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Sérgio Cabral sai do bunker e recebe manifestantes

Entrincheirado no Leblon, governador cede ao povo

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O governador Sérgio Cabral, único entre os 27 governadores do país que teve manifestações na porta de sua casa, resolveu sair das trincheiras que montou com a Polícia Militar na rua Aristides Espínola, onde mora no Leblon – um dos metros quadrados mais caros do país e do mundo – e resolveu receber os manifestantes que estão acampados próximos de seu prédio. Antes, porém, ele enviou os secretários de estado de governo, Wilson Carlos Carvalho, e de Assistência Social e Direitos Humanos, Zaqueu Teixeira, para conversar com os manifestantes e ver se estava tudo bem.

Os manifestantes acamparam próximo ao prédio de Cabral na sexta-feira passada (21/6) e prosseguiram protestando até hoje (25/6). Durante a vigília, eles receberam a solidariedade de várias pessoas e não pararam um só minuto com os protestos que abordaram desde as más condições da saúde e educação no estado até a falta de transparência nos gastos com a reforma do Maracanã. No domingo (23/6), uma passeata com cerca de cinco mil pessoas, segundo cálculos da Polícia Militar, saiu de Copacabana e se encontrou com os manifestantes acampados.

A rua onde Cabral mora foi fechada no trecho entre a Avenida Delfim Moreira e rua General San Martin numa verdadeira afronta à Constituição que em seu artigo 5º, garante aos brasileiros o direito de ir e vir e de liberdade de manifestação. Dos dois lados da rua uma fileira de policiais impede os pedestres de atravessar e os que querem cruzar esse trecho têm que andar um pouco mais até as ruas vizinhas para poder continuar o caminho.

Durante todo esse tempo, Cabral não apareceu em lugar nenhum do Rio e surgiram especulações de que ele havia embarcado para sua residência em Paris. No entanto, a informação não foi confirmada. A atitude de Cabral de se manter recluso e o fato de ser o único governador que teve manifestantes na porta de casa levou medo aos moradores da Zona Sul do Rio. O receio é que as manifestações, totalmente pacíficas, possam ter a participação de vândalos que estão aproveitando as manifestações de rua para destruir o patrimônio público e privado.

Lojas e centros comerciais próximos à residência de Cabral colocaram tapumes em suas vitrines com receio dos vândalos. O restaurante Alessandro & Frederico, localizado no shopping Rio Design, está preocupado com a aproximação dos protestos e mais ainda pelo estabelecimento ficar de frente para a rua Almirante Guilhem.

“Estamos trabalhando tensos, apavorados e atentos à situação. O problema é que a própria prefeitura poderá ser a possível responsável por armar estas pessoas que se manifestam depredando comércios, já que bem na nossa porta há um entulho cheio de pedras. A verdade é que esse tapume não resiste a nada”, afirma o metre do restaurante, Francisco Magalhães.

Para o engenheiro Nuno Parreira, morador do Leblon, a situação é de dúvida e desconforto com a situação: “Nunca se sabe o que pode vir de uma manifestação”, diz ele. Já o shopping Fashion Mall, em São Conrado, também na Zona Sul, estava com as portas fechadas desde as 14h30 desta terça-feira (25) e com tapumes ao redor para proteger os vidros, que poderiam ser alvos de possíveis vândalos. Moradores da Rocinha prometerem realizar um protesto em frente à Acadêmicos da Rocinha. Atrás do shopping, um dos edifícios também optou por colocar tapumes para proteger a portaria de vandalismos.

“Ficamos tensos, pois São Conrado em si já não é um bairro muito seguro. Estamos com medo que pessoas se aproveitem da manifestação e venham tentar depredar e invadir o condomínio. Estou trabalhando preocupado”, admite o porteiro do edifício, Josimar Custódio.

*Do programa de estágio do Jornal do Brasil