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Dia Nacional de Combate à Dengue sem ações preventivas no Rio

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No Dia Nacional de Combate à Dengue, celebrado nesta terça-feira (05), seguindo o calendário do Ministério da Saúde, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) não realizou nenhuma ação de conscientização ou prevenção da doença. A postura do órgão representa o retrato da omissão do governo em garantir que este verão tenha uma incidência menor do mosquito transmissor entre a população carioca, que todo ano sofre com os surtos da doença.

Durante o resto do ano não deve ser diferente. Também questionada sobre as ações previstas no combate à dengue, a SMS não informou um cronograma de medidas preventivas nem se a rede municipal está se preparando adequadamente para atender os milhares de possíveis infectados durante os picos de dengue.

Para o médico clínico Eraldo Bulhões, que pesquisa a doença há mais de 30 anos, os investimentos são poucos, tanto no controle dos locais de proliferação do mosquito, quanto na educação da população. "No Rio, a doença já tem território garantido nas lajes e nas carcaças de automóveis. Não tem política para controlar isso, esses lugares abandonados. O ensino da doença é desencontrado, inclusive nas escolas, e não se aprofunda a questão, o trabalho realizado hoje não tem fundamento cientifico", critica.

Ainda segundo o médico, o governo tem que assumir as responsabilidades do contágio, e não culpar a população. "É uma irresponsabilidade culpar o cidadão, se não tem política [de prevenção]. O governo culpa a dona de casa, o vizinho, e não tem medidas preventivas efetivas, não tem controle nenhum, não tem estrutura, e é sempre culpa da população", completa.

Eraldo também prevê um surto de epidemia no primeiro semestre do ano que vem, entre fevereiro e maio, época favorável para a proliferação do mosquito aedes aegypti. O especialista prevê mais de 200 mortes entre jovens no período, apenas na cidade do Rio.

Já o pesquisador Ricardo Lourenço, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), tem uma visão mais otimista da gestão de saúde em relação ao controle da doença, mas assume que a situação não é perfeita. "Há um certo investimento em relação ao controle da doença, existe um programa nacional de controle da dengue, e o município tem que seguir essa orientação de um comitê nacional. Existe financiamentos federais à pesquisa de estudos da doença, é lógico que poderia ser melhor, mas dentro das possibilidades do país, o quadro é bom", revela, levando em conta os incentivos federais.

Para ele, as ações do governo são essenciais, mas a população também tem que fazer a sua parte. "Trata-se de uma doença exclusivamente vetorial, com grande ligação com o ambiente da casa, em que o homem vive, e essa questão do controle também depende da ação do cidadão", defende.

Sintomas e tratamento

A dengue é uma doença viral transmitida pelo seu principal vetor, o mosquito Aedes aegypti, que se desenvolve em áreas tropicais e subtropicais. O vírus causador da doença possui quatro sorotipos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. A apresentação clínica da dengue pode ser dividida em dois tipos, de acordo com o Ministério da Saúde: a dengue clássica e a dengue hemorrágica. Ambas apresentam sintomas, geralmente após 3 dias de contágio, como febre alta com início súbito, forte dor de cabeça, dor atrás dos olhos, perda do paladar e apetite, manchas e erupções na pele semelhantes ao sarampo, principalmente no tórax e membros superiores, náuseas e vômitos, tonturas, cansaço, dor no corpo, nos ossos e articulações.

A diferença da dengue hemorrágica consiste nos sintomas que surgem no momento que a febre cessa, como dores abdominais fortes e contínuas, vômitos persistentes, pele pálida, fria e úmida, sangramento pelo nariz, boca e gengivas, manchas vermelhas na pele, sonolência, agitação e confusão mental, sede excessiva e boca seca, pulso rápido e fraco, dificuldade respiratória e perda de consciência.

Não há tratamento específico, e a recomendação essencial é combater a desidratação, como recomenda Eraldo Bulhões. Para ele, a cura da doença está na hidratação intensiva do paciente e acredita que as políticas públicas deviam incluir a conscientização sobre a necessidade da hidratação e como fazê-la. "Para diminuir as mortes, é preciso curso intensivo e massificado do que é hidratação, nada disso é ensinado. O remédio é hidratar", finaliza.

Gabriella Azevedo

Programa de Estágio do Jornal do Brasil