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Blocos: banheiros químicos e guardas sobram na Zona Sul, mas faltam no Centro

Foliões compararam os desfiles dos blocos Bangalafumenga e Cordão do Boitatá

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Guardas municipais fazendo ronda por toda a região, banheiros químicos com papel higiênico e em uma quantidade mais adequada ao público do bloco, além de catadores de lixo que acompanhavam o desfile recolhendo latinhas para transformar em lixo reciclável. Esse foi o ambiente em um dos blocos de rua da Zona Sul do Rio, conforme constatou neste domingo (2) o Jornal do Brasil, durante o Bangalafumenga, no Aterro do Flamengo. A poucos instantes dali, contudo, o bloco do Cordão do Boitatá, na Praça XV, no Centro da cidade, sofria com acúmulo de lixo, por conta da greve dos garis, a falta de patrulhamento na região e a sujeira nas dezenas de banheiros químicos. Para os foliões que frequentam blocos em ambas as regiões, a desigualdade social não tirou férias nesse carnaval.

Segundo a Riotur, 90 mil pessoas desfilaram no Bangalafumenga, conhecido pelas suas músicas exóticas, que mesclam marchinhas de carnaval com ritmo de baião. Com início às 10h e concentração marcada em frente ao monumento dos Pracinhas, muitos foliões aproveitam a área militar para assistir ao bloco de camarote. Porém, apesar do número de banheiros ser proporcional ao público do bloco, e um mictório ficar praticamente inutilizado, muitos "mijões" optaram pelo estacionamento da área militar do monumento dos Pracinhas para fazer suas necessidades, arriscando desembolsar R$ 157 de multa. 

A Secretaria Estadual de Ordem Pública (Seop) informou que 165 mijões foram pegos hoje, sendo 47 mulheres e 13 estrangeiros. Sábado (28) foram detidos 117, dentre os quais 24 eram mulheres e dois estrangeiros.

Para a foliã mineira Gabriela Magalhães, de 28 anos, hospedada em Copacabana, o carnaval de rua na Zona Sul é "menos pior" que o da Zona Norte do Rio. “Com relação à segurança pública, realmente vemos mais patrulhamento na Zona Sul. Já sobre os banheiros químicos, eu não acho que sejam melhores, apenas em quantidades mais proporcionais ao público do bloco. Mas reconheço que senti sim uma diferença entre o bloco Exaltarei [Centro] e da Favorita [Zona Sul]. É um absurdo só ter banheiro ao raio de 1,5km”, disse.

Segundo a Riotur, mais de 20 mil banheiros foram instalados nos arredores dos principais blocos da cidade. 

Ainda no “Banga”, um grupo de gaúchas reclamou da falta de segurança nos blocos de rua. De acordo com a aniversariante de 44 anos, Raquel Cardoso, três das seis amigas foram assaltadas. Uma enquanto circulava pelas ruas da Zona Sul do Rio e outras duas em blocos. 

Apesar dos pesares, é carnaval. Logo, as fantasias criativas não deixaram de marcar presença nas ruas do Aterro. A estudante de direito da UFF Luisa Assunção, de 20 anos, incorporou o espírito de manifestações e desfilou com a bandeira mais conhecida das ruas do Rio: “Fora Cabral”. Confrontada sobre o motivo de tal escolha, a foliã declarou: “São tantas reclamações que eu não sei nem por onde começar, mas o modo ditatorial de governar, a falta de investimento em educação e em saúde e gastos excessivos na Copa do Mundo são alguns dos inúmeros motivos da minha fantasia”, explicou a jovem. 

Um casal também resolveu brincar na fantasia e escolheu a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) como tema. Para Daniel Elian, de 25 anos, a brincadeira faz sentido. “De duas uma: emendamos a JMJ e ficamos para o carnaval ou abandonamos a bata para cair na folia”, disse o estudante de mestrado em História.

Voltando ao assunto de segurança pública e infraestrutura nos blocos, a realidade no Cordão do Boitatá, que reuniu 45 mil foliões, estava completamente diferente. Apesar de o Jornal do Brasil não avistar brigas, como aconteceu sábado (28), no Cordão da Bola Preta, a quantidade de lixo nas ruas incomodava os foliões.

A atriz de 29 anos Julia Marini foi uma delas. De acordo com a foliã, o sentimento que paira nos blocos de rua no Centro é de descaso e abandono. “Toda hora a gente olha para os escombros da Perimetral [Elevado da Perimetral] e têm a sensação de que a cidade está desmontando. Quando chegamos ao Cordão do Boitatá, na Rua Almirante Barroso [centro], por exemplo, nos deparamos com uma quantidade enorme de lixo. Esse lixo, que chega a causar mau cheiro na cidade, retrata bem a cara do Brasil: Sujo!”, exclamou a foliã.

Ironizando a melancolia por detrás da demolição do Elevado da Perimetral, um casal se fantasiou de “Perimetral destruída”. Para a servidora pública Cristina Pol, de 35 anos, todo ano eles inventam uma fantasia especial para o Boitatá, e com o nó no trânsito do Rio, o trocadilho com “Descanse hein Paes?, Perimetral” era imperdível.

Dominique Mercaldo, de 21 anos, de Petrópolis, região serrana do Rio, foi mais uma das turistas brasileiras a comparar a infraestrutura dos blocos da Zona Sul aos da Zona Norte. “Quando fui ao bloco da Favorita [Zona Sul], encontrei banheiros químicos, inclusive, com papel higiênico. Aqui [Centro] não consegui nem entrar em um banheiro público, pois é extremamente sujo. Também não avistei nenhum guarda municipal, bem diferente na Zona Sul, onde toda hora passava um grupo de profissionais rondando a região. Se começasse um arrastão aqui, ninguém poderia nos ajudar”, contou a estudante. 

De acordo com a Guarda Municipal, 67 agentes fizeram o patrulhamento durante o bloco do Cordão do Boitatá e 46 escoltaram  desfile do Bangalafumenga.

* Do projeto de estágio do Jornal do Brasil