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Em Xerém, moradores reclamam de saques a casas abandonadas 

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Após a enxurrada que varreu Xerém, distrito do município de Duque de Caxias, na quinta-feira (3), os moradores afetados ainda precisam se preocupar com os furtos que acontecem nas casas esvaziadas. Diversos populares relataram à equipe do Jornal do Brasil que, em meio ao cenário catastrófico da cidade, alguns se aproveitaram para saquear bens materiais. 

A Polícia Civil afirma não ter recebido nenhuma ocorrência desta natureza. Segundo um policial da 61ª DP, "só há um óbito e um desaparecimento confirmado oficialmente. O resto é tudo especulação". No entanto, os moradores se arriscavam na lama a locais de risco para evitar os roubos. 

Neste sábado (5), o clima na região era de desolação. Na paisagem rasgada pela violência do rio Capivari, muitas famílias tentavam salvar móveis, eletrodomésticos e o que ainda houvesse para resgatar em suas casas. A grande maioria da população estava sem energia elétrica e água, sem previsão para a retomada destes serviços. Caminhões-pipa rodavam por toda a região, seguidos por moradores munidos de baldes na mão.  

O prefeito Alexandre Cardoso estava nas ruas auxiliando na remoção da terra e do entulho. Segundo ele, o processo só pôde ser iniciado hoje após o fim da chuva e é complicado devido à grande quantidade material a ser retirado.

Botijões 

Residente no local há 35 anos, o auxiliar de limpeza Sebastião Melo, 53 anos, revelou que há poucos minutos havia flagrado - e evitado - que dois homens levassem cinco botijões de gás da casa de seu irmão, na rua José de Paula, devastada pela água. "Eles iam levar cinco botijões de gás aqui, já estavam com eles na mão", afirmou. 

Segundo ele, sua casa também está em risco de desabamento, mas continua indo ao local para evitar furtos. "Estamos dormindo na igreja, mas ficamos de dia em casa só para vigiar. Senão invadem e levam as nossas coisas", advertiu. 

Sebastião também relatou que muitas pessoas foram levadas pela água durante a enchente. Abalado, ele contou a história de um homem que era segurado pela esposa e pediu que ela o soltasse porque não haveria mais solução. "Muita gente desceu boiando. A moça tentou segurar o marido, mas ele disse: 'solta, eu vou morrer mesmo. Pode soltar'. E foi embora", lembrou. 

Ajuda maliciosa

O pastor Ézio, que em sua igreja montou um centro de apoio com assistência social, de saúde e entrega de doações, confirmou que muitos moradores relataram roubos na região. "Infelizmente, as pessoas aproveitam o sofrimento alheio e roubam mesmo. Falam que vão ajudar a tirar um ar condicionado, um computador e levam", afirmou o religioso. 

Ele destacou que há muitas casas que não foram afetadas pela água, mas que ficam em zonas de risco, como encostas de morros. Por isso, os moradores foram retirados destes locais pela Defesa Civil, o que pode facilitar o trabalho de criminosos. "A casa está intacta e todo mundo sabe disso. A Defesa Civil mandou todos procurarem abrigo na noite depois do acidente. Obviamente, as pessoas mal intencionadas também ouviram isso e podem querer saquear", disse, advertindo que esses relatos seriam referentes à primeira noite depois do acidente.

A casa do soldador Gustavo Oliveira Pedrosa também foi destruída. A terra no local era tanta que o tanque da área de serviço estava na altura do solo. "O tanque ficava no meu umbigo", alertou Gustavo. Ele contou que as paredes do quarto em que dormia com a esposa desabaram e, por sorte, um vizinho o chamou momentos antes da derrubada do imóvel. 

"A gente não sabe nem por onde começar. Consegui doações, mas saí só com a roupa do corpo. Perdi todos os documentos. A gente vê esse tipo de coisa na televisão, mas só vivendo para ver como é triste", desabafou. "Tinha acabado de reformar minha casa com o décimo terceiro salário e tinha abastecido a casa com compras também. Era tudo novo, me mudei há um ano. Pelo menos consegui sair com a minha família".

Segundo ele, ao retornar à casa após a chuva, dois homens estavam no local. "Quando viemos, vimos dois homens mexendo nas coisas da casa. Chamamos a polícia, que os enquadrou e eles foram embora",   . 

Um policial que não quis se identificar lamentou a situação. Segundo ele, os furtos realmente vêm acontecendo em residências evacuadas, mas é difícil controlar a entrada e a saída das pessoas. 

"Maldito é o homem"

O casal Márcio e Cirlene Hermes viu a encosta do morro que fica atrás de sua casa desabar violentamente no imóvel. O resultado foi a completa destruição da estrutura do quarto do casal. Segundo Cirlene, eles esperavam pela Defesa Civil para interditar a casa. Mas a preocupação com os saques era a mesma relatada por outros moradores:

"Estamos tentando nos adiantar e levar o que pudermos, porque se deixar alguma coisa aqui as pessoas levam. Só vi polícia agora, mas a hora que a gente sai de casa eles vêm. Em geral, é gente próxima", revelou.

Ela disse ter visto vizinhos tentando levar o que pudessem da casa. "Maldito é o homem que confia no homem", disparou.