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Projeto Porto Maravilha: o erro começa no nome

Mudanças no trânsito da Zona Central causam engarrafamentos e transtorno para os cariocas

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Em quase três anos, o Projeto Porto Maravilha está impondo alterações no trânsito do Rio de Janeiro e vem gerando críticas e dor de cabeça para os cariocas. Como definiu o professor de engenharia de transportes da Coppe/UFRJ, Walter Porto Júnior, “essas intervenções nomeadas Porto Maravilha não vão ser uma maravilha. Acho que esse nome foi ironia”.

Com a justificativa de revitalizar a zona portuária, a Perimetral foi fechada e houve mudanças nos itinerários de ônibus intermunicipais. A Avenida Rio Branco também não escapou das alterações e, entre a Praça Mauá e a Presidente Vargas, a mão dupla não existe mais, deslocando todo o sentido em direção à Praça Mauá. Para o dia 16 de fevereiro, segundo calendário da CET-Rio, está previsto o fechamento total do Mergulhão da Praça XV, a implementação de mão dupla na Avenida Rio Branco e mudanças nos terminais e itinerários dos ônibus municipais.

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O professor acredita que “o que acontece no Rio é que não há planejamento de transporte. Por isso, a cidade está parando”. Para Walter, “É preciso dar prioridade aos coletivos e delimitar a construção de prédios grandes”. Ele explica que “um carro precisa de 20 vezes mais espaço que um ônibus para carregar o mesmo número de pessoas”.

Entre as alterações mais polêmicas causadas pelo projeto, que tem um orçamento de oito bilhões de reais e vai durar até 2016, estão o fechamento da Perimetral e do Mergulhão da Praça XV. Para os usuários de linhas intermunicipais, as alterações tornaram o trajeto ainda mais longo. Com o fim do Mergulhão, segundo divulgado pelo site oficial do Projeto Porto Maravilha, “os ônibus de linhas municipais deverão acessar a região do Centro pela Avenida Passos/Avenida República do Paraguai ou Avenida Rio Branco, e sair pela Avenida Presidente Antônio Carlos/Rua Primeiro de Março ou Avenida Rio Branco ou Rua da Carioca/Praça da República”.

Walter avaliou as alterações no trânsito como “desnecessárias e pouco planejadas”. Ele argumenta que “as justificativas apresentadas para as mudanças são fracas” e exemplifica dizendo que “fazer um túnel pode ser ótimo, mas é caro e, se tinha um viaduto, não precisava de um túnel!”.

Walter explicou que “as alterações no trânsito causam engarrafamentos porque confundem o motorista e fica todo mundo perdido. Elas alteram a rotina e causam tumultos”. Para o professor, “ao invés de desafogar o trânsito, eles estão aumentando a densidade de pessoas na área”. Uma saída para isso seria “o governo dar estímulos fiscais para deslocar algumas atividades para outros pólos. Grandes escritórios, comércio, supermercados e tudo aquilo que gere grande fluxo de pessoas”. Outra falha apontada por Walter é que “o centro do Rio é uma ilha, cercada de água de um lado e morro do outro, não tem para onde crescer. Precisa de planejamento”.

A voz das ruas

Segundo a CET-Rio, “para orientação dos usuários, foram instaladas faixas e placas de sinalização em todo o trecho onde haverá mudanças. O trabalho também inclui a participação dos agentes da concessionária Porto Novo, que estarão nos locais a partir deste domingo para tirar dúvidas dos cidadãos, distribuir folhetos e lembrar a importância do uso das passarelas, faixas de pedestres e do respeito à sinalização de trânsito”.

Contudo, a professora Andreia Soares, de 41 anos, relatou ao JB sua dificuldade em obter informações. “Estou completamente perdida. Agora eu tenho que andar quatro quarteirões para pegar o ônibus. Procurei os agentes. O primeiro indicou o caminho errado, outro rapaz me deu um panfleto, mas ele nem sabe onde eu tenho que ir. Esse é o terceiro agente que eu pergunto e não consegui nada também”, contou.

A aposentada, Lilian Dias, de 48 anos, também teve problemas com os agentes. “Está tudo ruim, estou mais perdida que outra coisa. Já era ruim a cidade, agora está pior. Os agentes estão mais perdidos que nós. Tenho que recorrer às bancas de jornal”, relatou Lilian.

Nilma Ramos, de 51 anos também não teve uma experiência positiva com as mudanças. “Para mim ficou muito confuso. Na hora do rush mudaram pontos, que ficaram mais distantes. A gente fica no ponto improvisado e mesmo assim eles não param. Tem sinalização, mas não ficou claro. O transito do Rio deu um nó!”, avalia Nilma.

Já para o administrador de empresas Maurício Modeck, de 53 anos, “as mudanças foram bem divulgadas, mas o povo não conseguiu se adaptar”. 

*Do projeto de estágio do Jornal do Brasil