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Entidades e especialista criticam as mudanças no trânsito do Rio 

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O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), decretou o fim da utilização de um dos principais trechos do Elevado da Perimetral, que começa na altura da Rodoviária Novo Rio e vai até o bairro da Gamboa. A medida provocou a reação de especialistas em mobilidade urbana e de entidades ligadas aos transportes públicos, através de estimativas pessimistas no primeiro dia útil de fechamento da Perimetral e de uso da Via Binário do Porto. 

O trânsito no Centro deu um "nó" na manhã desta segunda-feira (4/11) e a prefeitura admitiu que o tempo de deslocamento do trabalhador deve aumentar em 30% nos próximos dias. A Associação dos Usuários de Transportes Coletivos de Âmbito Nacional (Autcan) quer entrar com processo contra o governo municipal e pedir na Justiça indenização aos trabalhadores que se sentem prejudicados com as mudanças. Já o presidente do Departamento Estadual de Transportes Rodoviários (Detro), Rogério Onofre, chamou o prefeito de "irresponsável" por antecipar a demolição do trecho do elevado. 

>> Fim da Perimetral provoca um caos no trânsito do Rio nesta segunda-feira

O especialista em Engenharia de Trânsito e Mobilidade Urbana da UFRJ, Alexandre Roujas, avaliou neste primeiro dia de mudança que o projeto da prefeitura não vai funcionar e a demolição da Perimetral "não tem sentido e nem justificativa", já que as alternativas de mobilidade apresentadas pela Secretaria Municipal de Transportes não são eficientes. Roujas explicou que a eliminação das faixas da Perimetral vai diminuir o espaço para os veículos transitarem, pois as novas vias são bem mais estreitas e os engarrafamentos devem persistir na cidade. "A Via Binário tem muitas curvas fechadas, estreitas, o que prejudica o fluxo dos veículos. A prefeitura já havia previsto esse fato em estudos e sabe, também, que esse quadro não vai melhorar", disse o especialista.

Para Roujas, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) e o Porto Maravilha terão que reajustar o projeto de trânsito no Centro, para tornar viável o deslocamento da população. "O que eles estão discutindo, pelo menos por enquanto, é o tamanho da confusão que foi instalada na cidade com o novo esquema de trânsito. Eles já têm a certeza de que esta não foi uma boa alternativa", comentou Roujas. Os usuários das principais vias de acesso ao Centro da cidade, a Avenida Brasil, Linhas Vermelha e Amarela, serão os mais prejudicados, segundo ele. E para melhorar a situação do trânsito, será necessário abrir outros acessos, como ruas que se encontram interditadas para obras ou rotas alternativas. "Isso pode melhorar, no máximo, 10% o engarrafamento nas ruas do Centro. Temos que considerar que o fluxo na Região Portuária é enorme e forma um funil com o trânsito carregado que vem das vias expressas, da Baixada e zonas Norte e Oeste", estimou Roujas. 

O presidente da Associação dos Usuários de Transportes Coletivos de Âmbito Nacional (Autcan), Waldir Cardoso, disse que o prefeito Eduardo Paes foi "arbitrário", não obedeceu as normas públicas e desrespeitou a população ao iniciar a derrubada da Perimetral. "O combinado era, primeiro fechar o elevado e avaliar os impactos no trânsito, somente no dia 17 de novembro iniciar as obras. Por que ele não seguiu o cronograma? Isso foi um grande erro e desrespeito com a população que usa o transporte público e mesmo com os motoristas. Todo mundo saiu prejudicado", reclamou Cardoso. 

Os membros da Autcan vão se reunir nesta terça-feira (5) para atualizar um documento formulado pelos advogados do órgão, contendo análises e solicitação de medidas urgentes para amenizar os impactos das mudanças no trânsito. Esse relatório será entregue até quarta-feira ao prefeito Eduardo Paes e ao secretário de Transportes, Carlos Osório. "Se a prefeitura não se pronunciar imediatamente, apresentando uma proposta viável, vamos entrar com uma ação na Justiça contra o governo municipal, pedindo indenização aos trabalhadores que não conseguem mais chegar no horário em seus empregos e em nome de todos aqueles que se sentirem prejudicados com as mudanças radicais impostas pelo prefeito e sua equipe. E amanhã ainda vamos avaliar a região portuária e locais de maior engarrafamento no Centro para incluir um parecer bem atual no documento. Ele vai completo", anunciou Cardoso. 

Enquanto o primeiro trecho da Perimetral começava a ser demolido, o presidente do Departamento Estadual de Transportes Rodoviários (Detro), Rogério Onofre, se manifestou, prevendo um dos maiores engarrafamentos da história da cidade. Onofre chamou o prefeito Eduardo Paes de "irresponsável" por ter antecipado a demolição, antes mesmo de saber se o plano para reduzir os transtornos deu certo. "Sempre fomos contra derrubar a Perimetral antes da avaliação dos impactos. Destruir o elevado antes do previsto é uma irresponsabilidade", disse Onofre, adiantando que os técnicos do Detro estavam empenhados na produção de um relatório sobre os impactos da mudança e que seria entregue ao governador do Rio, Sérgio Cabral, até as 10h desta segunda.

Já na manhã desta segunda, Onofre, que é responsável pela fiscalização dos ônibus intermunicipais que transportam cerca de dois milhões de passageiros para o Centro do Rio todos os dias, emitiu outra nota sobre o assunto. "O Detro não é contrário a esta medida [demolição do Elevado da Perimetral] tanto que hoje nossas equipes estão nas ruas em apoio as da prefeitura para orientação dos passageiros. Nossa preocupação é com os usuários dos ônibus intermunicipais que já sofrem diariamente com o trânsito caótico em seus deslocamentos e podem vir a ter o tempo do trajeto casa-trabalho-casa aumentado ainda mais. Achamos realmente que o prefeito Eduardo Paes se arriscou antecipando a derrubada da Perimetral sem a resposta do teste na prática. Mas no que depender do Detro todo o apoio será dado para que a medida dê certo pois nossa luta é em defesa dos interesses da população", afirmou Onofre, em nota enviada aos veículos de comunicação.

Enquanto acompanhava as mudanças operadas pela sua secretaria no Centro do Rio, Osório admitiu que o tempo de viagem do carioca deve aumentar em 30% nos próximos dias. Como solução, o secretário está sugerindo que a população utilize os transportes públicos ou pela "carona solidária", além de evitar o Centro da cidade.