ASSINE
search button

Beatificação de “Odetinha” começa nesta sexta

A menina, morta aos 9, poderá ser 1ª santa carioca

Compartilhar

O arcebispo da arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom João Orani Tempesta, anunciou nesta manhã (16), que será formado a partir de sexta-feira (18) um tribunal para julgar as virtudes da Serva de Deus, Odette Vidal Oliveira, primeira carioca  candidata a Santa no Brasil. Trata-se do início oficial do processo arquidiocesano de beatificação e canonização de “Odetinha”, como ela ficou conhecida.

Em entrevista coletiva nesta quarta-feira (16), na sede da Arquidiocese do Rio, na Glória, não se falou em ocorrência de milagres. Apenas foi dito que o motivo da beatificação de Odette é justificado pela sua bondade, a solidariedade aos pobres e a devoção precoce à Cristo, tendo, inclusive, dado aulas de catequese com sete anos de idade. A comissão espera, porém, que durante a pesquisa da vida da criança surjam relatos e comprovações de milagres. "Será necessário apenas um milagre para comprovar que ela é Santa", informou a comissão, que afirmou ter na arquidiocese dez cadernos com registros de depoimentos e histórias sobre a garota.

A abertura será realizada pelo arcebispo metropolitano às 11h, na Igreja Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado, onde também serão enviados os restos mortais da Serva de Deus, que ficarão expostos para a visitação dos fiéis até domingo (20), Dia de São Sebastião.

De acordo com o arcebispo, no último dia 10 os restos mortais da criança, que morreu aos nove anos de idade, foram exumados para a abertura da pesquisa em torno da sua história e santidade. Dom Orani vai fazer a instalação do tribunal, no qual, em nível diocesano, serão nomeados todos aqueles que participarão dos trabalhos. Uma equipe de peritos e padres também será convidada para esse serviço. Essa é a primeira etapa do processo.

 “A instalação do Tribunal não será feita em uma celebração eucarística, mas sim em um ato jurídico”, disse Dom Orani, que explicou ainda que a necessidade de santificar a criança foi estudada devido ao grande “clamor” do povo que lhe era devoto. Conforme contou Dom Roberto Lopes, “Odetinha teve uma curta vida dedicada a Cristo, aos pobres e aos necessitados. Segundo o padre, ela era muito sensível e humana às necessidades dos outros e teria pedido ao pai que lhe fizesse uma aliança, pois ela – mesmo ainda pequena – estaria casada com Cristo”, afirmou.

Uma comissão da arquidiocese do Rio, formada por dom Orani Tempesta, dom Roberto Lopes, o teólogo italiano Paolo Vilotta, o cônego Marcos Willian, Dr. Ronaldo Frigini, além do delegado psicopal e uma comissão histórica, fazem parte das equipes de trabalho do processo de beatificação.

No dia 31 de outubro de 2012, a causa recebeu um documento chamado de Nihil obstat (nenhuma objeção, em latim) procedente do Vaticano, que autoriza os procedimentos formais para a beatificação e a canonização, transformando a garota em Serva de Deus, primeira nomeação dada aos candidatos à santificação do Vaticano.

Segundo relatou Dom Roberto, com sete anos de idade, Odette já tinha feito a Primeira Eucaristia e exercia a função precoce de catequista na Paróquia Imaculada Conceição, em Botafogo, local onde permanecerá o corpo da Serva de Deus até a beatificação. A Igreja, que fez parte da formação católica da menina, ficava ao lado de sua residência. Hoje no lugar da casa, na Praia de Botafogo, existe um famoso centro comercial.

Surpresa na abertura do túmulo

O teólogo Paolo Vilotta revelou que ao abrirem o túmulo da menina, localizado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, as autoridades se surpreenderam com o estado de conservação dos restos do corpo de Odetinha, em comparação a outros. Outra curiosidade foi o fato de encontrarem uma grande quantidade de moedas depositadas no túmulo como pagamento dos devotos às graças atendidas por Odette desde a sua morte, provocada por meningite e febre de tifóide, em 1939.

Nascida no bairro de Madureira, em 15 de setembro de 1930, Odette Vidal Oliveira era filha de Augusto Ferreira Cardoso e Alice Vidal, imigrantes portugueses vindos da região do Porto, ricos empresários do ramo de carnes que, ao longo da vida, estabeleceram fortes laços com a Igreja através de grandes doações e apoio. A garota, que estudou no colégio Sion, também morou com sua família nos bairros de Botafogo, Copacabana e Laranjeiras.

Processo de beatificação será longo

Não se sabe quanto tempo pode levar para comprovar a santidade de Odette, já que há uma série de etapas a cumprir no Brasil, na Arquidiocese do Rio e sua equipe, e em Roma, no Vaticano. “Para se ter uma ideia, ainda trabalhamos na comprovação dos casos do Padre José de Anchieta”, lembrou Dom Orani. Ao todo, hoje, há cerca de 60 brasileiros que estão em processo/pesquisa de beatificação e canonização no Brasil.

Primeiro, serão ouvidos no Rio de Janeiro fiéis que possam reproduzir depoimentos de pessoas que conheceram Odette para comprovar as onze virtudes necessárias, obtidas através de uma vida heroica e santa, como esperança, humildade, castidade e bondade. Após a captação e o armazenamento destes documentos, todo o material será enviado para Roma, para ser analisado e aprovado pelo Vaticano.

Só depois desta aprovação é que o trabalho retorna ao Brasil, aí sim, para se conseguir reportar os milagres concedidos pela popular “Santa Odetinha”, como é chamada por muitos. Para comprovar milagres, a comissão aguarda o apoio da população brasileira, para que procurem a arquidiocese e relatem as histórias. No entanto, é necessário ter provas documentais e comprovação científica/medicinal para a cura relevante de uma enfermidade, por exemplo. “Pacientes curados de câncer não estão mais sendo muito aceitos para servir como prova, pois, com o avanço da medicina, já há controvérsias quanto a isso”, afirmou Dom Roberto.