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Obra na Gávea ameaça estabilidade de terreno na floresta

Moradores vão fazer manifestação neste sábado (06)

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A construção de um empreendimento imobiliário na rua Embaixador Carlos Taylor, na Gávea, Zona Sul, em um terreno às margens do Parque Nacional da Tijuca, está mobilizando os moradores do bairro. Segundo eles, a iniciativa, que inclui o desmatamento da fauna e flora locais e a possível implosão de uma parede de pedra, pode trazer risco de deslizamento e desestabilização da encosta.

Um protesto será realizado neste sábado (6) contra a construção, que dará lugar a uma casa. Segundo Alfredo Piragibe, da ONG My Green, os moradores irão à Justiça para evitar que a obra prossiga. Uma petição online já circula na Internet e será enviada ao prefeito Eduardo Paes.

Segundo Carlos Affonso Ribeiro, síndico do Condomínio Recanto das Acácias, que fica justamente em frente ao terreno que dará lugar ao empreendimento, e vice-presidente da Associação de Moradores da rua, a obra desestabilizará a encosta e gerará deslizamento de terra. Ele ainda sustenta que existe uma subestação de energia da Light dentro do condomínio e que a explosão para a abertura do acesso à casa a ser construída pode afetar a instalação. "Vamos buscar a Prefeitura, para solicitar que o terreno se torne não-edificante", adianta Ribeiro.

Ele explica que a possibilidade de construção de empreendimentos no local é antiga e um processo de mesma natureza foi arquivado pela Justiça em agosto do ano passado. Os moradores e seus advogados ainda estão avaliando se tentarão trazê-lo à tona.

Início e licenças

A confusão teve início na sexta-feira (29) do feriado da Semana Santa. Segundo Ribeiro, os moradores foram acordados às 5h da manhã com o barulho de funcionários do proprietário desmatando árvores. Não houve aviso sobre a operação:

"Sorrateiramente, às cinco da manhã da sexta-feira da Semana Santa fui acordado com os funcionários desmatando em frente à rocha (do terreno) preparando uma base para trabalhar. É uma ação muito violenta", indigna-se o síndico do prédio vizinho. 

O terreno está localizado em uma Área de amortecimento da Floresta do Alto da Boa Vista, às margens do Parque, mas não se trata de uma Área de Proteção Ambiental (APA). De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a "licença e pareceres favoráveis de supressão de vegetação e obra das secretarias municipais envolvidas e também de órgãos estaduais, como a CEDAE, e federais, como o ICBIO/Parna da Tijuca e o IPHAN", já foram recebidas. 

"Trata-se de uma licença de corte e construção em um terreno particular, onde 4.975 novas árvores serão plantadas como medida compensatória. No local, existem 374 árvores, 195 serão preservadas, antes e depois da obra, e outras 45 serão transplantadas. Foram realizados estudos de movimentação do solo com laudo favorável à construção, já que será implantada em área de pouca declividade no terreno. Todos os resíduos gerados pela obra serão reaproveitados", informou trecho da nota enviada ao Jornal do Brasil.

Outro laudo

Os moradores também alegam que, a partir do laudo de um engenheiro ambiental contratado pelo condomínio, ficou constatado risco às edificações próximas. Eles devem ir à Justiça para pedir uma liminar que interrompa a construção para análises mais profundas.  

No próprio blog do condomínio, um relatório de 2010 pedido pela administração e assinado pelo engenheiro civil Sergio de Queiroz Grillo, concluiu que o terreno apresentava na época "evidentes sinais de deslizamentos ocorridos no passado, e a manutenção da estabilidade da camada de solo no local depende basicamente da preservação da cobertura vegetal existente". 

Além disso, segundo Grillo, "todas as obras no local devem ser precedidas de investigações geotécnicas e estudos mais aprofundados com relação ao risco de deslizamentos de solo e rochas que venham a colocar em perigo os prédios construídos no pé da encosta".  

"A utilização de desmonte de rocha com o uso de explosivos no local deve ser proibida, na medida em que as vibrações decorrentes da ação dos explosivos certamente acarretarão movimentação e deslocamentos das camadas de rocha ao longo das superfícies de esfoliação existentes no maciço rochoso, com sérios riscos de recalques diferenciais nas fundações dos prédios vizinhos, o que acarretaria danos às estruturas dos referidos prédios", finalizou o engenheiro.  

Alfredo Piragibe, da ONG My Green que trabalha junto aos moradores, afirma que o próprio laudo da GEO Rio, órgão que fez a análise geológica da construção, diz que parte do terreno é de médio risco e outra, de alto risco, sendo necessário o monitoramento da própria instituição pública antes do início das obras para averiguar possibilidade de deslizamento de terras. 

A manifestação dos moradores ocorrerá a partir de meio-dia deste sábado (6), em frente ao Shopping da Gávea, na Rua Marquês de São Vicente. O objetivo, segundo Ribeiro, é chamar a atenção das autoridades para o assunto.