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Polícia Civil faz operação na sede da Liesa contra Jogo do Bicho

Bicheiros pagam prestações de carros de policiais que faziam proteção

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A Corregedoria da Polícia Civil apresentou, nesta quinta-feira(31), os resultados preliminares da Operação Dedo de Deus 2, que cumpriu 17 mandados de busca e apreensão em uma operação contra o Jogo do Bicho no Rio.

Às vésperas do carnaval, o maior destaque foi dado à investigação dentro da sede da Liga Independente das Escolas de Samba, no centro do Rio. Os agentes da Polícia Civil passaram cerca de oito horas dentro dos escritórios em busca de documentos. 

Apesar disso, o delegado da corregedoria da Polícia Civil, Glaudiston Galeano, insiste em dizer que a Liesa não é alvo da investigação. Segundo ele, o objetivo é "robustecer" as provas contra os 30 suspeitos de envolvimento com a atividade do Jogo do Bicho.

"Há pessoas influentes dentro dessa organização criminosa(Jogo do Bicho), investigadas e inclusive condenadas, que ocupam ou ocuparam cargos de influência na Liesa. Essas pessoas estão sendo investigadas com base nos documentos que encontramos", explicou o delegado, que classificou a ação no escritório da Liesa como "cirúrgica". 

Ele reconheceu, porém, que a ligação entre a Liesa e o jogo do bicho é antiga e incômoda. "É muito provável que esses contraventores injetem dinheiro nas escolas de samba. A relação entre elas e os bicheiros é muito antiga", explicou, adiantando que as investigações foram feitas "de modo a não manchar o carnaval carioca".

Apreensões

Na residência do capitão da Polícia Militar Ailton Jorge Guimarães, o Capitão Guimarães, foi encontrado uma CPU, que será periciada para se apurar o envolvimento com o esquema criminoso. Guimarães foi presidente da Liga Independente das Escolas de Samba entre 1987 e 1993 e preso na primeira Operação Dedo de Deus, em 2011. O capitão Guimarães, porém, foi solto meses depois. Segundo o delegado, Guimarães atualmente está foragido.

Na casa de Adilson Coutinho, tio do presidente da Grande Rio, Hélio Ribeiro, foram encontrados R$ 13.800 em dinheiro e cheques que somam R$ 360 mil. Segundo o delegado, Coutinho está solto e não responderá, por enquanto, a acusações de qualquer espécie.

As centrais do jogo do bicho investigadas concentram-se no Centro (ruas Alcindo Guanabara, da Assembléia, Almirante Barroso e Avenida Rio Branco), Niterói, Tijuca e Baixada Fluminense(Nilópolis, Mesquita e São João de Meriti).

Também foram apreendidas três armas entre os 17 mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Civil desde a madrugada desta quinta-feira.

De acordo com Galeano, cada uma dessas centrais de Jogo do Bicho atuava de maneira autônoma, sem uma diretoria central. Ele reconheceu, no entanto, que havia muita comunicação entre os chefes de cada núcleo da organização criminosa. E garantiu: "as investigações vão continuar. Vamos analisar os documentos e ver o que temos em mãos", finalizou.

Pagamento a policiais

Chamou a atenção ainda a presença de carnês de pagamento de veículos a policiais em uma das células do Jogo do Bicho, em São João de Meriti. "Os policiais compram os veículos, em nome deles. Só que quem paga são os bicheiros. O objetivo é evitar a circulação do dinheiro e tentar diluir isso no patrimônio, em várias vezes, sem levantar suspeitas", explicou Galeano, acrescentando ainda que são quatro policiais militares envolvidos na investigação. "Achar um carnê de pagamento de carro em uma central de jogo do bicho é, no minimo, muito suspeito", argumentou. Segundo o delegado, os policiais agiriam como um braço armado e proteção aos chefes da organização criminosa.

Analogia

O delegado Glaudiston explicou o envolvimento da Liesa na investigação da Polícia Civil com uma analogia, no mínimo, curiosa: "Um homem é casado com uma mulher e tem muitas armas em casa. Se durante a investigação descubro que ele tem uma amante, é razoável eu pensar que esse cidadão também esconda armas na casa da amante. Então, a gente investiga a casa do homem, pede licença para entrar na casa da amante e faz uma busca cirúrgica para encontrar as evidências que buscamos", explicou o delegado.

Operação Dedo de Deus

Em dezembro de 2011, foi deflagrada a Operação Dedo de Deus, que investigava a atuação do Jogo do Bicho no Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão e Pernambuco. 60 mandados de prisão foram expedidos e cumpridos, inclusive contra o ex-prefeito de Teresópolis, Mário Trincano, considerado o chefe do jogo ilegal na Região Serrana.

Trincano é aliado de Anísio Abraão David, um dos bicheiros mais poderosos do Rio e presidente de honra da Beija-Flor de Nilópolis. Ambos teriam até negócios em comum. Só na quadra da escola foram encontrados R$ 115 mil em dinheiro.

Na casa de Ailton Jorge Guimarães, que voltou a ser indiciado na operação de hoje, foram encontrados R$ 4 milhões. As buscas aconteceram em vários bairros do Rio de Janeiro, como Copacabana, na zona sul, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste, e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.