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Hotel Copacabana Palace faz 90 anos

Festa foi até às cinco da manhã

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A sociedade carioca comemorou, debaixo de temporal, os 90 anos de um dos mais emblemáticos hotéis do Brasil: o Copacabana Palace.

Além da elegância de seu estilo - que quase lhe valeu a destruição, como veremos mais abaixo - inspirado no Negresco de Nice e no Carlton, de Cannes, na França --o Copa foi um dos responsáveis pela "apresentação" do carioca ao mar e é, ainda, hoje  um dos marcos da auto-estima do carioca

Parece só uma frase, mas não. Antes do hotel ser fincado na areia, o morador-visitante do Rio só ia à praia com receita médica, por conta do sol, do sal e do iodo. De tal modo que como muito bem observa o Maneco Müller - cujo pseudônimo foi Jacinto de Thormes - pioneiro da coluna social do eixo Rio-São Paulo, no prefácio ao livro Copacabana Palace, patrocinado pelo hotel, coordenado pela Claudia Fialho e escrito pelo Ricardo Boechat,  “até então, a cidade virava-se para dentro. Ou seja, dava as costas para o mar. Os bairros da época eram São Cristóvão, Tijuca, Botafogo e Laranjeiras. Tudo escondido, fingindo não ser aqui. O Palácio do Catete, por exemplo, foi construído com as janelas voltadas para a rua (do Catete). A deslumbrante paisagem da Baía e do Pão de Açúcar, simplesmente não era vista, ficava longe, separada do alcance visual de seus moradores (os presidentes da República pré-Planalto e Alvorada) por um imenso jardim, onde as árvores serviam de muro para tapar o cartão-postal.”  

Um pouco de história: o então presidente Epitácio Pessoa -- que como representante do Brasil na Conferência da Paz, na França (Versailles) em 1919, adquiriu uma clara visão da importância das relações multilaterais entre os países -- decidiu dar toda a relevância às comemorações do centenário da idependência, em 1922, convidando chefes de estado e personalidades estrangeiras para visitarem o Rio durante os festejos.

Mas a cidade não dispunha de um hotel à altura.

O presidente procurou, então, um milionário filântropo e mecenas, o gentleman Octávio Guinle, herdeiro de uma  das famílias mais ricas do país, na época (donos do porto de Santos) e propôs a construção de um palácio majestoso.

Além do desafio, o govêrno oferecia vantagens fiscais.

Ocatávio embarcou no projeto, escolhendo a praia de Copacabana, que além do cartão postal facilitador do sucesso -- era o metro quadrado mais barato da Zona Sul. E, para dar início às obras desse monumento à estética, ao conforto e à carioquice, importou o arquiteto francês Joseph Gire para o traço e convocou o engenheiro brasileiro César Mello e Cunha para a construção. Primeira tentativa de destruir o Copacabana Palace: o peso das fundações, o tamanho da área (12 mil metros quadrados) e uma das mais violentas ressacas (1922) que varreram a recém aterrada Av. Atlântica, tudo somado à dificuldade de sustentacão de um edifício daquele porte e à falta de tecnologiaa adequada, quase afundaram o hotel, danificando sériamente os primeiros andares.

Ele não ficou pronto para as comemorações do centenário e só foi inaugurado em janeiro de 1923.

Segunda tentativa de destruir o Copacabana Palace: em 1986, atravessando sérias dificuldades financeiras, os proprietários cogitaram demolir a parte de trás - o anexo e o teatro - e vender o espaço para a construção de lâminas comerciais (!).

E o hotel só foi salvo pela ação veloz e radical do então presidente do Iphan, o craque Angelo Oswaldo e pelo decisivo apoio do Ministro da Cultura nesse período, o brilhante Celso Furtado - que tombaram o imóvel todo.

Pasmem: sabem quem era a favor da demolição? O antropólogo e escritor Darci Ribeiro que "o acusava" de ser um modelo superado do estilo francês, "pastiche"de uma europa decandente... queria, para o lugar, um hotel saído do traço tropical-chic do Niemeyer, por exemplo. 

A sobrevivência: três anos depois, o empresário americano radicado na Inglaterra, James Sherwood (Orient Express) comprou o hotel da família Guinle, em 1989, restaurando com luxo e bom gosto o “complexo Copacabana Palace” (o hotel em si com o anexo; o restaurante Cipriani e o bar – a piscina e o seu entorno e a Pérgula), que de lá para cá brilha como uma bóia de luz no cenário de Copacabana e do Rio. E, hoje, sob o comando da competente e eficaz Andrea Natal mantém o clima, o serviço e o glamour que sonhou Octavio Guinle, mas inova e renova os seus serviços e produtos, como fez ontem na esplêndida festa dos seus bem vividos 90 anos.

Vida longa para o Copa!