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Vídeo sobre Olimpíada satiriza contradições de governantes do Rio

Imagens criticam demolição do Museu do Índio e põem o dedo em feridas 

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O vídeo ‘Brasil sem maquiagem’, atribuído ao site www.brazilwithoutmakeup.com, está bombando no Youtube.  Meio fantasiado de palhaço, o apresentador se autointitula Rafucko e discorre uma série de ironias sobre a apresentação feita em agosto de 2012, em Londres, que alçou o Rio de janeiro a cidade sede das Olimpíadas de 2016. Rafucko, que afirma não receber nenhum financiamento para seus vídeos, fez sucesso nas redes sociais quando apoiou a campanha do deputado Marcelo Freixo nas últimas eleições municipais. 

Enquanto mostra a fantástica coreografia do gari Sorriso  e a importância de seus pares na limpeza da Avenida Marquês de Sapucaí, para que os desfiles possam se suceder, o vídeo estampa o salário mensal da categoria: US$ 360.

Em seguida, o tal Rafucko satiriza a presença de Yemanjá, deusa dos mares, em um país que persegue as religiões afro-brasileiras. “Ela estaria mais segura em Londres”, alfineta, enquanto denuncia que políticos católicos e evangélicos chegam a proibir a menção destas religiões nas escolas públicas.

Deboche

Rafucko debocha das imagens de índios entrando no estádio, “é a parte mais engraçada”, provoca, e põe o dedo em outra ferida. Mostra imagens do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes sustentando que o Museu do Índio, ao lado do estádio do Maracanã, terá de ser demolido por exigência da Fifa. A Fifa, por sua vez, tira seu corpo fora.

O vídeo prossegue argumentando que Cabral prossegue seus "falsos pretextos" alegando falta de mobilidade ao redor do estádio, enquanto surge a imagem do projeto original do conjunto para a Copa, no qual o Museu do Índio está absolutamente em pé. O governador, porém, não desiste e decreta: “Esses índios que estão lá são uma piada”.

Até que, numa espécie de caixa registradora, aparecem as imagens de Cabral, Paes e do investidor, Eike Batista, cujo nome não é mencionado. “Imaginem botar abaixo um museu e uma das poucas boas escolas públicas para fazer um estacionamento?”, pergunta o ator, entre imagens de policiais pressionando os índios no local e manifestantes contra essa hipocrisia.

Sempre irônico, Rafucko reconhece que foi uma apresentação ágil, “mas não muito honesta”. E promete, nos próximos vídeos sobre a cultura brasileira, menos estereótipos e imagens mais próximas da realidade tupiniquim. 

Contextualização 

Em conversa com o Jornal do Brasil, Rafucko, que costuma fazer vídeos bem humorados relacionados à política carioca e nacional, afirmou que ao conversar com amigos estrangeiros percebeu que sempre precisava contextualizar as situações para que eles entendessem melhor o que estava sendo discutido. 

"Percebi também que eles se interessavam até mais pela contextualização. Ninguém fala dessas questões para quem é de fora. Somos muito acostumados a fazer as coisas para "inglês ver", então acho que essas informações têm de chegar no mundo inteiro, especialmente num momento em que nosso país passa por mudanças muito grandes", afirmou o ator, formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 

Ele disse que seus vídeos, muito replicados nas redes sociais, surgem da necessidade de uma discussão da política. "Quanto menos se fala, mais espaço existe para fazerem coisas ilegais sem questionamento. O antigo Museu do Índio ia ser assim, seria derrubado com argumentos esdrúxulos e, por conta da visibilidade, os argumentos se perderam. Aí, o governo disse que atendeu à população, mas é mentira. Minha ideia mesmo é levantar a poeira e chamar a atenção para esse debate político", disparou.