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Selarón descreveu em cartas ameaças de morte recebidas que o deprimiram  

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O pintor e ceramista chileno Jorge Selarón, de 65 anos, que na manhã desta quinta-feira (10) foi encontrado morto na escadaria da Lapa que o tornou famoso, escreveu duas cartas, em novembro do ano passado, relatando ameaças de morte que estaria recebendo por parte de Paolo.

Paulo Sérgio Rabello, o Paolo, ex-colaborador do artista, segundo consta é irmão do traficante Wilton Quintanilha Rebello – o Abelha, ex-chefe do tráfico do morro Santo Amaro, no Catete, atualmente preso por tráfico de drogas em uma penitenciária federal de segurança máxima. 

Em depoimento prestado nesta quinta-feira na Delegacia de Homicídio (DH), na Barra da Tijuca (Zona Oeste), o secretário de Selarón, César Augustin, afirmou que as ameaças feitas pelo ex-colaborador começaram quando um testamento escrito em 2007, onde Paolo foi classificado pelo próprio artista como seu herdeiro, foi anulado. As pressões, de acordo com o assessor, contribuíram para aumentar um quadro de depressão que já vinha abatendo o chileno.

"Acho que foi suicídio. Já vinha passando por um processo de depressão por conta das ameaças que vinha sofrendo. Ele não aguentou mais as pressões desse louco desequilibrado", disse Augustin. "Eu mesmo já havia sido agredido pelo Paulo. Me deu uma paulada nas costas em um dia que estava descendo a escadaria. A sorte é que atingiu a minha mochila", contou o argentino.

Nesta quinta-feira, uma reportagem do jornal O Globo, noticiava também as ameaças por parte do ex-colaborador o que, segundo vizinhos, contribuiu para aumentar um quadro de depressão que já vinha abatendo Selarón.

O corpo do artista foi encontrado na escadaria que o projetou, queimado, tendo ao lado uma lata de Tiner, solvente para tintas e vernizes, altamente inflamável, que ele usava no seu atelier de pintura. Trata-se de produto altamente inflamável.

Cartas com ameaças

As cartas escritas por Selarón foram entregues ao seu amigo Gemerson Dias, de 73 anos, que diz ter sido “nomeado” pelo artista como o fotógrafo oficial da escadaria. Elas foram escritas em novembro.

Em uma delas, datada do domingo 25 de novembro de 2012, ele diz ter dormido em um hotel “porque todos estes últimos dias tô sendo ameaçado de morte por Paolo”. Mais adiante, o artista expõe que Paolo “até hoje é herdero de meus bens. Acontece que ele pretende tomar conta das vendas de meus quadros. Eu fale que não, que isso aconteceria o dia da minha morte, ele não gosto e começo a ficar grosero e amenazo nos últimos 20 dias”. (sic)

Na véspera, como ele relata na carta, com a ajuda de dois amigos – “adbogado (Gemerson e Dr. Mário) tive que colocar uma denuncia na delegacia onde eu fui acompanhado de mia secretaria Dhandara”. (sic)

Na outra carta, da mesma data, Selarón volta a falar das ameaças, diz que a relatou a Igor (o melhor amigo dele) e que “este falo que ele está ficando maluco fazer isto com você, que o envio a Londres, Paris, Barcelona, Madri e quatro vezes a Buenos Aires, eu falarei com ele, fica calmo...” (sic)

Artista deprimido

Apesar das notícias sobre estas ameaças, a polícia não descarta a possibilidade de a morte ter sido provocada pela forte depressão que de Selarón, como atestaram moradores da escadaria e amigos do artista. 

Os amigos, sem se identificarem, atestam que ele já havia falado em se matar. Disseram ainda que, na manhã desta quinta-feira (10), a leitura da reportagem do jornal aumentou um quadro de depressão que já abatia o artista.

Giuseppina Del Corno, contou que na noite de quarta-feira encontrou Selarón sentado nas escadarias e o questionou sobre o que ocorria: "ele simplesmente começou a chorar", disse.

Ao mesmo tempo, porém, outras vizinhas o viram de manhã varrer a escadaria e uma terceira, de nacionalidade angolana, em depoimento aos jornalistas garantiu ter ouvido gritos de socorro vindos da escadaria pouco antes do corpo ser encontrado queimado.

Em sinal de luto, os vizinhos estenderam panos pretos nas sacadas das casas que ficam na escadaria que deu fama a Selarón. Foi ele quem ornamentou o local com azulejos pintados, tornando famosa a área e atraindo turistas, para os quais ele vendia seus quadros.

Na Delegacia de Homicídios (DH) as informações são de que todas as hipóteses sobre a morte estão sendo investigadas.Outras 4 pessoas haviam prestado depoimento na DH até as 16h30. O cônsul chileno não quis falar com a imprensa após o depoimento. Cesar,secretário de Selarón, disse que pediu ao consulado para que avisasse aos familiares do artista sobre o ocorrido. Um irmão e a sobrinha moram na capital chilena, Santiago, enquanto o filho se encontra hoje em Lima, no Peru.