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Pedreiro passa do papel de herói ao de vítima

Na foto histórica Jamil resgata bebê, mas perdeu sua família

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Quando foi alvo da foto histórica que rendeu o prêmio Esso ao fotógrafo Carlos Mesquita, do Jornal do Brasil, já falecido, Jamil Luminato, 53, jamais poderia imaginar que passaria do papel de herói ao de vítima. A fotografia, de 1981, mostra o jovem Jamil trazendo no colo o corpo de um bebê morto pelas enxurradas que atingiram o mesmo bairro onde nasceu e mora até hoje, a Independência, em Petrópolis. O bebê, ele acabava de retirar do meio do barro. Dessa vez, Jamil não conseguiu salvar a vida da filha, de 31 anos, do genro Rodrigo e de seus dois netos, de 2 e 4 anos, vítimas da tempestade do último domingo (17).

Jamil, que tentou entrar no Corpo de Bombeiros mas não conseguiu por conta de sua baixa estrutura, acabou se tornando pedreiro e trabalhou na construção de várias casas na Independência. Depois da tragédia de 1981 ele quis sair de lá, não conseguiu, porém. Na noite de domingo, quando a tragédia se anunciava, ele tentou alertar a filha por telefone para que não ficasse lá, mas ela resistiu em sair, pensando nos poucos bens da família, como a moto de seu marido.

Como se a dor fosse pouca, até ontem Jamil sequer tinha conseguido enterrar seus entes queridos, porque o IML ainda não havia liberado os corpos.

A foto de Mesquita trouxe a Jamil uma efêmera fama, que lhe rendeu o convite do cineasta Eduardo Escorel para protagonizar o documentário Primeira página. O filme tentava reconstruir as etapas anteriores à fotografia histórica. Jamil já nem se lembra o nome do bebê e até hoje hesita em deixar o local, pela falta de alternativa – nunca recebeu qualquer ajuda do poder público – e pelos vínculos criados.

Passados 31 anos, os moradores ainda não receberam qualquer tipo de retorno da prefeitura sobre a vital realização de obras preventivas no bairro. 

Com Folha de S. Paulo