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Evento no Rio expõe poluição em sede olímpica a estrangeiros 

Depoimentos de brasileiros e estrangeiros se dividem entre constrangimento e tom crítico

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Neste fim de semana, o Rio de Janeiro é palco da Copa Brasil de vela, evento de qualificação da modalidade para a Olimpíada de 2016. No entanto, mais do que as vagas, os organizadores locais dos Jogos Olímpicos têm outra preocupação para a disputa: a poluição das águas da Baía de Guanabara.

As críticas são recorrentes e se repetiram ao longo de 2012 e 2013. No entanto, no começo de 2014, ganharam corpo com mais uma visita de alguns dos principais competidores do mundo na vela. Entre brasileiros e estrangeiros, os depoimentos se dividem entre o constrangimento e o tom crítico diante da inércia das autoridades com a sujeira em um dos principais cartões postais dos cariocas.

“A gente vê sofá, porta, pedaço de cama, saco plástico pra caramba, garrafinha pet. Isso a gente não quer mais ver na Baía de Guanabara”, disse Martine Grael, que disputa a classe 49er FX com a parceira Kahena Kunze, em entrevista ao canal de TV por assinatura SporTV. Durante a semana, Martine encontrou uma televisão nas águas da baía, e registrou o momento com uma foto carregada de ironia, na qual “assiste” ao aparelho sobre uma prancha de stand up paddle.

O britânico Giles Scott, da classe Finn, apontou ainda outra ponto de atenção das águas cariocas. “Se eu não ficar doente, não vou me preocupar. Por isso é bom vir para cá dois anos mais cedo, para podermos ver se isso nos afeta. Até aqui, nenhum de nós ficou doente”, comentou, também em entrevista à emissora.

As críticas de janeiro de 2014 já haviam sido feitas antes por outros atletas da modalidade em visitas ao Rio. Em dezembro, o norueguês Allan Norregaard, medalha de bronze na Olimpíada de 2012 em Londres, disse que a Baía de Guanabara “é o local mais poluído” no qual já esteve, encontrando colchões, portas e sacos plásticos boiando. “Tivemos alguns acidentes, nos quais os atletas foram para a água e voltaram com manchas vermelhas no corpo. Não sei o que há nesta água, mas definitivamente não é saudável”, completou.

O britânico Ian Barker foi além, comparando o local a um esgoto. “É absolutamente nojento. Algo precisa ser feito com isso. Mas você precisa de vontade política para essas coisas acontecerem – e, no momento, não há nenhuma”, declarou na ocasião, segundo informações da agência Associated Press.

Do lado do Comitê Organizador da Olimpíada de 2016, o presidente Carlos Arthur Nuzman se defende. Os governantes locais alegam ter reduzido 80% da poluição flutuante na Baía de Guanabara, mas os atletas temem que a questão não esteja resolvida nos próximos dois anos.

“A poluição da Baía de Guanabara tem sido objeto de conversa nossa com o governo estadual. O trabalho de poluição está sendo feito. Mas isso leva ainda um certo tempo. Não se despolui uma baía de uma hora para outra”, afirmou Nuzman, presidente também do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e que descarta a troca da sede do evento na Olimpíada do Rio.

“Dificilmente a Baía vai estar 100%. Não é um problema de solução simples e imediata. É uma coisa que demanda educação das pessoas, investimentos grandes de infraestrutura, saneamento, várias coisas que não vão acontecer de uma hora para outra. Temos um programa de despoluição de mais de 20 anos e poucos frutos. Muita coisa pode ser feita até 2016, mas o tempo está passando e as mudanças estão aquém do que a gente deseja”, lamenta Torben Grael, reinador-chefe da equipe de vela do Brasil.

Em meio a mais uma série de críticas, que devem se repetir nos próximos anos, a Copa Brasil de vela chega a suas decisões neste sábado. O principal destaque nacional é Robert Scheidt, que venceu as duas regatas da sexta-feira na classe Laser e que disputa a medal race como favorito à vitória. Nas oito regatas anteriores, Scheidt venceu sete.