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MJ vai colocar câmeras em cracolândias do RJ e de SP; especialistas criticam

Micro-ônibus hi-tech com câmeras integradas vão identificar traficantes de drogas 

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Setenta micro-ônibus com câmeras ultra-modernas são a aposta do Ministério da Justiça (MJ) para frear o tráfico e o consumo de crack no país. A proposta do governo federal, que vai ser posta em prática já no mês de maio, consiste em espalhar os ônibus nos principais redutos de usuários de drogas e identificar os traficantes que "abastecem" as cracolândias. O objetivo é realizar operações policiais mais cirúrgicas para capturar criminosos, evitando conflitos. 

Cada base de monitoramento (micro-ônibus equipado) vai custar R$ 700 mil aos cofres públicos. Ou seja, o Ministério da Justiça vai desembolsar R$ 49 milhões, por meio do programa "Crack é Possível Vencer", lançado em dezembro de 2011.

Já neste mês de maio, as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo serão contempladas com as chamadas "bases de monitoramento". Em ambas as cidades, os micro-ônibus serão entregues para as forças de segurança estaduais. No Rio, a primeira favela que receberá o Big Brother contra o crack será a favela Parque União, margeada pela Avenida Brasil. 

A opção pelas bases móveis, segundo o MJ, deve-se ao fato de que as cenas de uso de crack e outras drogas se caracterizam pela mobilidade, dentro de um mesmo território. Assim, a base móvel vai permitir também a mobilidade dos profissionais de segurança pública.

"Absurda e ineficaz"

Especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil criticaram a medida do MJ, classificada como "absurda" e "ineficaz".

Para o terapeuta Tito Gomes, especializado em dependência química há 20 anos, a medida vai apenas "enxugar gelo". "O que me impressiona é que aumentar o número de assistentes sociais e qualificar o tratamento para o usuário de drogas nas capitais ninguém quer. No Rio de Janeiro, um adulto usuário de crack internado para recuperação fica apenas 15 dias em clínicas, quando o mínimo recomendado é de três meses", disparou Gomes.

"Essa medida do Ministério da Justiça me deixa revoltado. Se estivéssemos nos Estados Unidos, alguns profissionais e governantes seriam condenados por má prática da Medicina. No entanto, aqui no Brasil...", critica o terapeuta. 

Já para a psiquiatra Maria Thereza Aquino, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a medida vai contribuir ainda mais para a criminalização dos usuários de crack e outras drogas.

"Nunca vi um dinheiro tão mal empregado como o que se dispensa para essas câmeras de cracolândias. O governo federal deveria ampliar as clínicas de atendimento para usuários de drogas. Isso certamente seria mais eficaz para esvaziar as cracolândias. Que tal usar o dinheiro para treinar mais psicólogos para atuar nestas áreas?", questiona. 

"O que as nossas autoridades ainda não descobriram é que todo usuário de crack acaba sendo um pequeno traficante. Há casos em que um usuário compra e revende para outros. Quem está numa cracolândia precisa de ajuda e não de castigo. Vão punir ainda mais os usuário de crack, que já estão abandonados nesta cidade", dispara. "No Rio, não há sequer onde internar usuários de crack. Faltou prioridade do governo federal. Há, certamente, coisas mais importantes do que meia dúzia de ônibus com câmeras".