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Rio: incidência de sequestros começa a preocupar 

Ex-policial da DAS aponta medidas de resultados imediatos

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A luz amarela foi acesa, como informou o Informe JB de em dezembro de 2012: voltam a aumentar os casos de sequestro no Rio de Janeiro. O auge do pesadelo aconteceu durante o governo Marcelo Alencar (1995-1999), quando, em alguns momentos, mais de 100 vítimas penavam em cativeiros. Entre janeiro e outubro de 2012, foram 13 casos do clássico sequestro, que mantém a vítima em cativeiro até que seja pago o resgate. Os números representam um aumento de 85,7% dos casos, em relação ao mesmo período de 2011, segundo dados do Instituto de Segurança Pública (ISP).

Embora as ocorrências ainda sejam consideradas baixas, se providências urgentes não forem tomadas a perigosa prática pode voltar a explodir. Quem alerta é um policial que trabalhou na equipe do delegado Hélio Helio Luz, de 1995 a 1998 – justamente o período em que as estatísticas baixaram drasticamente -, que prefere não se identificar. A receita para evitar o pior parece não ser tão difícil assim, desde que exista vontade política, o que parece uma realidade em um governo que implantou as unidades pacificadoras na cidade.

O primeiro passo das equipes que enfrentaram o crime e conseguiram prender as quadrilhas responsáveis pelos sequestros foi criar o sistema de dedicação exclusiva para os que trabalhavam na Divisão Antisequestro (DAS), referência nacional na época. Cada profissional que se dividia entre três empregos passou a se dedicar exclusivamente a combater a onda de sequestros – com a devida compensação financeira. 

Na época, eram cerca de cinco delegados, cada um comandando uma equipe de 10 profissionais que – na época de auge – cuidavam de no máximo dois casos. Porém, se naquela época a DAS estava longe de ser um exemplo de evolução tecnológica, hoje a situação é ainda pior, porque não houve investimentos em novos equipamentos que poderiam contribuir para melhores resultados. “Já naquele período as famílias nos emprestavam carros e telefones para trabalharmos. Nem câmeras havia”, lembra o policial.

Durante o auge da crise foi montado, por exemplo, um setor de orientação e negociação, que fazia o meio de campo com as famílias, além de planejar as ações e contribuir com as investigações. A maioria das quadrilhas presas no período cumpriu pena e voltou às ruas. Se hoje o delegado Claudio Gois, que está à frente da DAS, acredita que só existam o que ele chama de “aventureiros” – criminosos  sem experiência no setor que não conseguem montar uma estrutura para manter as vítimas mais tempo nos cativeiros -, é importante lembrar que os “especialistas” já cumpriram pena e estão em liberdade. Eles mesmos podem retomar sua atividade criminosa, assim como orientar os ‘aventureiros’.

'Evolução' da prática

Ou seja, é fundamental acompanhar o que andam fazendo estes antigos “especialistas”. O sequestrador Bertinho, cujo grupo era de Parada de Lucas, por exemplo, foi preso em 1995. Depois de solto, não apenas sequestrou, como matou o administrador de empresas André Francavilla, em fevereiro de 2004, mesmo depois de receber o dinheiro do resgate. Ao voltar a ser preso, o sequestrador admitiu que tinha passado a preferir eliminar o sequestrado, “para não ter testemunhas”. Esta teria sido sua ‘evolução’ profissional.

Um triste exemplo parece corroborar a informação acima. Na quarta-feira 16 foi localizado, em Itaboraí, o corpo do empresário niteroiense Itamar Silva Júnior, 37 anos, sequestrado na última sexta-feira (11), também em Itaboraí. Ele era dono de uma casa de shows em Gragoatá, em Niterói. Embora ainda seja necessário um exame de DNA para confirmar a identidade do morto, o irmão da vítima, o empresário Rony Silva, confirmou que o corpo era de Itamar, por causa de uma placa de platina na coluna cervical. Nesse caso, no entanto, os sequestradores não chegaram a pedir dinheiro de resgate à família.

Combate

Se no auge do combate ao sequestro a DAS tinha cerca de 150 profissionais dedicados ao setor, hoje este número está em torno de 50, segundo informou a fonte ao JB. Ao mesmo tempo em que não houve evolução tecnológica e a delegacia continua sucateada, o acompanhamento aos “especialistas” que já cumpriram suas penas é inexistente. 

Procurado pelo Jornal do Brasil, o delegado Claudio Gois não confirmou a informação sobre o sucateamento e o número de profissionais atualmente lotados na DAS: "Um mágico não pode revelar seus segredos. São informações sigilosas para não chegar ao conhecimento de quem não interessa", alegou, com propriedade. Gois apenas confirmou que a maioria de seu pessoal trabalha com dedicação exclusiva.

Ou seja, se foi possível pacificar uma comunidade como a do Alemão, não será difícil retomar um combate eficaz aos sequestros, antes que a luz vermelha acenda.  

* Do Projeto de Estágio do JB