ASSINE
search button

"A morte dela só me trouxe prejuízo", diz PM 

Acusado da morte de juíza alegou inocência

Compartilhar

Quinto policial militar julgado pela morte da juíza Patrícia Acioli, o cabo Carlos Adílio Maciel dos Santos alegou inocência a cerca de sua possível participação no assassinato da magistrada, ocorrido em agosto do ano passado, quando ela chegava em sua residência na região oceânica do município. Ela foi alvejada por 21 disparos. 

"Eu nego, não participei de forma alguma", declarou o acusado na manhã desta terça-feira a Peterson Barroso Simão, juiz que comanda o julgamento conduzido no 3º Tribunal de Júri de Niterói. "A morte dela só me trouxe prejuízo. Depois que vincularam meu nome a este grupo, o que mais apareceu na minha vida foi problema", completou o réu do processo. Ele é acusado de homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, mediante emboscada e para garantir impunidade por outros crimes) e formação de quadrilha.

Maciel Santos afirmou que sua prisão ampliou seus problemas pessoais e trouxe caos à sua família, consumida por sua prisão. "Foi tudo o que me aconteceu, como a morte do meu pai (por pneumonia em agosto do ano passado), a doença da minha mãe (que se recupera de um câncer), estes processos todos que estou respondendo, mas que sei que serei inocentado de todos", disse.

O cabo da PM responde por um total de oito processos. Fora as acusações que cercam o assassinato da magistrada e outro por extorsão de um traficante, todos são por auto de resistência, em que o policial alega legítima defesa diante de uma situação de revide com um criminoso. Foi em um destes falsos registros descobertos pela polícia que, segundo a acusação, o grupo que Maciel Santos integrava decidiu pela morte de Acioli.

Ao lado do parceiro de guarnição, o PM Sammy Quintanilha, réu do processo desta terça-feira, foi preso por ordem da magistrada após uma operação que culminou na morte de um adolescente no complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro onde atuava o Grupamento de Ações Táticas (GAT).

Comandado pelo tenente-coronel Claudio de Oliveira, responsável pelo 7º BPM (São Gonçalo), o GAT, sempre de acordo com os argumentos da acusação, era um grupo responsável por o que o termo policial chama de espólio de guerra, em que cobravam propinas de traficantes da região para permitir a venda de drogas - estima-se que os ganhos do bando eram de R$ 11 mil por semana.

Indagado pelo promotor Leandro Navega sobre o fato de ter recebido a visita do coronel Oliveira na prisão após a morte da juíza ter sido consumada, Maciel Santos disse que "em nenhum momento falamos sobre a Patrícia Acioli". Questionado se ele achou estranho o fato do então comandante tê-lo visitado após o episódio bárbaro, o acusado não se pronunciou.

>>Testemunha usa dois coletes em júri por morte de juíza

"Vai conhecer Jesus"

O cabo acusado pela promotoria de participação no assassinato de Acioli tinha, de acordo com relatos de testemunhas de acusação, o apelido de "Jesus". Isso porque costumava dizer às vítimas que "elas iriam conhecer Jesus", como relatou o comissário da Polícia Civil, José Carlos Guimarães, da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro e membro das investigações do homicídio da juíza, que culminou na acusação de 11 policiais militares.

Maciel Santos nega que detenha tal alcunha dentre os moradores de comunidades onde atuou, principalmente o complexo de favelas do Salgueiro, e disse que, pelo porte físico, as pessoas costumavam chamá-lo apenas como "Carlão".

"A comunidade do Salgueiro, que era o reduto do Carlos Adílio, é composta por evangélicos, então ele se autodenominava 'Jesus' para afrontá-los", completou o inspetor Moreira.

Quatro policiais já tiveram condenações entre 22 e 26 anos de reclusão em regime fechado pelo assassinato da juíza e formação de quadrilha. São eles: Sérgio Costa Júnior, Junior Cezar de Medeiros, Jefferson de Araújo Miranda e Jovanis Falcão Júnior.

Dentro do GAT, de acordo também com a primeira testemunha de acusação a ser ouvida, o delegado titular da DH na época do assassinato, Felipe Ettore, "Carlos Adílio participava da quadrilha, que arrecadava espólios (extorsões e propinas de traficantes) de R$ 11 mil por semana". Tais ações ocorriam nos complexos de favela da Coruja e do Salgueiro, em São Gonçalo.

Foi nesta última comunidade que, após o PM em julgamento ter ordem de prisão expedida por um falso auto de resistência (quando a morte ocorre em legítima defesa), pela própria Patricia Acioli, em função da execução de um menor de idade com as iniciais D.B, que o grupo decidiu pelo assassinato da juíza. Também foi preso nesta ocasião Sammy dos Santos Quintanilha, ainda a ser julgado. 

"Ele abriu mão da parte dele (no espólio) para que o crime fosse praticado", explicou Ettore, referendando a tese de que o réu ajudou a custear o crime bárbaro, complementado pelo comissário Guimarães. "Com este dinheiro que todos concordaram em abrir mão, eles compraram a moto e o carro usados na noite do crime, além de aparelhos celulares", explicou.

O advogado de defesa Robson Barcellos, por sua vez, tenta desconstruir a tese de formação de quadrilha, além de abordar que o seu cliente em nenhum momento foi flagrado em escutas telefônicas da Polícia Civil. Barcellos questionou Ettore a cerca do tema. 

"Estava preso e não há dúvidas que ele não foi autor dos disparos e não esteve no local, mas fez parte do planejamento e teve participação financeira dele", retrucou o ex-delegado da DH, que ainda citou uma conversa da irmã do réu, Glaucia Maciel Santos, cujo celular estava em nome de Carlos Adílio. "Ela conversa com o pai dos filhos dela e diz que não tinha mais nada ali, que tudo havia sido retirado", explicou na época sobre a busca e apreensão autorizada pela Justiça, em vias de execução.

Além do próprio acusado, serão arroladas outras cinco testemunhas (uma foi dispensada) dentro do júri popular, formado por seis mulheres e um homem. O julgamento que só deve ter o seu veredito após às 21h desta terça-feira.

Líderes da quadrilha

Ao chegar para o julgamento da morte da irmã, Simone Acioli lembrou - como tem feito em outros júris já realizados a cerca do assassinato da magistrada - que ainda aguarda pela condenação dos policiais que considera os mentores da morte de Patricia: o tenente Daniel Santos Benitez Lopes e o coronel Claudio Luiz de Oliveira.

Benitez era o comandante das guarnições do GAT, abaixo na hierarquia de Oliveira, então comandante do 7º BPM (São Gonçalo), tido como o líder da quadrilha em questão. "Não vamos sossegar, continuamos esperando o julgamento do Benitez e do coronel", fez questão de lembrar mais uma vez Simone Acioli. Preso num presídio federal em Rondônia, Claudio Oliveira ainda não tem data para ser julgado, pois recorre do processo em nível federal. Simone disse ter certeza de que o réu desta terça-feira "fez parte do complô para matar ela, todos têm culpa".

"Esperamos justiça", limitou-se a afirmar a mãe da juíza, Marli Acioli, também presente ao júri.

Também estão no 3º Tribunal de Júri de Niterói, onde ocorre o julgamento, o ex-marido de Patrícia, Wilson Chagas, e o primo da juíza, Humberto Nascimento. O julgamento é presidido pelo magistrado Peterson Barroso Simão.