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Pane nos sinais: Especialistas afirmam que falta investimento e planejamento

Sinais de trânsito nas zonas Sul e Norte do Rio ficaram 6 horas com falhas na programação

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Pelo quinto dia consecutivo, o trânsito no Centro do Rio apresentou congestionamentos, desta vez intensificados pela pane no sistema de semáforos da cidade. O primeiro transtorno foi o fechamento do Mergulhão da Praça XV, que engarrafou o tráfego no Centro da capital fluminense. Em seguida, o prefeito Eduardo Paes divulgou que pretendia “diminuir a frota dos ônibus para minimizar os danos” na região. E nesta quinta (20), para completar o caos, os sinais falharam. Todos esses problemas causados à população foram por falta de planejamento da prefeitura, que colocou em prática o plano de obras sem um estudo prévio do tráfego.

Durante 6 horas, 11 centrais de trânsito ficaram com suas programações noturnas funcionando durante o período da manhã, com sinais piscando e fora de sincronia. Conclusão: Caos no trânsito em direção ao Centro do Rio. Para especialistas, os constantes problemas no setor estão relacionados à falta de planejamento da Prefeitura e de investimentos no sistema semafórico.

De acordo com o engenheiro de Transportes Urbanos e Mobilidade da UERJ, Alexandre Roujas, a falha de hoje demonstra que o sistema não é confiável. “Com a pane dos sinais, vemos que o sistema é suscetível a falhas. Provavelmente porque não deve ter suportado a demanda de sinais direcionados à ele. A questão é: A cidade já está bastante engarrafada, acidentes no trânsito são imprevisíveis e ainda problemas com os sinais? Assim o trânsito vira um caos”, disse.

Por meio de nota, a COR publicou que as 11 centrais de sinais tiveram “falha de comunicação”. Contudo, o chefe executivo do órgão, Pedro Junqueira, informou que o problema será apurado. “Nosso objetivo hoje foi solucionar o problema e normalizar o sistema. Não foi uma falha simples, como uma placa queimada ou falta de energia, então requer um estudo mais profundo para se chegar a causa da pane, mas estamos apurando”, explicou.

O professor de engenharia de trânsito da COPPE, Paulo Cezar Ribeiro, um dos responsáveis pelo projeto do sistema de sinais da cidade, em 1994, alerta que tal problema nunca foi detectado durante a fase de testes. “O projeto de controle de tráfego por área (CTA), feito por nós da COPPE, não apresentava esse tipo de pane. Na época, o sistema projetado era hierárquico e, portanto sempre que uma fase tivesse falha, outra abaixo assumiria, e assim sucessivamente, até chegar ao controlador central. O que pode ter acontecido, foi uma mudança na filosofia do controle, ou seja, de um sistema hierárquico, ter passado para um centralizado, o que explicaria tal pane”, justificou Ribeiro.

Para Alcebiades Fonseca, engenheiro eletricista, especialista na área de transportes, e coordenador do Clube de Engenheiros do Rio de Janeiro, houve falta de planejamento no setor. “O que está acontecendo é a urgência do planejamento. Como não houve um estudo prévio, se esqueceu da regulagem dos sinais. Podemos dizer que o sistema semafórico da cidade está funcionando de forma amadora, porque a pessoa vai atravessar a rua, com sinal aberto para o pedestre, mas encontra o sinal da outra pista também verde para os veículos. Não está tendo sincronia”, contou.

Fonseca também advertiu que a tecnologia do sistema está obsoleta. “O investimento nessa área depende da arrecadação das multas aplicadas. O dia que a população não cometer mais infrações não vai existir receita para esse tipo de investimento”, afirmou o especialista.

O chefe executivo do COR, contudo, garantiu que os equipamentos estão aptos para uso, mas que a tecnologia se move rapidamente e a cada diz é ultrapassada. “A tecnologia sempre precisa de reinvestimento, tem sempre um ponto onde pode estar melhor, mas isso é diferente de dizer que o sistema está obsoleto. Mas é possível que exista alguma máquina que aumente a estabilidade, mas como esse tipo de problema nunca foi identificado no sistema não tínhamos como prever algo tão grande”, explicou Pedro Junqueira.

Sobre o planejamento do trânsito no centro da cidade, por conta das obras, Alexandre Roujas disse que há falta integração entre os órgãos envolvidos. “Vários órgãos estão envolvidos no processo de mudança do trânsito no Rio. A Cet-Rio é apenas a ponta desse iceberg, uma ‘resolvedora’ de problemas gerados pelas obras. O problema central é a falta de integração entre todos os órgãos. Eles não estão pensando como um organismo. Se todos os órgãos envolvidos fossem harmônicos haveria uma maior previsão sobre os problemas, e consequentemente menos caos na cidade”, explicou o engenheiro.

 “O que está acontecendo é que a prefeitura gera o problema para o motorista resolver. Por exemplo, quando você está dirigindo em uma via e se depara com um acidente, você procura um caminho alternativo. É assim que o condutor no Rio está se locomovendo pela cidade”, afirmou o coordenador do Clube de Engenharia.

Internautas também demonstraram insatisfação com a confusão gerada no trânsito do Rio, devido a pane nos sinais. Nas redes sociais, um usuário diz que chegou três horas depois ao local de destino. Em outra postagem, uma mulher ironiza: “Sérgio Cabral e Eduardo Paes, que tal lançarem feriado até as obras ficarem prontas? Ninguém vai reclamar mais do trânsito e ficarão todos felizes”.  

Vale ressaltar que os motoristas que  ultrapassaram sinais fechados com pardal não serão multados, segundo o COR. "A foto da infração foi tirada, porque o radar estava funcionando, mas a multa não será gerada e enviada para a residência do infrator", afirmou o Pedro Junqueira.

* Do projeto de estágio do Jornal do Brasil