi, em Engenho Novo, Zona Norte da cidade, que ficou conhecida como Favela da Telerj. O clima é de desânimo e tristeza. Desapropriado ontem, o terreno foi reintegrado à operadora de telefonia. As famílias dizem não ter para onde ir, e querem uma resposta imediata do poder público, tanto para a falta de moradia quanto para a forma como a remoção foi realizada na madrugada de sexta pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. O grupo promete ficar até pelo menos segunda-feira (14) em frente ao prédio, como protesto.

“Nós não estamos aqui porque queremos. Eu não quero aluguel social, nem nada, queria só um canto para morar. Daqui não saímos”, diz Marcela Araújo, de apenas 18 anos. Eles se propõem a ficar até segunda-feira, no mínimo, quando a prefeitura estará aberta novamente. Eles querem algum tipo de resposta para a situação. Segundo Marcela, ninguém ofereceu cadastramento no Aluguel Social, em nenhum momento. Declarou ainda que o que eles ficam sabendo é por meio da própria imprensa. “Eu espero da prefeitura consideração pelas pessoas. A gente não está tendo apoio do poder público”, completa.

Vivendo de favor na comunidade do Arará, em Benfica, também na Zona Norte, Marcela foi em busca de um espaço na ocupação do prédio da Oi. “Aquele prédio estava desativado há anos. A desocupação foi horrível, não entendi o por quê daquilo tudo. A polícia entrou de madrugada, quatro da manhã, não deixaram ninguém pegar as coisas. Pessoas deixaram documentos, roupas, todo mundo correndo para conseguir salvar alguma coisa”. Marcela conta que perdeu praticamente tudo que tinha levado para lá.

Segundo ela, a violência policial era indiscriminada: “Os policiais chegaram nos chamando de porcas, xingando de tudo quanto era nome. E a desocupação começou com eles gritando no alto-falante que era para a gente pegar tudo e sair, porque quando saísse ninguém poderia voltar”. Ela ainda informa que os policiais não usavam apenas bala de borracha, mas também armas letaos. Os manifestantes denunciam a morte de três crianças, pelo menos. Procurada, a Assessoria da Polícia Militar não atendeu a nenhum telefonema, nem respondeu ao e-mail enviado pelo JB.

Por volta das 15h, agentes da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS) estavam presentes no acampamento, para oferecer abrigo ao grupo. Um carro com quentinhas também apareceu, distribuindo comida. Apesar da preocupação dos moradores das crianças serem levadas, os agentes afirmaram que não haveria recolhimento compulsório das crianças - o que só poderia acontecer com aval do Conselho Tutelar. Procurada, a SMDS informou que todo o contato deve ser feito através da assessoria do prefeito, para não haver “desencontro de informações”. O assessor de plantão informou que no dia da desapropriação, 177 famílias foram cadastradas para receber o benefício de aluguel social e que qualquer cidadão pode ir nos postos da SMDS. Ele não soube informar a relação dos abrigos para onde as famílias seriam levadas nem se haveria vagas para todos, caso eles resolvessem aceitar acompanhar os agentes. Porém, esse não é o caso.

Marcela e os outros do grupo não querem ir para abrigos. “Nós não queremos ir para um abrigo conviver com mendigos, dependentes químicos... Além disso, vamos sair do abrigo e ir para onde? Não temos casa!” Em entrevista, Eduardo Paes comentou que não dá para simplesmente chegar na ocupação e falar que está todo mundo incluído no Aluguel Social, por senão "vai virar moda".

Segundo os manifestantes, a maior parte das pessoas que ocuparam o prédio vieram de favelas próximas, como Manguinhos, Arará e Jacaré. Ainda segundo eles, eram cerca de seis mil pessoas na ocupação. No local, o prédio está sendo cercado por tapumes de madeira e o portão principal foi fechado com concreto. Caminhões da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) estão circulando pelo local. No confronto de ontem, um rapaz foi gravemente ferido e está em observação no Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro. A Secretaria Municipal de Saúde confirma que Maicom Gonçalves tem um ferimento grave no olho, mas está estável. Ele é avaliado e deve passar por uma cirurgia, ainda sem previsão de data. A secretaria não confirma se o ferimento foi causado por um tiro de bala de borracha ou de outro material.

* Do Projeto de Estágio do Jornal do Brasil