ASSINE
search button

Alagamentos no Maracanã e entorno  podem envergonhar o Rio na Copa

Engenheiro diz que opção da Prefeitura por piscinões é "completamente ineficaz"

Compartilhar

Entra ano, sai ano e quando chove forte no Rio de Janeiro a cidade não consegue escapar do cenário de caos. As ruas alagam, os carros boiam em meio às piscinas que se formam nas ruas, a população fica ilhada e a volta do trabalho para casa se torna impossível. Com o transbordamento de rios sobretudo na região da Grande Tijuca - que engloba entre outros bairros a  Praça da Bandeira, Tijuca e Maracanã - o carioca se vê exposto ao lixo e a doenças. Não por acaso, a região da Bacia da Grande Tijuca é a mesma onde fica o estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, que sediará a final da Copa do Mundo de 2014 e competições de futebol na Olimpíada de 2016.

A visita marcada nesta quarta-feira pela delegação da Fifa para vistoriar as obras do Maracanã, por sinal, teve de ser adiada. O estádio virou uma grande lagoa e até agora não há notícias sobre os prejuízos, sobretudo dos equipamentos para a execução das obras, já bastante atrasadas, que não deve ter sido nada pequeno.

Para o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Meio Ambiente da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Adacto Otoni, a repetição de desordem em período de chuvas - sobretudo no verão - é "vergonhosa" e "completamente evitável" pela Prefeitura do Rio. 

"Não é que a cidade não esteja preparada para a chuva forte como a de terça-feira. É que a cidade não está preparada para chuva nenhuma. Chuvas intensas são normais no verão do Rio de Janeiro. O que assusta é que todo ano acontecem as mesmas coisas. Chove, alaga, transborda, morre gente e a Prefeitura não muda sua atuação", critica o engenheiro. "A Prefeitura precisa de intervenções mais eficazes nas bacias hidrográficas, mas a única coisa que tem feito é construir piscinões para escoar a água. Se piscinão resolvesse problema, São Paulo não vivia alagado", completou.

Depois da grande confusão que se viu na cidade ontem à noite, o prefeito Eduardo Paes voltou a dizer nesta quarta-feira que até meados de 2014 haverá a conclusão dos cinco piscinões que serão construídos na Grande Tijuca, além do desvio do curso do Rio Joana. Se a obra continuar atrasada como está, pode não ficar pronta a tempo da Copa de 2014, que começa já em junho do ano que vem. 

"Os piscinões só resolvem o problema em caso de transbordamento de rios. Ou seja, a medida adotada pelo prefeito só atua na consequência do problema e não na causa. Nada muda de um ano para o outro. O Rio é uma cidade entre o mar e as montanhas. Isto agrava a concentração das nuvens e aumenta a precipitação. Há necessidade de intervenções mais amplas que os piscinões, como a barragem dos rios", defende o estudioso.

O pesquisador listou ainda uma série de medidas que, juntas, podem evitar novos episódios de transbordamento de rios e o alagamento das ruas. Entre as ações estão o saneamento de rios e lixo, e a adoção de coleta seletiva nas comunidades. 

"Piscinões só são eficazes em caso de saneamento do esgoto. Se o esgoto não é saneado, os piscinões podem ser entupidos por causa dos detritos. Além disso, se a Bacia hidrográfica fosse reflorestada, 70 a 80% da água da chuva seria infiltrada, evitando o desequilíbrio que se vê hoje na cidade"