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Mais de cinco mil protestam contra mortes na Maré

"Ato ecumênico foi exemplar", diz comandante da PM

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Mais de cinco mil pessoas participaram, nesta terça-feira (02),  de um ato ecumênico em homenagem aos dez mortos no Complexo da Maré durante a operação dos dias 24 e 25.

O trânsito da pista da direita da Avenida Brasil, fechado por volta das 17h, foi reaberto às 18h05.

Apesar dos mais diversos gritos contra Sérgio Cabral e a Polícia Militar, a manifestação foi tranquila e pacífica. O único incidente mais grave foi a intimidação feita à repórter Bette Luchese, da Rede Globo, que teve de deixar a manifestação.

O comandante do 22º Batalhão da PM, Daniel Sanglard, classificou a manifestação como "exemplar para o Brasil", apesar da polícia ter sido muito criticada. Um sargento do Batalhão de Operações da Polícia Militar também morreu na ação.

"Bem diferente das quebradeiras que vêm acontecendo em todo o Brasil, essa foi tranquila. Méritos para a organização do evento, que impediu que isso acontecesse", disse ele, que ainda salientou que as forças policiais têm a vida facilitada com uma combinação prévia dos rumos da manifestação. "Se isso não acontece, temos que improvisar. E, ao improvisar, podemos cometer erros", finalizou.

Estiveram no local 70 homens do 22º Batalhão, 30 do Batalhão de Vias Especiais e 20 da Força Nacional.

"Não vamos mais aceitar"

Durante o protesto, a indignação dos moradores com a ação da polícia e o governador Sérgio Cabral eram bem latentes. Em diversos momentos, alguém em cima do carro de som gritava: "Estado que mata...", ao que os manifestantes respondiam: "Nunca mais!"

Mário Pires Simão, diretor do Observatório das Favelas, localizado na entrada da Maré, explicou que os investimentos públicos que deveriam existir nas favelas são substituídas pela violência do estado. "Achamos que o estado tem que retomar os territórios onde os bandidos estão, mas construir essa soberania através de políticas públicas, e não através da violência", disse ele.

Valnei, também conhecido como MC Suco, mora na comunidade há seis meses e já viu algumas ações violentas de repressão dentro da favela. "Essa incursão, do jeito que é feita, já começa violenta a partir do Caveirão. É como se o Estado dissesse: estou invadindo", comentou.

Ao aparecer em um momento em cima do carro de som, o ator Paulo Betti foi muito aplaudido ao dizer que estava solidário à luta da Maré. "Especialmente estou aqui para prestar minha solidariedade às famílias dos mortos, e condenar a violência, com a qual nós não podemos nos acostumar nunca. Não podemos aceitar crimes nem por parte da polícia, nem por parte de bandidos", disse o ator.

Vladimir, diretor da Rádio Maré, classificou a polícia como "fascista" e disse que o modelo policial no Rio é totalmente fracassado. " Se a polícia que está aí resolvesse, teríamos a melhor cidade do mundo para se viver, e não é isso que acontece", ressaltou.

Deise Carvalho, membro da Rede de Movimento contra a violência, lembrou com emoção do filho de 17 anos, morto há três anos pela polícia. "Não podemos mais aceitar esse tipo de ação aqui dentro da Maré. Estado que mata, nunca mais!", finalizou.