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Pane em trem do Corcovado reforça desorganização do turismo no Rio 

Passageiros ficaram duas horas aguardando socorro. 

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Durante a noite desta sexta-feira (3), um problema técnico em um dos trens do Corcovado, que realizam o transporte dos visitantes ao monumento, gerou transtornos entre os turistas que desciam do local. A pane na composição, que descia às 19h50, impediu o prosseguimento da viagem e deixou os cerca de 120 passageiros aguardando por duas horas no meio da floresta até receberem socorro, quando outro trem foi enviado para realizar a descida dos visitantes. O episódio é só mais um exemplo do despreparo do Rio para receber turistas, que têm de enfrentar, entre outros problemas, a extrema desorganização e a falta de infraestrutura da cidade.

Durante o resgate, turistas reclamaram da pouca assistência que receberam e da desorganização no momento da transferência de passageiros. O conserto da composição defeituosa, que quase foi realizado com os passageiros embarcados, também foi criticado. Alguns disseram que, na hora da transferência para o trem que seguiria com os passageiros, não havia lanterna para auxiliar no caminho, e foi feita em total escuro. Outros ainda não conseguiram realizar a visita.

Nos últimos dias, o serviço do bondinho do Corcovado foi duramente questionado, por conta da dificuldade em atender a enorme demanda de turistas. Enormes filas se formaram, e o serviço de vans teve que ser acionado para complementar a função dos trens. No Pão de Açúcar, o cenário foi o mesmo. Nesta quinta-feira (2), no monumento do Cristo Redentor, o trem de acesso interrompeu a venda de bilhetes por volta das 13h, o que gerou uma longa fila de espera por vans e táxis. A fila de espera chegou até a Avenida Pasteur, na Urca. Muitos não conseguiram ingressos para realizar a visita aos dois pontos turísticos ou desistiram, e o clima entre os turistas era de frustração. 

Para tentar contornar a situação, o secretário municipal de Turismo, Antonio Pedro Figueira de Mello, convocou uma reunião com o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Roberto Vizentim, na próxima segunda-feira (6). A reunião foi marcada em um telefonema nesta sexta-feira com o ministro interino do Meio Ambiente, Francisco Gaetani.

Questionada sobre a fiscalização do serviço prestado nas gestoras dos pontos turísticos, para evitar episódios como o dessa sexta-feira, a RioTur afirmou em nota de sua assessoria que a secretaria está sempre em contato com empresas responsáveis, “para exigir que o serviço prestado seja de qualidade proporcionando conforto aos visitantes”. Ainda acrescentou que em “situações complicadas” como as dos últimos dias, a atuação da secretaria se intensifica.

O caso é só mais uma das dificuldades que os turistas têm encontrado na cidade durante a alta temporada desse verão. Problemas de segurança se repetiram esse ano durante o Réveillon em Copacabana, uma das festas mais famosas e tradicionais no Brasil. Assaltos, furtos e arrastões fizeram parte da festa e a atuação da polícia durante o evento foi duramente criticada.

Problemas de infraestrutura também foram enfrentados: a Prefeitura disponibilizou apenas 300 banheiros químicos para as mais de duas milhões de pessoas aglomeradas. O tempo médio de espera foi de 40 minutos. Para completar a série de inconvenientes, um tiroteio, que deixou 12 feridos, tornou ainda mais difícil a virada de ano de turistas e moradores da cidade. Os disparos aconteceram quando policiais tentaram evitar a agressão de um marido, Adilson Rufino da Silva, contra sua mulher, em Copacabana. Apesar do perigo que o tiroteio representou para quem participava do Réveillon em Copacabana, o prefeito Eduardo Paes minimizou o incidente, dizendo que foi um "ponto fora da curva".

Além de tudo isso, o atendimento nas delegacias do bairro foi caótico. Lotadas de vítimas de roubos e furtos, as delegacias prestaram serviço extremamente lento e os pertences recuperados não tinham nenhum tipo de organização ou controle. Vítimas reclamaram que apenas uma atendente prestava assistência aos que tentavam realizar as ocorrências de turistas brasileiros e internacionais. Foram 144 registros de roubos e furtos na noite de Réveillon.

Problemas refletem em queda de ocupação em hotéis

Todas essas falhas de organização têm reflexos no desempenho do turismo na cidade. De acordo com divulgação da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH), houve redução na ocupação de quartos de hotéis no Rio em relação ao Ano Novo do ano passado. Segundo a associação, a média de ocupação chegou a 86,15%, seis pontos percentuais a menos que no mesmo período de 2012, quando a média de ocupação chegou a 92,32%.

Em todos os bairros, os hotéis apresentaram queda de reservas. Leme e Copacabana, na zona sul, foram os que tiveram a maior taxa de ocupação, com 94,24%. No ano anterior a taxa beirou os 100%. Ipanema e Leblon apresentaram a segunda maior taxa, 91,69%, enquanto 2012 registrou 92,94%. O centro teve a maior queda: a taxa de ocupação passou de 93,6% no réveillon de 2012 para 82,9%.

O presidente da ABIH, Alfredo Lopes, aponta que os problemas estruturais e de serviço no Rio contribuem para que a cidade não aproveite todo o seu potencial turístico, ficando atrás de diversas cidades ao redor do mundo. Segundo ele, as lacunas que precisam ser preenchidas são inúmeras e afirma que falta iniciativa do governo e da Prefeitura em promover campanhas de divulgação da cidade.

“Acho que realmente tem muita coisa problemática, uma lista de coisas, que podemos ficar falando aqui para sempre. O Rio tem, sim, uma falta de estrutura absurda. O turista chega ao nosso aeroporto internacional, e é pior que rodoviária de quinta. Vai mostrar a cara para o mundo com estrutura portuária defasada, por exemplo. Na África do Sul, os aeroportos funcionavam perfeitamente. São problemas vistos logo na entrada. Falta mesmo uma ação do governo, porque a iniciativa privada não tem capacidade de divulgar. É preciso investimento e campanha”, exige Alfredo.