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Moradores de Nova Iguaçu ainda sofrem com descaso da Prefeitura 

Benefício "Aluguel Social" ainda não tem previsão para ser liberado às vítimas das chuvas

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Quase um mês depois das fortes chuvas que destruíram grande parte da Baixada Fluminense, principalmente o município de Nova Iguaçu, os moradores do local ainda reclamam do descaso da Prefeitura. Abandonados e sem suas casas, afirmam que o estado dos bairros mais atingidos ainda é preocupante, que a Prefeitura não atende as ligações da população e que os recursos do Aluguel Social, benefício temporário destinado a atender famílias das áreas de risco ou desabrigadas, ainda não foram liberados. Em Austin, alguns moradores tiveram que voltar para suas casas danificadas e outros estão abrigados em residências de amigos e familiares.

Wagner da Silva, morador do bairro, reclama que a Prefeitura sequer atende as ligações dos moradores e que o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), um dos órgãos que coordenam o Aluguel Social na região, pede para que as famílias "aguardem" a liberação do recurso. O benefício deve ser pago por 12 meses, e pode ser prorrogado caso seja necessário, ou até que as famílias sejam realocadas.

“Me pediram papéis, documentos [para realizar a inscrição no programa], e desde o dia 12 [de dezembro] eles mandam aguardar. Eu estou morando na casa dos outros. Eu liguei hoje para o CRAS, porque a Prefeitura não atende, mandaram só esperar, que seria liberado segunda-feira agora (6) ou só dia 10. Até agora, eles dizem que estão fazendo cadastro, dizem que as pessoas que estão na casa dos outros são prioridade, mas até agora nada. Meu medo é que caia no esquecimento”, teme.

Além da demora em receber o dinheiro, Wagner afirma que a Prefeitura informou que pretende reduzir o valor do benefício. Estipulado primeiramente em R$ 500, os moradores receberam a notícia de que o valor passará a ser de R$ 450, segundo Wagner. “Agora ficamos sabendo pela Prefeitura que serão R$ 450. Mas não recebemos nem isso ainda, só mandam aguardar”, reclama.

Enquanto a Prefeitura pede que a população aguarde, Wagner afirma que o bairro ainda sofre com a falta de água. Segundo o morador, a região ficou 10 dias sem água, foi religada na terça-feira (31), mas voltou a ficar sem o serviço nesta quinta-feira (2). “O problema é água mesmo. Tem 10 dias que estamos sem água, só caiu anteontem, mas hoje estamos sem água de novo”, lamenta Wagner.

Além dele, a moradora Loimir Souza também aguarda pelo recurso beneficiário. A empregada doméstica perdeu tudo: a casa, móveis, roupas, objetos pessoais. Agora, está temporariamente na casa de um amigo, com os filhos. Os pais, que moravam com ela, tiveram que ficar com outro conhecido da família. Loimir já realizou a inscrição no programa, mas, assim como os outros moradores, ainda aguarda o recebimento do dinheiro. “Já fiz a inscrição no programa, mas mandaram esperar. E agora estamos esperando a boa vontade deles [Governo]”, explica.

Loimir ainda reclama do descaso do poder público, e afirma que tanto a Prefeitura quanto o Governo do estado abandonaram os moradores. “Não fazem nada, simplesmente abandonaram a gente, e estamos aguardando para ver o que a gente faz da vida. Queremos o dinheiro para tentar alugar uma casa e juntar a família de novo”, lamenta.

Já a moradora Tânia Lyrio ainda reside na casa danificada pelas fortes chuvas. Antes, ela e a família dormiam e se alimentavam na Escola Municipal Walfredo da Silva Lessa, que oferecia abrigo às vítimas da tragédia. Agora, sem ter para onde ir, Tânia retornou à sua casa, infestada pelo mau cheiro e com risco de contágio de doenças. A moradora já foi internada duas vezes e o marido também ficou doente. Assim como Tânia, sua nora, mãe de três crianças, também retornou para a moradia arriscada.

“A gente está na nossa casa, mas ela está com muito mau cheiro. Já fui internada duas vezes, peguei uma bactéria da água. Tenho uma criança de três anos, um menino com 15 anos, que é deficiente visual, e tem outro de 20 anos. Meu marido está doente também. Não recebemos ajuda nenhuma, ninguém ajuda não. Antes, a gente ficava no colégio onde as crianças estudam. Comia lá, tomava banho, e durante o dia voltávamos pra casa, porque o pessoal podia invadir ou roubar. Mas cortaram a alimentação e tivemos voltar para casa. Não temos para onde ir. A minha nora também está na casa dela, que caiu a parede e vai despencar. Ela tem três meninas, e não tem outro lugar pra ficar”, conta Tânia, e afirma que “o pessoal não tem apoio de ninguém” na região.

A reportagem do JB tentou entrar em contato com a Prefeitura de Nova Iguaçu, através dos números (21) 2668-6774 e (21) 3773-5404, disponibilizados no site oficial do órgão, e com diversas unidades do CRAS na região, durante toda quinta-feira. Nenhuma das ligações foi atendida.

*Do programa de estágio do Jornal do Brasil